Vinte séries para um Setembro cheio de televisão
A rentrée que se avizinha traz muitas estreias e novas temporadas. Fomos à procura do que de melhor poderá haver nesta colheita de ficção televisiva.
Com a chegada do mês de Setembro, são inúmeras as estreias na televisão internacional. Seleccionámos algumas das mais promissoras, entre novidades e regressos em novas temporadas, deixando de fora alguns dos nomes mais óbvios, como Narcos, agora com 100% mais Pêpê Rapazote (dia 1), ou Fear the Walking Dead (dia 11). Eis as nossas apostas para a rentrée televisiva, organizadas por ordem cronológica.
American Horror Story: Cult
FX, dia 5 (dia 19 na Fox)
Palhaços. Parece ser esse o foco da sétima temporada de American Horror Story, a antológica série de terror criada por Ryan Murphy em que cada época conta uma nova história, com personagens diferentes das da anterior, apesar de se manterem alguns actores. Murphy tem dito que a nova temporada lida com as eleições presidenciais dos Estados Unidos de 2016 – há até máscaras de Donald Trump e Hillary Clinton no genérico que já foi divulgado – mas que nenhum actor fará o papel dos dois principais candidatos. Nos vários teasers já lançados, há abelhas e colmeias, e Sarah Paulson, a musa de Murphy, a fazer de uma mulher com medo de palhaços que grita quando Trump ganha as eleições. Por contraste, Evan Peters fica extasiado quando tal acontece. Além deles, Emma Roberts e Cheyenne Jackson, que já fizeram parte deste universo antes, juntam-se a novatos como Billie Lourd (a filha de Carrie Fisher) e Alison Pill, que faz de mulher de Paulson. Lena Dunham, a criadora de Girls, ou o cómico Billy Eichner, estrela de Billy on the Street, um dos programas mais hilariantes da actualidade, e da série cómica Difficult People, também se vão estrear por estes lados.
You’re the Worst
FXX, dia 6
Dois cínicos, um escritor britânico ultra-insensível a viver em Los Angeles e uma promotora musical deprimida, conhecem-se num casamento e têm um caso que, para surpresa de ambos e de todos os que os rodeiam, se transforma numa relação. É esta a premissa de You're the Worst, a série cómica hilariante e ao mesmo tempo profunda – não é só a depressão que é bem tratada, o stress pós-traumático de veteranos de guerra também é abordado, bem como questões sobre o amor e outros temas – criada por Stephen Falk, que veio de Weeds e Orange is the New Black. Nunca passou em Portugal, mas vale a pena procurar.
Tin Star
Sky Atlantic, dia 7
Tim Roth volta à televisão. E, ao contrário do que fazia em Lie to Me, aqui deixam-lhe usar o seu sotaque britânico original. Criada por Rowan Joffé, o filho do realizador Roland Joffé e da actriz Jane Lapotaire que assinou os guiões de filmes como 28 Semanas Depois ou O Americano e realizou Crime e Pecado, Tin Star é um western contemporâneo com Roth no papel de um polícia londrino que se muda para uma pequena cidade de montanha no Canadá e é constantemente perseguido pelo passado. O elenco inclui também Christina Hendricks, a Joan de Mad Men, e Genevieve O'Reilly, da saga A Guerra das Estrelas e de Episodes.
BoJack Horseman
Netflix, dia 8
Nunca ninguém pensou que uma das séries mais hilariantes e ao mesmo tempo pungentes da actualidade pudesse ser uma animação sobre um cavalo antropomórfico, alcoólico e misantropo. Mas é esse o caso de BoJack Horseman, que se foca na personagem que lhe dá o nome, a quem é dada voz por Will Arnett, que foi estrela de uma sitcom nos anos 1990 e ainda hoje vive à custa disso. A criação de Raphael Bob-Waksberg conta também com uma vontade de mudar de paradigma e abraçar vários estilos de contar histórias, muita sátira ao mundo do entretenimento e zero medo de se deixar levar pela tristeza, muito menos de abordar temas sociais importantes. E, claro, algumas das melhores piadas sobre animais, sejam trocadilhos parvos ou gags visuais, de que há memória, bem como desenhos impressionantes da ilustradora Lisa Hanawalt.
