Viva Graydon Carter
Editar com mestria não é sobrepôr um estilo: é desaparecer do texto. As grandes alterações funcionam porque são invisíveis.
Graydon Carter foi um grande director da revista Spy que fundou em 1986 e, a partir de 1992, da Vanity Fair. Tive a sorte de vê-lo trabalhar na Spy. Era um editor da velha escola que reescrevia todas as peças, depois de já terem sido reeescritas por um editor.
No computador dele viam-se quatro variantes do texto, cada um com uma cor diferente. As alterações finais, feitas por ele, eram em letra amarela. Não era confuso: era fascinantemente legível.
Como os textos eram humorísticos as diferenças eram giras. Lia-se um parágrafo engraçado e depois podia-se ver como tinha ficado engraçadíssimo. Era mais uma questão de sintaxe e de inglês bem escrito do que de piadas propriamente. Mas também havia piadas novas nas várias edições do texto original.
Carter explicou-me o sistema das cores e fez imediatamente sentido. A clareza é uma das grandes qualidades da prosa dele. O que me impressionou foi a generosidade com que trabalhava os textos assinados apenas pelo autor original.
É isso que fazia o editor tradicional: reescrever tudo até ficar melhor. Tem sido bom ler a Vanity Fair durante 25 anos porque Carter escolheu bons jornalistas e escritores mas, sobretudo, porque ele soube editá-los com mestria, à séria.
Editar com mestria não é sobrepôr um estilo: é desaparecer do texto. As grandes alterações funcionam porque são invisíveis. Aquilo que mudou não se nota: é a legibilidade. Parece "apenas" bem escrito. Até pode ter sido. Mas primeiro, segundo e terceiro, foi muito bem editado.