Erdogan ameaça UE com abertura das fronteiras aos refugiados

A ameaça, a meses das eleições em França e na Alemanha, surge em resposta à votação no Parlamento Europeu a favor da suspensão das negociações para a adesão de Ancara à UE.

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Presidente turco não gostou da posição do PE sobre as negociações com a Turquia AFP/ADEM ALTAN

O Presidente turco, Recep Tayyip Erdogan, ameaçou abrir as fronteiras do país e deixar passar os refugiados que tentam chegar aos países do Norte da Europa, em resposta à resolução aprovada pelo Parlamento Europeu a exigir a suspensão temporária das negociações de adesão de Ancara à UE. Apesar da retórica inflamada, a ruptura das ligações entre os dois lados do Mediterrâneo não interessa a nenhuma das partes.

Erdogan sabe que o colapso do acordo celebrado em Março – ao abrigo do qual a Turquia se comprometeu a não permitir a passagem de refugiados para a UE – seria uma prenda para os partidos da extrema-direita europeus numa altura em que se avizinham eleições na Holanda, França e Alemanha. E faz questão de o recordar aos líderes europeus de cada vez que é criticado pela dureza da reacção à tentativa de golpe de Estado, tal como aconteceu na resolução votada quinta-feira em Estrasburgo, com o apoio das famílias políticas europeias.

“Vocês clamam quando 50 mil refugiados vão até Kapitule [na fronteira entre a Turquia e a Bulgária] e começam a pensar o que aconteceria se os portões se abrissem”, afirmou o chefe de Estado turco num discurso, quinta-feira à noite em Istambul, que tinha como destinatário a UE. Avisando que a Turquia “não se deixará afectar por ameaças vazias”, avisou que “se a UE for mais longe, os portões serão abertos” e acrescentou: “Não se esqueçam, o Ocidente precisa da Turquia.”

Reagindo às palavras de Erdogan, Ulrike Demmer, porta-voz do Governo alemão, afirmou que “ameaças de um ou outro lado não servem para nada”. “Consideramos o acordo entre a Turquia e a UE como um sucesso e a sua continuação é do interesse de todos os intervenientes”, acrescentou. O Governo francês, que, como Berlim, se distanciou da iniciativa do Parlamento Europeu, foi mais contundente, fazendo saber que “as tentativas de superação e as controvérsias são contraproducentes” para os dois lados. Também a Comissão Europeia garantiu estar “plenamente empenhada na aplicação do acordo”.

O entendimento levou à redução drástica do número de refugiados que chegavam às ilhas gregas – foram mais de um milhão só em 2015, com a Turquia a comprometer-se a aceitar todos os que fossem deportados e a combater o tráfico de pessoas. A Ancara foram garantidos milhões de euros para ajudar a melhorar as condições de vida dos refugiados, a aceleração das negociações de adesão e o fim dos vistos para os seus cidadãos – promessas que Erdogan diz não estarem a ser cumpridas. Ainda assim, poucos acreditam que Erdogan vá ao ponto de quebrar o acordo, ou, como sugeriu recentemente, referendar a continuação das negociações de adesão, pondo em risco as relações com um bloco que é, de longe, o seu principal parceiro comercial.

 

 

 

 

 

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