Direita perde nas grandes cidades, resiste nos distritos urbanos
PSD e CDS afastados do poder em quase todas as 15 maiores cidades do país. Mas depois do naufrágio de 2013, a direita vai sobrevivendo nos distritos do litoral
Os cerca de dez por cento de votos obtidos pelo PSD nas duas principais câmaras do país parecem confirmar a sensação crescente que os social-democratas, e por arrastamento a Direita, estão cada vez mais confinados ao país rural. Esta leitura, porém, exige cautelas. Primeiro porque Assunção Cristas obteve um quinto dos votos na capital; segundo porque, no Porto, quem venceu as eleições com uma maioria folgada foi Rui Moreira, um independente que tem o apoio dos centristas; e terceiro porque, em termos distritais, os partidos da direita tinham crescido em termos de votação face às autárquicas de 2013. No Porto, a soma dos votos do PSD e do CDS no distrito passa de 29,3% em 2013 para 32,7% este ano; e em Lisboa, a Direita sobe de 23,9% para 25,3%.
Se a disponibilidade de apenas um quarto dos votos nas duas maiores cidades é uma fragilidade para as ambições eleitorais do PSD e do CDS, a verdade é que o eleitorado urbano do país, com destaque para o do distrito de Lisboa, sempre esteve mais próximo da esquerda. Se considerarmos os seis distritos do Litoral (Braga, Porto, Aveiro, Coimbra, Leiria, Lisboa e Setúbal), onde estão 113 das 308 autarquias, mas onde habita 70% da população nacional, verifica-se que o PS dispôs sempre de mais âncoras neste território do que o PSD. Mas confirma-se também que o CDS teve em distritos como Aveiro e Leiria os seus principais trunfos autárquicos.
Em 1989, por exemplo, das 113 autarquias conquistadas pelo PSD, 46 ficavam nestes distritos. O PS, por sua vez, tinha ganho 117 câmaras, das quais 56 estavam incluídas no mapa urbano do litoral português. E o CDS, que nesta eleição ganhou 20 autarquias, tinha 17 neste mapa. Na eleição seguinte, em 1993, o PSD perdeu terreno nas zonas urbanas – ganhou 117 câmaras e apenas 36 estavam nestes seis distritos. E mesmo em 2001, quando o PSD atingiu o seu auge nas autarquias, com 142 câmaras conquistadas, apenas 47 estavam localizadas nos distritos mais populosos do litoral. Nesse ano, o PS tinha somado 113 câmaras, das quais 37 ficavam nestes distritos.
Se o músculo urbano do PSD e da Direita forem avaliados pelo número de votos em eleições autárquicas, ver-se-á que também não é por aí que se verifica uma “ruralização” destes dois partidos. Nas autárquicas de 1989, o PSD obteve 1.091 milhões de votos nestes seis distritos. Ou seja, 70% do total de votos que obteve nessas eleições (1.552 milhões). E em 2013, a Direita (PSD e CDS separados e em coligação), conseguiram os mesmos 70% do total nacional dos seus votos nestes distritos. Se em termos populacionais, a faixa do litoral entre Braga e Setúbal representa 70% da população, pode concluir-se que a força eleitoral da Direita está de acordo com o universo eleitoral que esses distritos representam.
Nos municípios que são capitais de distrito, as variações eleitorais entre Esquerda e Direita são muito nítidas, mas não resultam de uma tendência rígida: pelo contrário, dependem muito da dinâmica eleitoral dos partidos. No Porto, o PS dominou entre 1989 e 2001 com votações que oscilaram entre os 41.5% e os 59.6%, o auge da era Fernando Gomes. Depois, na era Rui Rio, o PSD coligado com o CDS dominaram durante 12 anos com resultados entre os 42.7% e os 63.4%. Em Lisboa, o mesmo. Em 1989 e 1993, uma ampla coligação de esquerda liderada por Jorge Sampaio dominou as autárquicas; nas duas eleições seguintes, o PSD impõe as regras; até que em 2005 António Costa faz subir de novo a força dos partidos da esquerda na capital.
Nos seis distritos que fazem a espinha dorsal da demografia e da economia portuguesa, há, no entanto, muitas diferenças. Em Braga, entre a capital de distrito e Amares, por exemplo; no Porto, entre Gaia e Baião; em Lisboa, entre Loures e Sobral de Monte Agraço. Uma leitura mais fina mostra que, na série das últimas autárquicas, o PSD e o CDS ficam cada vez mais afastados do poder nos “grandes municípios” – os que têm mais de 100 mil habitantes. Na lista dos 15 maiores concelhos do país em população, o PSD e o CDS podiam apenas contar com a vitória em Braga e Cascais - duas que já estavam nas suas mãos.