Criança morre em tentativa de linchamento por blasfémia no Paquistão
Cerca de 500 pessoas tentavam retirar um homem da cadeia para o matar. A blasfémia é um crime no Paquistão e pode levar à pena de morte.
Uma criança de dez anos morreu durante uma tentativa de linchamento no Paquistão, quando uma multidão tentava retirar um suspeito de blasfémia de uma cadeia para fazer justiça pelas próprias mãos.
O caso aconteceu na província do Baluchistão, no Sudoeste do país, numa região ultraconservadora em que qualquer acusação de blasfémia, mesmo sem fundamento, pode provocar a fúria de parte da população.
Foi o terceiro caso no país em apenas um mês – o mais grave foi o linchamento de um estudante de jornalismo em Mardan, no Noroeste do Paquistão. Marshal Khan foi despido, espancado e baleado antes de ter sido atirado do 2.º andar da sua residência, na Universidade Abdul Wali Khan, num ataque que foi registado em vídeo. O jovem de 23 anos foi acusado por colegas de ter cometido blasfémia – um crime que no Paquistão pode ser punido com a pena de morte.
Uma semana depois desse ataque, um homem com perturbações mentais que dizia ser um profeta foi atacado por uma multidão numa mesquita em Chitral, também no Noroeste do Paquistão, mas foi salvo pela polícia.
As autoridades também conseguiram travar a tentativa de linchamento mais recente, mas os tumultos provocados por uma multidão com cerca de 500 pessoas acabaram por ser fatais para uma criança de dez anos, e outras cinco pessoas ficaram feridas com gravidade.
Prakash Kumar, de 34 anos e membro da minoria hindu do Paquistão, foi acusado de blasfémia e levado para uma cadeia na cidade de Hub, na província do Baluchistão. Depois de as autoridades se terem recusado a libertá-lo para ser linchado, a multidão tentou forçar a entrada na cadeia e retirá-lo.
Kumar tinha sido acusado de partilhar "imagens incendiárias" na Internet, e foi a publicação da notícia da sua detenção nos jornais que levou uma multidão a tentar linchá-lo, disse à AFP um responsável pela polícia local, Abdul Sattar.
Outro agente da polícia paquistanesa, Jam Mohammad, disse que "o cerco prolongou-se por mais de três horas, com a multidão a exigir a entrega de Kumar". O cerco só terminou quando as autoridades locais enviaram militares para dispersarem a multidão.
Segundo a organização independente paquistanesa Centro de Estudos de Investigação e Segurança, pelo menos 65 pessoas foram assassinadas desde 1990 por multidões no Paquistão por causa de acusações de blasfémia.