Vice admite que mulheres são alvo de "comportamentos impróprios" na empresa
Presidente e co-fundador da empresa de comunicação social admitiram, na sequência de uma investigação do New York Times, que falharam ao prevenir que uma cultura de "clube de rapazes" se instalasse na empresa e prejudicasse as mulheres.
A Vice, empresa de comunicação social, admitiu que falhou na protecção às suas funcionárias e que permitiu que se instalasse uma cultura de “clube de rapazes” que disseminou “comportamentos inapropriados” por toda a empresa. Esta declaração surgiu na sequência de uma investigação do New York Times onde dezenas de mulheres relatam casos de assédio sexual, incluindo da parte do presidente da companhia.
O presidente da Vice, Shane Smith, juntamente com o co-fundador da empresa, Suroosh Alvi, divulgaram um comunicado ao jornal norte-americano afirmando que a empresa falhou, “de cima abaixo”, ao não conseguir “criar um local de trabalho seguro e inclusivo onde toda a gente, especialmente mulheres, possam sentir-se respeitadas e prosperar”. A Vice garante que já começou a tomar acções de forma a combater comportamentos imprórios.
A Vice nasceu no Canadá como uma revista independente, em 1994, que cobria a cultura jovem com uma abordagem moderna. Rapidamente se transformou na Vice Media, englobando outros tipos de meios de comunicação, tendo passado a ser apoiada por grandes grupos como a Fox. É hoje conhecida e elogiada por grandes reportagens multimédia sobre temas domésticos e internacionais, como foi o caso da peça sobre as manifestações de extrema-direita em Charlottesville.
Porém, ao New York Times, mais de duas dezenas de mulheres – a maioria com idades entre os 20 e os 30 - que trabalham ou já trabalharam na empresa dizem agora que foram vítimas ou que testemunharam comportamentos impróprios de teor sexual, incluindo beijos não consentidos, declarações obscenas, propostas indecentes ou homens a agarrar mulheres à força. Os actos terão sido cometidos por homens na casa dos 20 e 30 anos, algo que distingue este caso daqueles que têm sido denunciados desde o escândalo em torno do produtor de cinema Harvey Weinstein, que envolvem sobretudo homens de idade mais avançada que abusam da sua relação de poder sobre mulheres consideravelmente mais novas (e também sobre alguns jovens profissionais do sexo masculino).
Além de dar voz a estes testemunhos, o NYT noticia que foram assinados nos últimos anos pelo menos quatro acordos extrajudiciais relativos a acusações de assédio sexual ou de difamação envolvendo funcionários da Vice e o actual presidente da empresa.