“Ciberstalking”: elas eram as melhores amigas

Paula pôs o carro de Filipa à venda na net, criou sites difamatórios, tentou que toda a gente ficasse contra a ex-melhor amiga. Foram dois anos de perseguição

Todos os dias, Filipa via os sites, lia todos os comentários, mas nunca reagiu Luís Octávio Costa
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Todos os dias, Filipa via os sites, lia todos os comentários, mas nunca reagiu Luís Octávio Costa
Todos os dias, Filipa via os sites, lia todos os comentários, mas nunca reagiu Luís Octávio Costa
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Todos os dias, Filipa via os sites, lia todos os comentários, mas nunca reagiu Luís Octávio Costa
O ciberstalking pressupõe recurso à internet ou a outros meios electrónicos como o telemóvel Luís Octávio Costa
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O ciberstalking pressupõe recurso à internet ou a outros meios electrónicos como o telemóvel Luís Octávio Costa
O ciberstalking pressupõe recurso à internet ou a outros meios electrónicos como o telemóvel Luís Octávio Costa
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O ciberstalking pressupõe recurso à internet ou a outros meios electrónicos como o telemóvel Luís Octávio Costa

Foram as melhores amigas durante um ano. Trocavam confidências, conversavam a toda a hora, tornaram-se verdadeiramente inseparáveis. Até que tudo mudou. Paula começou a ter comportamentos estranhos. As crises de ciúmes eram constantes. Não queria que Filipa (nomes fictícios) saísse com outras pessoas, nem mesmo com o namorado. Quase a obrigava a estar só com ela.

"Ela queria ser a única pessoa da minha vida", conta Filipa, quatro anos depois.

Durante muito tempo desvalorizou aqueles comportamentos. Ela sempre fora um "anjo", uma pessoa "muito cativante", nunca lhe dera razões de desconfiança. Tentou realmente não sair tanto com outros amigos, tentou "não a magoar". Até que a situação começou a ficar "doentia". Filipa percebeu que tinha de confrontar Paula, mas a conversa não correu como esperava. "Ela passou-se e começou a fazer-me mal a partir daí."

Dois anos de "ciberstalking"

Durante dois anos, Filipa foi alvo de "ciberstalking", fenómeno recente de assédio persistente, uma vez que envolve o recurso à internet ou outros meios electrónicos como o telemóvel.

Paula pôs em prática uma verdadeira campanha de difamação "online". Criou um blogue, onde Filipa era acusada de plágio; abriu um outro, em que publicava fotografias pessoais da amiga alteradas ("punha-me com os dentes podres, por exemplo"). A dada altura, Filipa começou a receber chamadas de pessoas interessadas em comprar o seu carro. Depressa percebeu que Paula criara anúncios em vários sites de vendas.

Aquelas fotografias que Filipa partilhava com Paula por piada (e com as devidas observações - "estou horrível nesta!") foram parar a um perfil na rede social Hi5, tal como o seu número de telefone e o endereço de e-mail.

Filipa, ao contrário de Raquel que apresentou queixa do agressor à polícia, não reagia. Todos os dias ia aos vários sites, lia todos os comentários, andava "sempre a ver". "Também fiquei maluca." Não a tentou abordar ou confrontar. "Se respondesse, ainda iria ser pior. Também nunca percebi o que poderia ajudar e acho que, no fundo, pensei que conseguiria tratar do assunto sozinha."

"Tentou pôr toda a gente contra mim"

Chegou a pensar ir à polícia. Falou com a mãe, mas não lhe contou "nem metade". Começou a ter medo de encontrar a casa em chamas. "Podia ser tudo da minha cabeça, mas ela dizia coisas muito más." Um amigo tentou defendê-la. Como resposta, Paula organizou "uma esperinha" com outras pessoas. "Acho que lhe partiram os óculos", diz Filipa.

Mais tarde houve uma mudança de estratégia. "Quando ela percebeu que o que me afectava realmente eram as pessoas que me rodeavam, decidiu ir por aí. Ligava-lhes e dizia coisas sobre mim, coisas que não faziam sentido." Filipa viu vários amigos a voltarem-lhe as costas. "Tentou pôr toda a gente contra mim."

Um dia, mandou-lhe uma mensagem escrita. "O que é que eu te fiz?", perguntava. A resposta não tardou: "Tu não sabes o que me fizeste?!" Ainda hoje ela procura uma resposta. "Acho que é mesmo injusto."

Há dois anos, recebeu uma nova mensagem escrita de Paula. Pedia-lhe desculpas. Podiam ser amigas outra vez? "Fiquei toda a tremer", conta Filipa. Paula chegou a insistir para saírem, mas depois levou a resposta a mal. "Eu disse que não. Não conseguia [estar com ela] porque realmente acho que tenho medo." Perdoou-a, sim, mas amigas nunca mais.

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