E a moda portuguesa safa-se na internet?

Será que daqui a uns 10 ou 15 anos fará sentido ao Portugal Fashion levar criadores portugueses a desfiles internacionais sem agir na promoção e vinculação de filmes de moda nacionais nas publicações online internacionais? .

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Mainstream/Flickr

Esta semana inicia-se em Portugal um festival dedicado a um novo género audiovisual que tem vindo a gerar uma mudança de paradigma na forma de comunicar a Moda e, por isso, é uma boa oportunidade para falar sobre como o vídeo se impõe também neste setor.

Na verdade, este nosso início de século tem-nos mostrado um movimento constante de transformações, mudando vários paradigmas, quer na informação, quer na distribuição de conteúdos, gerados através dessa impactante realidade do digital online.

Quando até já há vaticínios sobre a data do fim do papel na comunicação, a Moda, que tem este suporte, o da imagem fotográfica impressa (revistas, catálogos, etc), como o veículo principal para promover os seus produtos – e acima de tudo, para transmitir os valores, desejos e fantasias a eles associados - enfrenta essa nova realidade onde a imagem em movimento impera. E, constata afinal, que esta é uma ferramenta capaz de gerar muito mais envolvimento e sentimento de pertença com as marcas, ou com o seu imaginário, ajudando o espetador a mais facilmente memorizar e a aderir ao seu universo simbólico. E mais importante ainda, conseguir essa pedra de toque da comunicação atual, a facilidade de partilha do conteúdo.

No fundo, foi a simples constatação das grandes marcas internacionais de que as realidades comunicativas do nosso tempo são, já quase maioritariamente, estabelecidas pelas redes sociais digitais. Ou seja, a maior parte do seu público alvo já assumia novos modos de receção de informação e de bens culturais, e por isso necessitaram de se adaptar a eles com novos formatos adequados às especificidades desses meios e às motivações dos consumidores neles formados.

Conhecidos lá fora como “fashion films”, estes são um fenómeno já plenamente estabelecido por esta indústria, produzindo-se já bem mais de 10.000 filmes por ano em todo o mundo. Basta pensar nestes curtos filmes de moda como uma espécie de transposição das produções fotográficas de moda para o vídeo. Mas imaginando toda a dimensão que esta mudança significa. Por exemplo, se a representação da moda se baseia numa conceção moldada por anos e anos de prática fotográfica em que uma modelo faz poses para uma câmara, no entanto, a linguagem audiovisual é de uma outra natureza em que não faz sentido nenhum um corpo bem vestido a olhar e a posar para a câmara, ainda que sedutoramente. Isso é agora apenas frieza e pobreza interpretativa.

No entanto, mesmo lá fora, tal como nos primórdios do cinema se filmava o palco do teatro, os iniciados neste género ainda adotam no vídeo essa velha forma de representar a moda. Apesar de os

grandes prémios

internacionais destes filmes e os que geram mais visualizações já revelarem outras representações, como a

beleza dos vestidos

 em

Autumn/Winter 2010" href="https://www.youtube.com/watch?v=C6MEA4ds7Fw&feature=youtu.be" target="_blank">movimento lento, a performance, a expressão corporal, mas sobretudo, a roupa vestida por gente normal em situações da vida real, embora ficcionada ou não. Os exemplos são já incontáveis.

Princípios de "storytelling"

Falar de filmes de moda é também entender o modo como os próprios desfiles estão a dar sinais de transformação. Na realidade, grande parte deles, pelos menos os das grandes marcas internacionais, são já vistos por muita mais gente nas transmissões em "streaming", e por vezes, milhares de vezes mais, posteriormente no youtube. Não será de estranhar que este meio comece a operar mudanças na forma e na conceção dos desfiles, e estes a adaptarem-se à

performance

, às

Spring Summer 2014 Full Fashion Show

Exclusive" href="http://youtu.be/cnvNJkWYFhM" target="_blank">exibições avant-garde, ou a ser uma surpreendente instalação artística. Mas o mais interessante é observar que eles começam também a obedecer a princípios de "storytelling" e filmados com movimentos de câmara em grua e já não com planos estáticos. E se tiverem dúvidas, reparem no universo “timburtiano” deste desfile da Dolce & Gabbana e agora confirmem aqui o porquê da sua conceção.

Contudo, uma pergunta se impõe: e a moda portuguesa safa-se na internet? Como sabem, o fenómeno dos blogues de moda antecedeu tudo isto. Mas insisto: Será que daqui a uns 10 ou 15 anos (ou menos) fará sentido ao Portugal Fashion levar criadores portugueses a desfiles internacionais sem agir na promoção e vinculação de filmes de moda nacionais nas publicações online internacionais? "Read my lips: no!".