One Mississippi
Amazon Prime, dia 8
Tig Notaro – que, no espaço de poucos meses, recuperou de uma doença gastrointestinal, viu a mãe morrer, acabou com a namorada e descobriu que tinha cancro – volta para a segunda temporada da sua série semi-autobiográfica. A avaliar pelos créditos, a série tem produção executiva de Louis C.K. – que, em 2012, lançou o álbum Live, de Notaro, gravado ao vivo imediatamente após o diagnóstico de cancro, 30 minutos de comédia pura e profunda que a tornaram numa estrela em ascensão. Só que, disse recentemente Notaro ao The Daily Beast, não é bem assim: o cómico nunca teve nada que ver com a série, os dois não se falam há anos (algo que já tinha sido referido em Abril, quando a cómica o acusou de plagiar uma curta para um sketch de Saturday Night Live). A animosidade vai ainda mais além: esta segunda temporada tem uma cena em que uma personagem feminina é forçada por um homem a vê-lo masturbar-se – acusações que existem há anos contra C.K., que alegadamente o terá feito com as integrantes de um duo de comédia musical durante um festival e, diz Notaro, que o cómico devia abordar em público.
The Deuce
(TVSéries, dia 10)
James Franco desdobra-se em gémeos e Maggie Gyllenhaal é uma ex-trabalhadora do sexo a lançar-se como empresária de pornografia na nova série de David Simon, o criador de The Wire e Treme, sobre a ascensão dessa indústria após a sua legalização e a zona de Times Square, Nova Iorque, entre o início dos anos 1970 e os anos 1980, épocas bastante tumultuosas. Simon, em dupla com George Pelecanos, mítico escritor de ficção policial norte-americano que colabora regularmente com o autor, traçou um retrato da cidade e dessa era que lida com o tema da pornografia, mas tenta não ser gratuito a fazê-lo, um risco que se corre quando se aborda esse universo. Franco e Gyllenhaal são as maiores estrelas, mas como isto é uma série de David Simon para a HBO há uma vasta galeria de personagens e actores a acompanhá-los, sejam ou não repetentes das outras séries do autor.
The Orville
(Fox, dia 10)
Seth MacFarlane, o criador de Family Guy – onde faz também a voz de Peter, Stewie e Brian –, American Dad! e Cleveland Show, é o criador e protagonista desta série de ficção científica. O tom parece ser uma espécie de mistura entre clássicos como Star Trek e Galaxy Quest, a subvalorizada comédia de ficção científica de culto de 1999, e a sensibilidade cómica dos programas de MacFarlane, bem como do filme que o autor assinou e protagonizou, Mil e Uma Maneiras de Bater as Botas, uma paródia dos lugares comuns dos westerns. MacFarlane faz o papel do capitão de uma nave chamada The Orville que não foi escolhido por ser bom naquilo que faz, mas sim porque era preciso pessoas para tripularem 3000 naves espaciais. O elenco inclui Adrianne Palicki, de Friday Night Lights, Scott Grimes, de Serviço de Urgência, Band of Brothers e American Dad!, Penny Johnson Jerald, de Star Trek: Deep Space Nine e da lendária série cómica dos anos 1990 The Larry Sanders Show, bem como a voz do cómico de stand-up e ex-estrela de Saturday Night Live Norm McDonald.
The Mindy Project
(Hulu, dia 12)
É a derradeira temporada da sitcom criada e protagonizada por Mindy Kaling, uma voz hilariante que se fez notar pela primeira vez ao co-escrever e interpretar uma peça sobre Matt Damon e Ben Affleck antes da fama – nela, o guião de O Bom Rebelde, que lhes valeu um Óscar, caía do tecto, uma insinuação de que não foram eles a escrevê-lo. Depois disso, passou anos como argumentista e actriz na versão norte-americana de O Escritório, e em Mindy Project faz o papel de uma obstreta – entretanto casada – à procura do amor em Nova Iorque. Depois de três temporadas na Fox, a série transitou para o Hulu, um serviço de streaming não disponível em Portugal, que é onde vai acabar agora. Por cá passa no Fox Comedy, mas não costuma estar muito actualizada.
