Kim oferece botão nuclear a Trump e diálogo a Seul

Garantindo que a Coreia do Norte já é "uma potência nuclear completa" mas "responsável", líder de Pyongyang mostra-se interessado em ver os seus atletas nos Jogos Olímpicos de Inverno, daqui a um mês na Coreia do Sul.

Kim, na sua mensagem de Ano Novo falou aos EUA e a Seul
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Kim, na sua mensagem de Ano Novo falou aos EUA e a Seul Reuters
Sul-coreanos ouvem Kim nas televisões de uma estação de transportes
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Sul-coreanos ouvem Kim nas televisões de uma estação de transportes Reuters

Depois de uma série de testes de mísseis balísticos intercontinentais e meses depois do mais poderoso teste nuclear já realizado pela Coreia do Norte, Kim Jong-un recebeu 2018 com um discurso onde ameaçou os Estados Unidos – “o botão para as armas nucleares está na minha secretária” – e usou um tom de rara boa vontade ao dirigir-se à Coreia do Sul, oferecendo até o possível envio de uma delegação aos Jogos Olímpicos de Inverno, que no próximo mês se realizam bem perto da zona de demarcação fronteiriça.

“Alcançámos o objectivo de completar o estado de força nuclear em 2017”, assegurou Kim, apresentando-se de fato tipo ocidental cinzento e gravata. “Precisamos de produzir em massa ogivas nucleares e mísseis balísticos e acelerar a mobilização” das armas, afirmou, no discurso de Ano Novo, transmitido em directo na televisão estatal.

Kim garante assim que a Coreia do Norte é uma potência nuclear total: “uma potência nuclear responsável e que ama a paz”, uma afirmação que coloca dúvidas a muitos analistas, convencidos que falta ainda a Pyongyang realizar vários testes.

“Continuo muito céptico sobre esta ideia de ‘completo’ em que eles têm insistindo, quanto mais não seja porque temos visto muita actividade no programa de lançamento de mísseis balísticos de submarinos”, comentou ao jornal The Guardian Scott LaFoy, especialista em mísseis balísticos no site NK Pro, que monitoriza as actividades norte-coreanas.

“Os EUA devem sabem que o botão para as armas nucleares está na minha secretária. Isto não é chantagem, é a realidade”, disse, antes de sublinhar o alcance do armamento do seu país. “Toda a área continental dos EUA está dentro do alcance dos nossos ataques nucleares”, afirmou. Pelo que “os EUA nunca poderão começar uma guerra contra mim e contra o nosso país”. Como líder de uma “nação responsável”, Kim também promete que “estas armas só serão usadas se a nossa [do regime norte-coreano] segurança for ameaçada”.

Estatuto das nações da Coreia

Mais surpreendente do que a habitual retórica belicista foi o tom raro de apaziguamento face à Coreia do Sul, o vizinho que Kim costuma ignorar nas suas intervenções, preferindo falar com os EUA, no que insiste ser uma relação de iguais entre potências nucleares. Desta vez, porém, dirigiu-se a Seul, sugerindo que “os Jogos Olímpicos de Inverno que em breve se realizarão no Sul serão uma boa oportunidade para exibir o estatuto das nações da Coreia” — “desejamos sinceramente que esse evento obtenha bons resultados”, disse.

“Estamos preparados para dar vários passos, incluindo o envio de uma delegação”, afirmou mesmo Kim, respondendo assim positivamente a um convite que já tinha sido feito pelo Presidente sul-coreano, Moon Jae-in, que chegou a afirmar que essa participação iria garantir a segurança dos Jogos e a propor adiar exercícios militares conjuntos com Washington – do género dos que Norte denuncia e considera “ensaios de guerra”.

Responsáveis dos dois países, insistiu Kim, “podem encontrar-se com urgência para discutir a possibilidade” da participação do Norte nos Jogos.

“Sempre sublinhámos a nossa vontade de dialogar com a Coreia do Norte em qualquer momento e lugar se isso contribuir para restaurar as relações inter-coreanas e nos levar à paz na Península Coreana”, disse um porta-voz do Governo de Moon.”Esperamos que as duas Coreias se sentem a conversar e encontrem uma solução para baixar as tensões e estabelecer a paz”.

Um ano significativo

Não há dúvidas que Kim estará a oferecer diálogo com a sugestão de participar nos Jogos de Inverno, marcados para 9 a 25 de Fevereiro em Pyeongchang – uma competição que Seul tem apresentado como “as Olimpíadas da paz”. Kim sublinhou como 2018 é um ano importante para as duas Coreias: “será um ano significativo tanto para Norte como para o Sul, com o Norte a celebrar o 70.º aniversário do seu nascimento e o Sul a acolher os Jogos Olímpicos de Inverno”.

Pyongyang só qualificou dois atletas, os skaters Ryom Tae-ok e Kim Ju-sik, que em teoria já teriam de ter confirmado a sua participação. Nada que um convite do Comité Internacional Olímpico não resolva. “O comité recebe com entusiasmo [estas palavras]”, fez saber o presidente dos Jogos de Pyeongchang, Lee Hee-beom, citado pela agência de notícias sul-coreana Yonhap. “É como um presente de Ano Novo”.

Ouvido pela Reuters, o especialista em Coreia do Norte da Universidade da Coreia do Sul Nam Sung-wook, defende que na ausência de novos lançamentos de mísseis, “a Coreia do Norte vai estar no centro das atenções só por participar nos Jogos de Inverno”. Porque “aquilo que a Coreia do Norte mais teme é ser esquecida na arena internacional”.

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