Cristas ignora PSD e diz estar “um passo à frente”
Vendo "mais razões" para ir sozinha a eleições, a líder do CDS propõe ao congresso manter a estratégia. E dirá a Rio que não tem qualquer expectativa em "consensos" com Costa.
É uma moção com 17 curtas páginas, sem alteração de estratégia, só com duas referências ao PSD - e com um título para ler nas entrelinhas: “Um passo à frente”. Assunção Cristas vai a votos no congresso do CDS com um texto onde não explicita de quem vai “um passo à frente”, mas não é difícil de perceber, lendo o texto, que é da nova liderança do PSD.
“Queremos apresentar-nos como o partido que representa a alternativa ao Governo das esquerdas unidas”, escreve a líder centrista, garantindo ter “o programa mais sólido e fundamentado, com os melhores protagonistas”. Dizendo ver ainda "mais razões" para o CDS ir sozinho a votos nas regionais da Madeira, europeias e legislativas, Cristas aponta a “um crescimento permanente” do partido, desafiando os militantes a dizer aos portugueses que “‘o vocês nunca lá chegam’ está a passar à história, que o voto útil acabou, que o voto de cada um é cada vez mais livre.”
Rui Rio terá, assim, que contar com um CDS a posicionar-se como a sua líder se posicionou em Lisboa: a procurar um resultado histórico, à procurar votos em todo o espaço “não socialista”. E apostado a mostrar-se como a mais firme oposição ao Governo de esquerda - uma diferença clara face ao procurar de consensos com que Rui Rio se apresentou na sua primeira semana de liderança. O título da moção (“Um passo à frente”) também se pode justificar por aqui: “Em nenhum assunto nos furtámos ao debate e à apresentação de propostas alternativas, pelo contrário”, diz Cristas, “mas o PS optou pela “rejeição sistemática desses contributos”.
Quando receber Rui Rio para um almoço no Largo do Caldas, na quinta-feira, Cristas dirá, assim, que tem a mesma disponibilidade de sempre para discutir propostas - mas só no âmbito do Parlamento e sem qualquer expectativa de que Costa realmente esteja disponível para eles, apurou o PÚBLICO.
Neste ano e meio até às legislativas, assim sendo, o CDS estará do outro lado, explica Cristas. Porque este é “ficou claríssimo que PCP e BE cederiam em tudo o que fosse necessário para manter a governação do PS”. Porque o CDS apresentou “até agora a única Moção de Censura apresentada ao Governo das esquerdas unidas”. Porque em Lisboa conseguiu “20,57%, retirando a maioria absoluta do PS”.
Mas um passo à frente, também, pelo “trabalho profundo feito pelo Gabinete de Estudos”. Não está lá escrito, mas se Rui Rio diz que “depressa e bem, há pouco quem”, a líder do CDS sublinha que tem dois anos de propostas trabalhadas e já conhecidas. Em muitas áreas: a questão demográfica, território e floresta, Segurança Social (“propusemos ao Parlamento um início de debate muito sério e sólido”), educação, saúde, segurança, regulação financeira, Justiça, promoção do investimento e na dinamização da nossa economia.
Ao partido, que se reúne em Lamego a meio de Março, Assunção Cristas pede um esforço contínuo, desde logo de proximidade. E também de abertura, para poder crescer: “Queremos um CDS que já não é visto como partido dos ricos, dos patrões ou dos quadros, mas é o partido de todos”. E de abertura, também, para acolher gente nova, propondo uma “militância digital” - sem vínculo a concelhias ou distritais, mais virada para a presença nas redes sociais.
Em 2019, conclui Cristas, o CDS apresenta-se como “alternativa de centro direita ao Governo das esquerdas unidas”. Lembrando que as regras do jogo mudaram: “Ganha quem conseguir reunir um apoio parlamentar de 116 deputados. Tudo faremos para dar uma sólida contribuição para que o centro direita possa atingir esse número e, após as eleições, entender-se para governar.”