Num ataque à Amazon, Rose McGowan diz que Weinstein a violou: "Eu era a prova”

Actriz é a quarta mulher a acusar o famoso produtor de violação, desta feita no Twitter e dirigindo-se a Jeff Bezos. Efeito tóxico de Weinstein contamina a indústria.

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Mario Anzuoni/Reuters

A actriz Rose McGowan, que na última semana foi uma das vozes mais audíveis e simultaneamente mais sigilosas no escândalo Harvey Weinstein, disse quinta-feira que o produtor a violou aos 23 anos e que, quando se queixou disso à Amazon Studios, o estúdio deixou cair o projecto de série que tinha com ela. Entretanto, o presidente da Amazon Studios foi suspenso na quinta-feira, depois de uma produtora ter revelado o alegado assédio sexual perpetrado por Roy Price em 2015.

Rose McGowan é um dos nomes que surgem na investigação do New York Times às alegadas práticas de abuso e agressão sexual pelo ex-dono da Miramax, produtora que detinha com o irmão, Bob. Mas, devido a um acordo de confidencialidade que assinou, não detalhava o seu caso ao diário.

Em 1997, Weinstein chegou a acordo com a queixosa e pagou-lhe 100 mil dólares, frisando em papel que o documento “não devia ser visto como uma admissão” de culpa, como detalhou o New York Times. McGowan tinha 23 anos, tinha tido um papel no filme Gritos, da Miramax, e não prestou declarações sobre os acontecimentos na origem do acordo.

Quinta-feira, e depois de uma semana em que foi uma das mais persistentes acusadoras – não só de Weinstein mas também daqueles que, defende, sabiam dos seus hábitos e nada fizeram, como Ben Affleck –, a actriz revelou o que terá acontecido. Fê-lo depois de regressar ao Twitter, rede social onde tem manifestado as suas opiniões e que a suspendeu durante 12 horas por ter publicado um número de telefone, o que é contra as regras da plataforma. A decisão do Twitter originou um boicote, agendado para esta sexta-feira, o #WomenBoycottTwitter, contra o “silenciamento das vozes de mulheres”.

Numa série de tweets publicada quinta-feira, a actriz dirige-se directamente ao presidente da Amazon, Jeff Bezos, com a tag do seu perfil no Twitter, acusando: “Disse ao responsável do seu estúdio que HW [Harvey Weinstein] me violou. Disse-o vezes sem conta. Ele disse que não tinha sido provado. Eu disse que eu era a prova”. Além de ter classificado o Óscar da Amazon (este ano, por Manchester By The Sea, como “sujo” por estar conspurcado pelo caso), McGowan detalhou que tinha vendido um guião à Amazon e que este passara à fase de desenvolvimento mas que entretanto foi cancelado – perante o seu descontentamento por ter feito queixas sem ser ouvida, diz ter tentado recuperar os direitos da obra mas, entretanto, a Amazon Studios “ligou para dizer que a minha série estava morta”.

Rose McGowan torna-se assim na quarta mulher a vir a público para alegar que Harvey Weinstein a violou. As actrizes Asia Argento e Lucia Evans e uma terceira mulher que não quis ser identificada denunciaram ter sido vítimas de actos semelhantes, na investigação da revista New Yorker.

Jeff Bezos não reagiu ainda publicamente aos tweets de McGowan e a Amazon não comentou ainda as alegações da actriz. Também quinta-feira, e no que parece ser parte de uma espécie de efeito dominó na rapidez da reacção a acusações de assédio sexual, Roy Price, vice-presidente da Amazon Studios, foi suspenso das suas funções após a denúncia de assédio a uma produtora.

O caso tinha já sido revelado por uma publicação, The Information, em Agosto, mas só agora obteve uma reacção da Amazon Studios. Isa Hackett, das séries The Man in the High Castle e Philip K. Dick's Electric Dreams, contou esta semana à Hollywood Reporter as sugestões explícitas alegadamente feitas por Price, há dois anos, e explica que o caso foi formalmente dado a conhecer à Amazon, que terá começado uma investigação – cujo desfecho Hackett nunca conheceu.

A Amazon tem uma relação estreita com a Weinstein Company, da qual Harvey Weinstein foi despedido na semana passada e cujo conselho de administração perdeu quatro responsáveis que se demitiram. Duas séries com a marca Weinstein estavam na calha e estão agora em fase de apreciação, mas a Amazon, escreve o Guardian, está a ponderar cortar quaisquer laços com a produtora.  A Weinstein Company tem uma divisão de TV fundada em 2011 e previa-se que fosse financiar metade da série de David O. Russell com Robert De Niro, ainda sem título, e entrar com 75 milhões para as contas da série The Romanoffs, de Mathew Weiner.

Entre as vozes que continuam a juntar-se ao coro de denúncias em torno de Weinstein está a de Jane Fonda, que admitiu saber dos casos. “Soube do Harvey há cerca de um ano e tenho vergonha de não ter dito nada na altura”, disse a actriz à CNN. O efeito Weinstein, nome que parece ter-se tornado tóxico em Hollywood, está a fazer-se sentir não só nas reacções das empresas e estúdios que com ele trabalharam mas também nos média – a capa da revista Time titula, sobre uma foto de Harvey Weinstein: "Produtor. Predador. Pária.”

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