"Inverse Parent Bullying": o termo ainda não tem entradas no Google, mas é bem possível que isso mude muito em breve. A tendência está a tornar-se uma realidade incontornável, um pouco por todo o mundo ocidental: filhos que humilham os pais publicamente e os deixam desprotegidos e desorientados.
Sempre que pensamos em “bullying”, imaginamos escolas, onde crianças ou adolescentes gozam e humilham um colega seu – a vitima – até níveis socialmente inaceitáveis, quando não mesmo com agressões físicas, que violentam os mais elementares direitos de segurança e de liberdade. Infelizmente, o fenómeno vai crescendo e criando mutações, como um vírus. Primeiro o “cyberbullying” e, mais recentemente, o “parent bullying”, em que os agressores são os próprios pais e as vítimas os filhos. Esta é a mais perigosa de todas as formas de “bullying” por razões evidentes: aqueles que devem zelar pela segurança das suas crianças são os próprios agressores, sendo mais difícil de detectar o problema e proteger as vítimas. Sobretudo porque muitos dos casos não são verdadeiramente extremistas e há uma barreira ténue e cinzenta que delimita o fim de uma educação severa e o princípio do “bullying”.
A nova mutação do fenómeno é a inversão do “parent bullying”: quando os filhos são os “bullies” e os pais as vítimas. Desde logo, há que separar duas ramificações deste comportamento: os casos mais extremistas e consistentes – felizmente raros - e os passageiros, mais frequentes e quase sempre no epicentro da adolescência: entre os 14 e os 16 anos. É evidente que esta é uma matéria altamente correlacionada com a educação e com a relação entre pais e filhos.
A democratização digital colocou os adolescentes permanentemente conectados entre si, em alguns casos com prejuízo para a relação familiar. Este é uma das primeiras lições: é tão errado um extremo como outro. Pais atentos e actualizados procurarão que os seus filhos estejam simultaneamente bem inseridos socialmente na escola, sem prejuízo da sua própria relação intrafamiliar. Este desafio exige equilíbrio e bom senso, sobretudo em famílias menos estruturadas – há maior incidência deste tipo de “bullying” de filhos em famílias monoparentais ou de pais separados.
Vídeos troça
Falei esta semana com uma mãe, que tem, tendencialmente, uma boa e equilibrada relação com a filha de 15 anos, que foi filmada por esta com um “smartphone” quando a repreendia. Mais tarde, a filha partilhou o vídeo com os amigos numa atitude de troça. Uma brincadeira que merece um alerta: se não for travada e os amigos acharem piada, há o risco de continuar este tipo de atitudes que tendem a agravar-se, sempre à procura de reconhecimento social no seio dos amigos. Um pai de outra rapariga – de 14 anos – mostrou-se totalmente desorientado quando explicava que a filha mudou radicalmente, que não o respeita e que o desafia publicamente, instigando-o mesmo a dar-lhe um estalo em público se não concordar com o seu desejo mais imediato. “Para isto, fico em casa da mãe” – costuma dizer, ameaçando o pai, com a aparente concordância da mãe.
É importante conhecer a problemática e evitá-la, o que é sempre mais fácil quando os pais têm uma relação saudável na procura da melhor educação para os filhos. No entanto, a solução mais consistente parte de uma educação equilibrada desde crianças e um acompanhamento atento na puberdade. Procurar solucionar a falta dessa educação consistente já só na adolescência pode ser difícil e doloroso para todos.
Não importa que mundo deixamos aos nossos filhos, mas que filhos deixamos ao nosso mundo.