Mercado de capitais impulsiona resultado da Gulbenkian para 84,4 milhões
Retorno financeiro de 180 milhões de euros no ano passado serviu para pagar despesas da fundação e reforçar fundo de capital
No ano passado, a Fundação Calouste Gulbenkian teve um resultado positivo de 84,4 milhões de euros, em comparação com um resultado negativo de 142 milhões de 2015. Esta variação teve dois alicerces: o mercado de capitais e a Partex, a petrolífera da fundação.
De acordo com o relatório e contas (R&C) da Gulbenkian, agora publicado, os resultados de activos e passivos financeiros correntes, onde se destacam as acções de empresas detidas pela fundação, geraram 144,8 milhões de euros (contra 15,2 milhões de 2015) na sequência de um ano em que as bolsas deram sinais de recuperação. Depois, houve mais 29,6 milhões que chegaram através da Partex numa conjuntura de baixa do preço do petróleo (-64 milhões em 2015).
Ao todo, e contando com rubricas como os activos financeiros não correntes (como o imobiliário), o retorno financeiro foi de 180 milhões de euros (-47 milhões em 2015, ano negativo para a fundação).
Foi deste valor (a que poderíamos chamar lucro, se a fundação fosse uma empresa) que saiu o dinheiro para pagar aquela que é a missão da Gulbenkian, ligada ao desenvolvimento das artes, educação e ciência. Segundo o R&C, o custo total líquido foi de 97,6 milhões, menos 3,1% do que em 2015.
Retirando da análise os custos com trabalhadores, a principal rubrica são os concertos com 10,6 milhões de euros (224 sessões), seguindo-se os subsídios (591) com um valor quase idêntico.
Os 84,4 milhões de euros gerados em 2016 vão reforçar o fundo de capital da fundação, que corresponde ao património líquido da Gulbenkian. Este funciona como o pulmão financeiro, e fechou o ano nos 2532,6 milhões de euros (+3,5% em relação a 2015), o que equivale a 83% do activo consolidado.
Na introdução ao R&C, o presidente cessante, Artur Santos Silva, refere que o valor do património líquido é sensivelmente igual ao montante registado no final de 2011, e que encontrou quando tomou posse. Isto porque, apesar de ser cerca de cem milhões de euros mais baixo, houve a imposição de uma alteração contabilística que alterou os dados num montante perto desse valor.
Para Artur Santos Silva, que passa agora as contas de deve e haver para as mãos de Isabel Mota, a sustentabilidade da estrutura de custos fixos é “essencial para proporcionar a indispensável agilidade em tempos incertos e perturbados como os que vivemos”. E, olhando para este indicador, há sinais de controlo da despesa. No ano passado os custos com pessoal, por exemplo, desceram 5,6%, ou 1,8 milhões, para 30,3 milhões de euros, o que compensou a subida dos encargos com pensões. Estes subiram 6,6%, ou 1,1 milhões, para 17,9 milhões.
Partex fora de Portugal
No R&C, Artur Santos Silva realça os 300 milhões de euros em dividendos que a fundação recebeu da Partex no período em que foi o seu presidente, nada dizendo em relação à sua presença em Portugal. Neste campo, e depois de várias polémicas, a petrolífera vai deixar de estar presente da pesquisa de hidrocarbonetos no mercado nacional, onde estava associada à Repsol, preparando-se para abandonar o projecto ao largo de Peniche depois do offshore algarvio.
De resto, e apesar da carta aberta subscrita por algumas figuras públicas, entre artistas e políticos (muitos dos quais ligados à esquerda), a solicitar que a fundação se desfaça dos seus activos petrolíferos (fonte de riqueza do seu fundador, Calouste Sarkis Gulbenkian), a Partex continua activa no Cazaquistão, Omã, Abu Dhabi, Brasil, Argélia e Angola.