Broad City
(Comedy Central, dia 13)
A criação cómica de Ilana Glazer e Abbi Jacobson que começou como série na Internet e transitou para a Comedy Central está no ar desde 2014, a mostrar de forma hilariante o dia-a-dia carregado de marijuana de duas jovens nova-iorquinas sem muito dinheiro. Mas, infelizmente, esta série com produção executiva de Amy Poehler nunca passou na televisão portuguesa. A quarta temporada, que foi adiada de Agosto para Setembro, terá convidados como RuPaul, Jane Curtin, Wanda Sykes, Fran Drescher ou Steve Buscemi, e nela, já disseram as criadoras, a palavra "Trump" será tratada como um palavrão e, por isso, censurada.
South Park
(Comedy Central, dia 13)
Um mês após ter feito 20 anos, South Park estreia a sua 21.ª temporada. Depois de algumas épocas com histórias a estenderem-se ao longo de vários episódios, Trey Parker e Matt Stone, os criadores e uma boa parte das vozes da série animada, decidiram voltar ao núcleo das histórias sobre um grupo de pré-adolescentes na cidade de South Park, Colorado. E não vão tocar na actualidade política, algo que lhes deu problemas no ano passado, quando achavam que Hillary Clinton iria ganhar: vão ignorar completamente o presidente dos Estados Unidos. Por cá, a série é exibida na SIC Radical. Ainda não há data de estreia para esta época, mas não é difícil ver: os episódios ficam disponíveis gratuita e legalmente no site oficial no dia a seguir a passarem nos Estados Unidos.
American Vandal
(Netflix, dia 15)
Uma partida de liceu levou a que 27 carros de professores ficassem cheios de imagens fálicas. Ao longo de oito episódios, um documentário investiga se quem as desenhou foi mesmo o miúdo que acabou expulso pelo acto. É um mockumentary cómico que parodia uma moda recente de documentários sobre crimes reais, patente em programas como Making a Murderer ou The Keepers, também do Netflix, e podcasts como Serial. Entre eles, os criadores Tony Yacenda, Dan Perrault e Dan Lagana têm no currículo vídeos para o site College Humor, a sitcom Zach Stone Is Gonna Be Famous ou a série de YouTube Honest Trailers.
Vice Principals
(TVSéries, dia 17)
Estreada no ano passado, esta criação de Danny McBride e Jody Hill, também responsáveis pela série Eastbound & Down ou por filmes como The Foot Fist Way, mostrou, de forma sombria e crua, os extremos a que dois professores de um liceu tentam ir para destronar a nova directora da escola, um lugar que queriam para eles. Com McBride e Walton Goggins nos papéis principais, mantém a vontade que trespassa quase toda a obra dos criadores, a de fazer uma espécie de Taxi Driver cómico, sem se repetirem muito e sem caírem em mera imitação de Martin Scorsese. Esta segunda temporada é a última: a série foi concebida desde o início para ter 18 episódios e nunca mais continuar.
The Good Place
(Netflix, dia 21)
Eleanor Shellstrop morre de repente e acorda numa espécie de céu. Nunca praticou o bem na vida, e cedo descobre que não é suposto estar lá, que só chegou a esse sítio porque houve um erro. Ao mesmo tempo que tenta não ser descoberta, procura tornar-se uma pessoa melhor. É esta a premissa de The Good Place, uma das mais brilhantes séries cómicas do ano passado. Uma criação de Mike Schur, o mesmo de séries como Parks and Recreation ou Brooklyn Nine-Nine, esta sitcom partilha algum do ADN humanista dos trabalhos anteriores de Schur, mas com uma ambição narrativa que está vários furos acima deles. No elenco, Kristen Bell, de Veronica Mars, junta-se à lenda da televisão Ted Danson numa das suas melhores prestações de sempre.
Nathan for You
(Comedy Central, dia 21)
Desde 2013 que o cómico canadiano Nathan Fielder pega em negócios que estão a falhar e lhes tenta injectar nova vida através de algumas das ideias mais absurdas que alguma vez foram mostradas em televisão, tudo enquanto eleva ao expoente máximo a estranheza que para ele é interagir com outros seres humanos. Nathan For You, o seu reality show cómico que em Portugal passa na SIC Radical, volta no dia 28 para uma quarta época que promete aumentar ainda mais a parada e o extremismo das soluções robuscadas. Uma semana antes, contudo, passa um especial chamado A Celebration, em que Nathan fala com alguns dos intervenientes das temporadas anteriores, para perceber o que aconteceu aos seus negócios após terem passado pelo programa.
