Os compromissos climáticos do G20 têm de passar à acção

O G20 enfrenta o mesmo desafio que todos signatários do Acordo de Paris: como transformar promessas ousadas em acções.

Depois da recente cimeira do G20, o que vai ficar na memória para além de motins vergonhosos? Houve uma notável união quanto ao comércio, a África, o empoderamento das mulheres e muitos outros temas. Mas o G20 não esteve unido quanto às alterações climáticas. Os Estados Unidos recusaram-se a assinar uma declaração que reforça o compromisso dos outros 19 países de continuar a apoiar o Acordo de Paris. Contudo, os EUA anunciaram o desejo de “reduzir as emissões” ao apoiar a segurança energética e ao ajudar outros países a “utilizar combustíveis fosseis de forma mais ecológica e eficiente”.

Esta desunião representa uma divergência substancial das abordagens políticas declaradas. Mas mais importantes ainda do que as declarações são as acções. Os EUA comprometem-se a ajudar outros países, em especial os menos desenvolvidos que não fazem parte do G20, a utilizar os combustíveis fósseis de forma mais ecológica e esta declaração não deve passar despercebida.

Muitas vezes, os países que necessitam de investimentos em infra-estruturas básicas, acessos a transportes, energia e água potável ainda procuram as tecnologias do século XX mais facilmente encontradas e as mais baratas. Ou seja, os combustíveis fósseis. Hoje, cada central eléctrica de carvão construída estará em funcionamento por 40 anos, contribuindo para as alterações climáticas. Com o progresso da urbanização, o tamanho da pegada carbónica das novas cidades vai ser de extrema importância. Será que o seu sistema de transportes irá utilizar veículos movidos a combustíveis fósseis? E será que vão depender de grandes sistemas de ar condicionado? Ou vão recorrer a sistemas de refrigeração ecológica? Estas são questões centrais para que os objectivos do acordo climático de Paris sejam alcançados.

Se o G20 quer alcançar estes objectivos precisa de dar provas de liderança ao ajudar países em desenvolvimento a construir infra-estruturas com pegada de carbono reduzida. O papel da China vai ser particularmente importante. É provável que a iniciativa chinesa “One Belt, One Road” seja actualmente o maior projecto de infra-estruturas no mundo. O seu objectivo é conectar países do continente asiático, europeu e africano. A necessidade de infra-estruturas e a tendência de urbanização na região serão consideráveis; portanto, incorporar uma componente de sustentabilidade na iniciativa seria um importante passo para reduzir os gases de efeito de estufa.

A União Europeia e a China poderiam colaborar nesta importante vertente de sustentabilidade do “One Belt, One Road”. A Europa tem tecnologia avançada que pode facilmente ser implementada. Os bancos europeus poderiam também estar interessados em co-financiar investimentos “verdes”. Uma liderança conjunta da UE e da China em relação às alterações climáticas pode muito bem ser decisiva para esta grande iniciativa chinesa de investimento.

O G20 também chegou a acordo quanto ao “Compact for Africa” e uma vertente de sustentabilidade deveria ser incluída na ajuda financeira que vai ser atribuída às empresas privadas que invistam em países africanos. África, com o seu rápido crescimento populacional, é um dos continentes em que o futuro das alterações climáticas será decidido. Mais uma vez, o principal objectivo deveria ser explorar as energias renováveis através do desenvolvimento de infra-estruturas. E os países do G20 têm de passar à acção. Contudo, pode haver países a preferir usar combustíveis fósseis. O ideal seria os membros do G20 encorajarem estes países a recorrer a tecnologias mais eficientes e o apoio dos EUA neste aspecto seria vantajoso.

De um modo geral, o G20 enfrenta o mesmo desafio que todos signatários do Acordo de Paris: como transformar promessas ousadas em acções. E há uma maior necessidade de agir quanto às alterações climáticas. Dar prioridade à sustentabilidade nos grandes investimentos de infra-estruturas que o “One Belt, One Road” e o “Compact for Africa” vão originar será de extrema importância para alcançarmos os nossos objectivos climáticos. Tradução de Bárbara Melo

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