Os jovens do Bloco vão dançar contra o racismo e estudar O Capital

“Não somos os jovens da ‘geringonça’, somos os jovens do Bloco”, diz uma das organizadoras.

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Izaura Solipa está na organização do acampamento este ano Mário Lopes Pereira

A festa já fazia parte do programa, antes mesmo de o espaço mediático em Portugal ter sido contaminado pelo tema do racismo, à boleia das declarações do candidato do PSD à autarquia de Loures. Mas, nem de propósito, no acampamento Liberdade deste ano, os jovens do Bloco de Esquerda vão ouvir um concerto do rapper e activista Chullage e depois dançar, noite fora, numa celebração que tem um nome, simples: “Festa anti-racista.”

As festas temáticas são habituais nos acampamentos dos jovens do BE. Tal como noutros anos, também neste haverá festas feministas e queer. Normalmente têm uma decoração ligada ao tema, fotografias, pequenas mensagens escritas e espalhadas pelo espaço, música escolhida a dedo para a ocasião.

Mas nem só de festa se fará o encontro. O sol ergue-se cedo, no Parque de Campismo de São Gião, Oliveira do Hospital, e o dia inclui várias conversas e workshops sobre diferentes temas, muitos dos quais caros ao Bloco. “Para mim, um político que não pense verdadeiramente nas relações todas que existem, como lemos o mundo, como intervir no mundo, em todos os espaços e esferas que frequentamos, um político que não tenha essa reflexão vai ter sempre um lado insuficiente”, diz Izaura Solipa, 25 anos, economista e uma das organizadoras do Liberdade.

Exemplos: as deputadas bloquistas Mariana Mortágua e Joana Mortágua vão falar aos jovens sobre o que é o BE; a eurodeputada Marisa Matias e a investigadora Sofia Roque vão ajudar a uma reflexão sobre a importância da linguagem. Outros bloquistas, como Francisco Louçã, também vão passar pelas rodas que tomam conta do relvado durante o dia – no caso, o ex-dirigente vai falar sobre revolução russa e luta feminista.

Izaura Solipa destaca algumas novidades deste ano, como uma conversa com o médico Bruno Maia e a investigadora Joana Canedo sobre drogas duras e leves. A jovem do BE diz que o debate tem estado muito centrado nesta divisão, que é preciso desconstruir esta dicotomia, “deixar cair essas etiquetas” e focar mais a discussão em políticas de consumo assistido, como salas de chuto, por exemplo.

É proibida a ciganofobia

O bloquista Moisés Ferreira vai participar numa conversa com o investigador Francesco Vachhiano sobre saúde mental e capitalismo. Os jovens pretendem saber mais, por exemplo, sobre a relação entre o excesso de trabalho e a precariedade e a depressão e ansiedade.

Mais dois momentos apenas, num extenso programa: todas as tardes os jovens vão debruçar-se sobre uma parte do livro O Capital, de Karl Marx. Izaura Solipa, que estudou economia no Instituto Superior de Economia e Gestão, em Lisboa, está entusiasmada com o workshop. “É um livro muito complexo”, diz.

Interessada no universo da economia, com um mestrado na área, outro em finanças, e com vontade de seguir um doutoramento, Izaura Solipa conta que encontrou no BE outras perspectivas e horizontes sobre os temas económicos. A chegada ao partido aconteceu, aliás, em 2014, quando acabou a licenciatura: “Sempre fui muito próxima do BE, em termos políticos, e senti que, quando fiz o curso em economia, não era aquilo que eu pretendia, era muito mainstream o ensino.”

O deputado bloquista Jorge Costa também vai falar com os jovens sobre a “geringonça”. O título da conversa chama-se mesmo keeping up with geringonça. Izaura Solipa explica que se pretende falar sobre o processo político que deu origem a esta solução de governo, inédita em Portugal (um governo PS suportado no Parlamento pelo PCP e pelo BE). Querem ouvir o deputado sobre o “papel” do BE, qual o “rumo” que deve seguir. A jovem organizadora defende, por exemplo, que o facto de o BE “estar na ‘geringonça’” não subtrai nada à ideologia bloquista. Pelo contrário, defende: o BE conseguiu “fazer com que alguns desses ideais fossem para a frente”. A ouvi-lo, Jorge Costa terá uns jovens, mas bem definidos ouvidos: “Não somos os jovens da ‘geringonça’, somos os jovens do Bloco”, sublinha Izaura Solipa.

Sobre o acampamento, que acontece entre 26 e 31 de Julho, a bloquista faz questão de lembrar que tem uma filosofia própria: “O Liberdade pretende ser um ensaio do mundo que queremos construir. O Liberdade almeja ser um espaço seguro em que cada um é livre, em que construímos colectivamente, [em que se pensa] como mudamos a sociedade em que estamos para mundo no qual queiramos viver. Não pode haver racismo, xenofobia, sexismo, ciganofobia…”

Qualquer pessoa pode participar no Liberdade – quatro dias custam 40 euros. Para já há 150 inscrições, mas a organização espera que ainda possam aparecer mais 50 a 100 pessoas.

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