O velho gin Gordon’s presta ou não presta? Ambas as respostas estão correctas

Continua a ser o gin mais vendido do mundo, mas, porque há tantos gins bons, às vezes esquecemo-nos dele.

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Edgar Su/Reuters

Há tantos gins bons que é fácil esquecer o gin Gordon’s. Continua a ser o gin mais vendido do mundo, embora se deva reparar que só parte é que é destilada no Reino Unido, sendo as versões locais (como a dos EUA) consideravelmente diferentes (leia-se piores) da britânica.

Em Portugal o Gordon’s é o gin britânico mais barato. Olhando para os preços da Garrafeira Nacional, o Gordon’s custa 10,90€, o Bombay 11,90€, o Greenall’s 12,50€, o Beefeater 14,50€ e o Tanqueray 15,90€. Vale a pena procurar noutros vendedores porque há quase sempre um destes gins em promoção, a preços mais baratos do que estes.

Tanto o Gordon’s como o Tanqueray são feitos pela mesma destilaria (Cameronbridge Distillery, em Fife, na Escócia) conforme receitas escritas e vigiadas pelo melhor mestre-destilador de todos os tempos, Tom Nichol. Tom Nichol resolveu reformar-se há dois anos, quando fez 60 anos, mas já assinou dois gins artesanais: o Christopher Wren para a destilaria City of London e o Midwestern Dry Gin para a J.Reiger do Kansas, nos Estados Unidos.

Tom Nichol também foi autor do gin que muitos consideram o melhor de todos (o Tanqueray Ten de 2000), do Tanqueray Rangpur (em produção contínua) e das recriações do Tanqueray Old Tom, Tanqueray Malacca, Tanqueray Bloomsbury (edições únicas). Foi também responsável pela vodka Tanqueray Sterling, altamente recomendável como base de “ginfusões” caseiras. Não sei se foi ele que criou o Tanqueray Flor de Sevilla mas desconfio que não.

Essa é a primeira coisa a dizer sobre o Gordon’s: é um gin feito por Tom Nichol na destilaria que ele conhece parafuso a parafuso. Não pode, por isso, ser mau. É, no mínimo, um bom gin.

Então porque é que não presta? Aqui temos de falar noutras considerações. Em primeiro lugar, a graduação alcoólica é de 37,5 graus. A receita original foi feita para 47 graus mas foi revista para os 40 graus.

Só tem 37,5 graus para fugir aos impostos, já que pagariam bastante mais se tivessem 40. É por isso que se deve fugir das bebidas destiladas com menos de 40 graus (com excepção possível das tequilas 100% agave):  foram todas concebidas para ter 40 graus.

Não é só uma questão de ter mais água e menos gin. Se assim fosse bastaria deitar menos água tónica para reequilibrar.

O problema é que todos os gins destes preços são misturados com enormes quantidades de álcool neutro. Para cada litro de gin destilado pode haver 40 litros de álcool etílico. O gin destilado serve para temperar o álcool e como tal uma diferença de 2,5 graus acaba por ser catastrófica.

O gin Gordon’s de 37,5 graus afoga o gin em álcool e água. É por isso uma falsa economia. Há-de reparar-se que os gins concorrentes têm pelo menos 40 graus. O Bombay tem 40 graus e agora é feito na mesma destilaria em Laverstoke Hill que faz o Bombay Sapphire, o Star of Bombay e o Bombay Sapphire East. Vale um euro de diferença, embora o gin também seja apagadinho.

O melhor gin de 40 graus é o Beefeater e quem gosta de muito zimbro tem o Tanqueray, que tem pelo menos 43 graus.

Mas a conversa ainda não acabou. Em Portugal é possível encontrar o Gordon’s de exportação que tem 47,3 graus e é vendido em garrafas PET de um litro por um preço muito simpático. Cuidado, porque também há garrafas PET de litro da Gordon’s com 37,5 graus.

O Gordon’s a 47,3 graus é o gin tal qual foi concebido por Tom Nichol. Os melhores trabalhos dele situam-se sempre entre os 43 e os 48 graus.

É aí que um London Dry Gin, seja destilado na Escócia, Holanda, nos EUA, na Austrália ou em Londres, encontra a expressão mais feliz.

É uma questão de aritmética: o Gordon’s de 47,3 sabe a Gordon’s gin porque tem muito menos água e alcool etílico. Agora tudo dependerá da diluição posterior que cada um decidirá fazer. A decisão é nossa e não do destilador — que é como deve ser.

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