Mike Judge Presents: Tales from the Tour Bus
(Cinemax, dia 22)
Mike Judge, uma excepcional mente cómica que foi responsável tanto por Beavis and Butt-Head quanto por King of the Hill ou, mais recentemente, Silicon Valley, para não esquecer o subvalorizado filme O Insustentável Peso do Trabalho, regressa à animação, o campo que primeiro lhe deu notoriedade, nesta nova série sobre músicos country. Pouco mais se sabe sobre ela, só que, com Judge aos comandos, é algo que pode mesmo resultar.
Star Trek: Discovery
(Netflix, dia 25)
Perpetuamente adiada, a nova série do franchise Star Trek foi anunciada no final de 2015, e um dos criadores e principais motores por detrás dela, Bryan Fuller, abandonou-a muito antes de começar para se dedicar mais à recomendável adaptação de American Gods de Neil Gaiman. Ainda assim, a série, que se desenrola dez anos antes dos eventos da série original dos anos 1960, tem tudo para correr bem e os criadores já prometeram manter vivo o espírito humanista da criação de Gene Rodenberry. À frente do elenco está Sonequa Martin-Green, actriz de The Walking Dead e The Good Wife, que, ao contrário do que é comum neste universo, não será a capitã da nave à volta da qual a série gira – tal tarefa está a cargo da personagem da malaia Michelle Yeoh.
The Good Doctor
(ABC, dia 25)
David Shore é o criador de Dr. House. Não é de estranhar, portanto, que a sua nova ficção gire à volta de um médico brilhante e incompreendido, pouco dado a socializar normalmente com as pessoas, mas que consegue ver o que mais ninguém vê e salvar vidas. Só que a série, co-criada por Daniel Dae Kim, o actor de Perdidos que recentemente saiu de Hawai: Força Especial, a partir de um original sul-coreano, é bastante diferente. É que o protagonista é autista e muito pouco maldoso. No papel principal está Freddie Highmore, que fazia de Norman Bates em Bates Motel, a prequela de Psycho.
Law & Order True Crime: The Menendez Murders
(NBC, dia 25)
Depois do sucesso de American Crime Story, de Ryan Murphy, cuja primeira temporada se focou no julgamento de O.J. Simpson, Dick Wolf, o produtor de televisão que deu ao mundo o franchise Lei & Ordem, vira-se para o mundo do crime real com uma nova série, Law & Order True Crime, e a outro dos julgamentos mais famosos dos anos 1990. Em 1994, os irmãos Lyle e Erik Menéndez foram julgados por terem morto, cinco anos antes, os seus pais com tiros de caçadeira, justificando-se com o muito tempo passado a serem abusados por eles. E tal como Sarah Paulson envergou uma permanente para fazer de Marcia Clarke, a advogada de acusação de O.J., aqui será Edie Falco, de Os Sopranos, a vestir uma peruca para fazer de Leslie Abramson, que defendeu os irmãos.
Big Mouth
(Netflix, dia 25)
O cómico Nick Kroll, que de 2013 a 2015 teve o seu próprio programa de sketches na Comedy Central, Kroll Show, criou uma série animada que narra os seus anos de chegada da puberdade, com todas as hormonas que isso implica e sem olhar apenas pelo lado masculino de tal etapa da vida. Para tal, convocou, entre outros, Andrew Goldberg, um amigo que trabalhou em Family Guy e com quem Kroll partilhou esse anos difíceis, para co-criador. Actores cómicos que vão de Jordan Peele a John Mulaney, passando por Jenny Slate, Maya Rudolph, Jessi Klein, Fred Armisen ou Jason Mantzoukas, são as vozes que se juntam às do criador.
Transparent
(TVSéries, dia 30)
A família Pfefferman, cujo até então patriarca se assume como uma mulher transgénero numa idade avançada, levando a que filhos, ex-mulher e todos os que a rodeiam questionem tudo o que sabiam sobre sexualidade e género, está de volta para a quarta temporada – e uma quinta já está confirmada – da brilhante criação de Jill Solloway. Segundo o trailer, Maura (Jeffrey Tambor) leva agora a família a Israel e revela que, depois de uma vida inteira a sentir-se atraída por mulheres, agora anda com um homem. Em Portugal, as temporadas passam primeiro no TVSéries antes de chegarem ao Amazon Prime.