Envelhecimento coloca pressão acrescida ao mercado de trabalho
OIT desafia os governos a desenharem políticas que abarquem o sistema de pensões, a política de rendimentos e a formação ao longo da vida
O envelhecimento da população é um dos principais desafios que se colocam aos países da Europa e da Ásia Oriental e traz uma pressão acrescida ao mercado de trabalho. O alerta é deixado pela Organização Internacional do Trabalho (OIT) no relatório sobre as tendências do emprego em 2018, divulgado nesta segunda-feira.
“Além do desafio que o crescente número de aposentados traz aos sistemas de pensões, uma força de trabalho cada vez mais envelhecida também terá um impacto directo no mercado de trabalho, diminuindo a produtividade e a capacidade de ajustamento aos choques económicos”, alerta o economista da OIT, Sangheon Lee.
Nos países desenvolvidos, onde o envelhecimento é consideravelmente mais rápido, estima-se que, em 2030, haverá cerca de cinco pessoas com 65 ou mais anos para cada dez pessoas empregadas. Ao mesmo tempo, nota a OIT, a idade média da população activa aumentará, colocando os próprios trabalhadores sob pressão para conseguirem acompanhar o ritmo de inovação e as mudanças estruturais no mercado laboral.
Mas o envelhecimento da população também conduzirá a uma alteração dos padrões de consumo, criando oportunidades de emprego no sector da prestação de cuidados aos mais idosos.
Para responder a estes desafios, os governos terão de desenhar um conjunto de políticas que abarquem o sistema de pensões, a política de rendimentos, o sistema de protecção social e a formação ao longo da vida.
No relatório, a OIT conclui ainda que o sector dos serviços será o principal motor do crescimento do emprego no futuro, enquanto na agricultura e na indústria o emprego tenderá a diminuir.
Numa primeira abordagem, esta mudança poderá ter efeitos positivos, dado que na agricultura predomina a informalidade. Porém, as mudanças serão limitadas, devido à prevalência do emprego informal e vulnerável em algumas áreas do sector dos serviços. Em alguns países em desenvolvimento, exemplifica a OIT, a taxa de informalidade na área do alojamento e restauração é mais elevada do que na agricultura.
A organização pede que haja um esforço político para aumentar a qualidade do trabalho e a produtividade no sector de serviços, alertando que só assim será possível melhorar a qualidade do emprego em termos globais.
Outro desafio identificado pela OIT tem a ver com os rendimentos do trabalho. Na Europa e na Ásia Central o emprego aumentou 1,2% no período entre 2015 e 2016, (acima dos 0,1% registados entre 2011 e 2014), porém essa expansão não se traduz num crescimento dos salários.
É o que acontece, exemplifica a OIT, na zona euro (da qual Portugal faz parte) onde, desde o início da crise financeira de 2008, uma grande percentagem do emprego criado foi a tempo parcial. À medida que a recuperação económica se tornou mais robusta essa tendência tem vindo a esbater-se mas, ainda assim, a criação de emprego a tempo completo ainda não é suficiente para recuperar os empregos destruídos, lamenta a organização liderada por Guy Ryder.
Redução da pobreza no trabalho estagna
A OIT lamenta ainda que os progressos registados na redução da pobreza entre os trabalhadores tenham estagnado. Nos países em desenvolvimento, alerta a organização, “os progressos na redução da pobreza no trabalho têm sido demasiado lentos para conseguirem acompanhar a expansão da força de trabalho”.
“Espera-se que o número de trabalhadores que vivem numa situação de pobreza extrema permaneça teimosamente acima de 114 milhões nos próximos anos, afectando 40% da população empregada em 2018 ", concretiza Stefan Kühn, economista da OIT e principal autor do relatório.
No documento, os autores também destacam o facto de que as taxas de participação das mulheres no mercado de trabalho permanecerem muito abaixo da taxa de participação masculina.
E mesmo quando conseguem trabalho, há uma segregação em relação aos sectores, às ocupações desenvolvidas e à qualidade do emprego. Em 2017, 82% das mulheres dos países em desenvolvimento tinham empregos considerados vulneráveis, enquanto nos homens essa percentagem era de 72%.
Outro motivo de preocupação da OIT – e um dos grandes desafios – são as reduzidas oportunidades de emprego para os jovens. A taxa de desemprego jovem global é estimada em 13%, bem acima da taxa de 4,3% estimada para os adultos. O desafio é particularmente visível no Norte de África, onde perto de 30% dos jovens não têm trabalho. A OIT alerta ainda que as desigualdades de género começam a revelar-se neste grupo desde cedo, o que torna mais difícil uma recuperação no futuro.