A publicidade real

Há no YouTube um vídeo, filmado num centro comercial do Dubai, onde um namorado pede a namorada em casamento. Inocente?

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DR

Procurar "proposed marriage guitar" no YouTube leva-nos a um inocente vídeo amador, filmado num centro comercial do Dubai, onde um namorado, com a cumplicidade de um microfone e alguns músicos, e diante da multidão, pede a namorada em casamento.

O pedido talvez tenha sido menos do que convincente, pois a reação da namorada é, com poucas cerimónias, arrancar um cavaquinho das mãos de um dos músicos, desfazê-lo na cabeça do infeliz namorado e ir-se embora sozinha, perante o silêncio embaraçado de toda a gente.

O vídeo tem o número de visualizações adequado ao ridículo espontâneo da situação, mas alguns espectadores acharam estranho que a meio do pedido passasse um comboio turístico com publicidade a um novo chocolate da Cadbury’s.

Confirmou-se, assim, agora que o tal vídeo de ridículo e espontâneo nada tem, mas é apenas mais um vídeo viral daquela empresa britânica para promover um novo chocolate preto menos açucarado, direcionado a um público feminino.

A estratégia não é nova. No ano passado, uma campanha em busca da “Diana”, pela qual se teria apaixonado um “Ricardo” numa manifestação anti-governamental tornou-se muito popular até se descobrir que não passava de uma campanha publicitária de uma marca de perfumes. E ainda antes disso, umas “rearview girls” colocaram uma câmara no bolso de trás das calças para apanharem vários homens a olharem-lhes para o traseiro, que por acaso estava vestido por uma conhecida marca de calças de ganga.

A publicidade sempre viveu de vender sonhos associados a produtos: a estratégia de relacionar um qualquer produto — um detergente, um perfume, um computador — a uma aspiração actual — uma família feliz, uma paixão amorosa, sucesso profissional — não mudou assim tanto. O que mudou foi que agora esses sonhos já não nos são apresentados num mundo de sonhos, mas na própria realidade, usando formas de arte como a performance e a fotografia, o vídeo, mais os novos meios de comunicação, para nos fazer acreditar que esses sonhos também são possíveis na realidade — especialmente se comprarmos o chocolate, o perfume ou a marca que aparece discretamente nas imagens.

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