A crescente importância que o vídeo está a ganhar na indústria musical é uma realidade incontornável. Quem olhar atentamente para os recentes relatos do setor facilmente constata que o outrora vilipendiado formato audiovisual imergiu em força, e surpreendentemente, ainda mais categórico nesta era digital da comunicação nómada.
O conhecido e suposto “assassino” vinga até numa improvável luta contra os vilões de serviço da música digital. Com esta imagem fílmica que acabo de criar espero apenas alertar o leitor para possíveis notícias futuras, e quiçá chocantes, como por exemplo: “Video killed again”, ou “Video killed once more”. Ou porventura ainda mais elucidativa e parangona, “VIDEO KILLED THE ILLEGAL STAR”.
Conviria, antes de falar em mais crimes, abonar em defesa deste mal afamado formato, e citar o testemunho de um académico português dedicado ao estudo do fenómeno: “Complemento supérfluo e desnecessário, veículo de promoção ou ferramenta de 'marketing', invenção da MTV, presumível suspeito do assassínio de uma estrela radiofónica cujo cadáver jamais foi encontrado e, mais grave ainda, objecto artístico – de tudo um pouco já foi acusado o formato audiovisual com as costas mais largas desde a invenção da televisão”.
A arma que veio do oriente
Largamente noticiado, este ano o nosso “anti-herói” muito usou de uma arma de fabrico oriental. Com ela apanhou o Youtube em cheio, deixando-lhe cravada a marca de “vídeo mais visto de sempre”.
No entanto, este marco apenas revela um dos seus últimos feitos, mas uma pesquisa mais apurada permitiria ao leitor verificar que, dos 30 vídeos mais vistos de sempre, 28 são videoclipes.
Julgo que já devem ter constatado também que a referência de aferição para o sector já praticamente deixou de ser o número de discos vendidos, mas sim, a quantidade de visualizações. Ou seja, este nosso herói, o videoclipe, está-se a tornar na forma mais eficaz de comunicação e difusão do produto musical nos meios digitais, mas mais importante, num modo de quantificação da popularidade de um tema musical, ou mesmo de um projeto musical.
A arma da partilha
Não havendo aqui espaço para abordar todos os estudos publicados desde há dois anos, para se ter uma visão completa, limito-me a destacar o mais recente e contundente, o qual aponta que, apesar de a rádio continuar a ser relevante na descoberta de música, quase 2/3 dos jovens dizem já OUVIR mais música no Youtube do que em outras fontes.
Um velho e previsível comportamento humano explicaria estes números e a tendência crescente a favor do videoclipe, mas eu exponho-o deste modo:
- Porque se haveria de pagar, ou perder tempo, para colher unidades de música quando a experiência posterior não é tão rica como a que contém imagem em movimento? Sendo esta gratuita e de muito mais fácil acesso ou pesquisa?
Contudo, existe algo mais incompreensível para um graúdo habituado a uma escuta individual dessas unidades, mas para o qual um adolescente (nativo digital) ripostaria com esta questão ainda mais desarmante:
- Qual é o sentido de andar sozinho a ouvir música se não a podermos partilhar no momento? Por muito simplória ou absurda que vos possa parecer esta última questão, no entanto, ela encerra todo um programa de entendimento para quem quiser perceber o enredo intrincado deste filme bem real.
A arma secreta chamada "mobile"
Uma coisa é pelo menos percetível, a tendência mais visível deste género audiovisual vai no sentido de uma transformação interior do nosso bravo herói. O velho conceito ilustrativo da banda a interpretar um tema com apenas uma bonita imagem e uma boa montagem já não é suficiente para sobreviver às novas regras do mundo digital.
No universo do videoclipe nota-se que este está a ficar mais significativo e menos ilustrativo. Quero dizer que um videoclipe hoje tem necessidade de gerar forte empatia em quem o vê, tem de o tocar emocionalmente de modo a favorecer a partilha. No fundo, um videoclipe tem de dizer algo, mas tem sobretudo de surpreender, porque quem o vê já não o contempla passivamente como na TV, é agora um elemento ativo na sua difusão.
Claro que muito mais haveria a explicar sobre esta psicologia emocional do nosso herói, mas no espaço que me resta, apenas há lugar para apontar a direção capitular desta contagiante história. Destaco então uma que, apesar de não ser um quadro completo das pistas mais importantes, refere que os utilizadores de tablets vêm 3 vezes mais vídeos que os de smartphones e 1 em cada 4 paga para ver.
P.S.: Felicito o P3 por ter em conta toda esta realidade e apostar numa galeria dedicada ao muito nosso tenaz herói. O de nacionalidade portuguesa.