Sem a ajuda do PCP, Rui Rio não tem salvação
Não me recordo de um líder recém-eleito ter sofrido o nível de acinte e desgaste com que Rio se está a debater ainda antes de chegar ao congresso.
Anda toda a gente entretida a tentar adivinhar a equipa que Rui Rio vai propor no congresso deste fim-de-semana, mais os futuros presidente e vice-presidentes da bancada parlamentar do PSD, mas o homem que mais pode contribuir para que Rui Rio tenha um futuro político relevante à frente do partido nem sequer foi convidado para estar no Centro de Congressos de Lisboa. Chama-se Jerónimo de Sousa e, na ausência manifesta do diabo, é o único que pode salvar Rio de uma muito desgraçada e muito curta carreira como líder do PSD.
É uma verdade indesmentível, como escrevia Ana Sá Lopes há dias no jornal i, que “o pior cargo do país é o de líder de oposição”. Ainda assim, não me recordo de um líder recém-eleito ter sofrido o nível de acinte e desgaste com que Rio se está a debater ainda antes de chegar ao congresso. Nem António José Seguro levou tanta pancada nas primeiras semanas. Da violentíssima carta-reprimenda de Miguel Pinto Luz à péssima gestão da futura liderança parlamentar, passando por bateres de porta estrondosos como o de Carlos Abreu Amorim, Rui Rio chega ao congresso debaixo de um fogo inaudito por parte dos seus camaradas de partido. Está a cheirar-lhes a líder fraco, não porque Rui Rio não tenha características pessoais para ser um líder forte – aliás, a gestão do silêncio com que tem andado entretido cheira a cavaquismo por todos os lados –, mas porque o tempo que tem para se afirmar como alternativa é ridiculamente curto.
Rio vai assumir a liderança efectiva do PSD este fim-de-semana, quando falta pouco mais de ano e meio para as eleições legislativas. Com o país a crescer 2,7%, com o primeiro-ministro a celebrar o “maior crescimento da economia portuguesa em 17 anos”, com o desemprego a baixar para próximo dos 8%, com o défice controlado, e com folga nos cofres do Estado para um orçamento razoavelmente eleitoralista em 2019, que espaço de manobra tem Rui Rio para se conseguir afirmar como alternativa a António Costa? Quase nenhum. Nada indica que a economia mundial afunde no próximo ano e meio, certamente não vão morrer mais 112 pessoas no Verão, e embora o papel do Estado se deteriore a olhos vistos graças à política cega de cativações, não se está a deteriorar à velocidade que Rio precisaria para convencer o eleitorado a substituir o António Costa cor-de-rosa pelo António Costa cor-de-laranja.
Que esperanças lhe sobram, então? Só vejo uma: a extrema-esquerda de 2018 voltar a parecer-se com a extrema-esquerda de 2012, com o PCP a pôr gente na rua, dando novamente corda a Mário Nogueira e a Arménio Carlos, atirando-se à lei laboral, acusando António Costa de intimidade excessiva com o grande capital. Somente se Bloco e PCP tentarem arrastar o PS para junto de si é que se pode abrir algum espaço ao centro para o PSD crescer – e é nesse sentido que Jerónimo de Sousa é muito mais importante para Rui Rio do que Nuno Morais Sarmento, Fernando Negrão ou Salvador Malheiro.
Infelizmente para Rio, mesmo isso me parece cada vez mais improvável. O Bloco e o PCP vão rosnar até 2019, com certeza, mas não acredito que cheguem a morder – a melhoria da economia torna pouco compensador o risco de se afastarem do governo em vésperas de eleições, permitindo ao PS celebrar sozinho a alegada recuperação do país. A vida está dura para os lados da São Caetano à Lapa. Se uns têm estados de graça, Rui Rio corre o sério risco de passar o próximo ano e meio em absoluto estado de desgraça.