Estudo: 34,5% dos universitários são vítimas de “stalking”
Estudo da Universidade do Minho concluiu ainda que a maioria das vítimas de assédio persistente experienciou "muito medo"
Um inquérito online feito a 3.367 universitários portugueses conclui que 34,5% dos inquiridos foi vítima de ‘stalking’ (assédio persistente) e a maioria das vítimas experienciou “muito medo”, revela o estudo da Universidade do Minho.
“Temos uma prevalência de assédio persistente em 34,5% vítimas autodefinidas, e 8,9% de perpetradores de assédio persistente", adiantou à Lusa a psicóloga Helena Grangeia, à margem do V Congresso Internacional da Sociedade Portuguesa de Psiquiatria e Psicologia da Justiça, que está a decorrer no Porto.
‘Stalking’ é uma faceta específica da violência interpessoal, que até há pouco tempo não era reconhecida em Portugal. Trata-se de um padrão de comportamentos de perseguição e de assédio persistente, podendo estar contemplado neste padrão formas diversas de comunicação, contacto, vigilância ou monotorização de uma pessoa alvo.
Segundo a investigadora, as formas de perseguição e de assédio podem consistir em actividades rotineiras, como por exemplo chamadas telefónicas não desejadas, mensagens via telemóvel, cortejamento romântico como oferecer um ramo de flores, mas também podem haver acções intimidatórias, como ameaças directas ao alvo.
Ansiedade, alerta, depressão...
Os sintomas das vítimas de ‘stalking’ passam por sentir ansiedade, pois estão em constante estado de alerta, depressão, quebras de rendimento no trabalho e alteração de estilo de vida, evitando sair à noite sozinha, por exemplo.
O inquérito realizado em 2009 pela Universidade do Minho indica ainda que entre os universitários vítimas de assédio persistente, “65,4%” referiram experienciaram “algum medo” ou “muito medo”, ou seja, para a maior parte destas pessoas foi uma experiência significativa, pois foram perseguidas e assediadas de uma forma persistente.
De total de estudantes vítimas de ‘stalking’, 15,2% dizem que foi uma experiência “normal” e que acontece no quotidiano, ou seja legitimam esta experiência de assédio persistente. O estudo refere também que 50,5% das vítimas referiram que o ‘stalking’ é algo de “errado”, mas que não é “nada grave”. Um número residual dos inquiridos admitiu que o assédio persistente é um crime, mesmo havendo ameaças e violência em muitos casos, um facto “preocupante”, na opinião da investigadora.
Helena Grangeira recorda que em Portugal “não há uma legislação específica sobre ‘stalking’ e alerta para a necessidade de se intervir com “campanhas de sensibilização”. No V Congresso Internacional da Sociedade Portuguesa de Psiquiatria e Psicologia da Justiça vão discutir-se, entre outros temas, a intervenção psicológica em vítimas de violência em casais do mesmo sexo ou a avaliação do risco de jovens delinquentes.