Faltam especialistas no SNS para tratar a psoríase, diz investigadora
Estudo foi apresentado na Assembleia da República nesta terça-feira.
Os “recursos limitados do Serviço Nacional de Saúde”, como “a falta de especialistas e a dificuldade na marcação” das consultas, dificultam o acesso dos doentes com psoríase aos cuidados de saúde, diz um estudo da Associação Portuguesa da Psoríase e da Faculdade de Farmácia da Universidade de Lisboa.
“Isto é uma doença que tem de ser tratada por dermatologistas, que não existem disponíveis ao nível do Serviço Nacional de Saúde”, diz Sofia Oliveira Martins, responsável pelo trabalho intitulado PeSsOa - Viver com Psoríase.
No estudo, que teve o apoio da Novartis, e que foi apresentado nesta terça-feira, na Assembleia da República, no âmbito das comemorações do Dia Mundial da Psoríase, que se assinala a 29 de Outubro, defende-se que as falhas no Serviço Nacional de Saúde têm levado os doentes a recorrer ao sector privado, encarecendo os custos da doença. O inquérito que esteve na base desta análise mostra que 56,2% das pessoas com psoríase vivem quase todos os dias com sintomas da doença, como a depressão e a ansiedade.
“Nos Açores todos os doentes foram diagnosticados por dermatologistas, o que nem sempre acontece no Continente, onde só 75% dos doentes, aquando do diagnóstico, tiveram acesso a um dermatologista”, revelou ao PÚBLICO Sofia Oliveira Martins, professora da Faculdade de Farmácia.
Doença auto-imune
“Muitos doentes e mesmo muitos clínicos vêem a psoríase como uma doença da pele, mas na realidade é uma doença auto-imune, em que o sistema imunitário agride o organismo a vários níveis, onde o mais visível é na pele”, diz Sofia Oliveira Martins. “Ao mesmo tempo que aparecem sintomas na pele, aparecem sintomas a outros níveis, como no sistema nervoso central, que se revela na depressão e na ansiedade, e, sobretudo, ao nível cardíaco”, havendo maior probabilidade de terem hipertensão e até um AVC.
João Ramos, deputado do PCP, defendeu nesta terça-feira que este estudo revela as dificuldades que o SNS ainda vive e que devem ser resolvidas, porque “quem não tem uma resposta merece e tem direito a tê-la”.
A investigação, que é a primeira ao nível clínico-epidemiológico em Portugal, “pretendeu caracterizar o perfil dos doentes portugueses, assim como o acesso a cuidados de saúde, a utilização de recursos e tratamento, quantificar o impacto social e económico associado à psoríase e estimar o impacto laboral/escolar, familiar e social associado à doença e ao seu tratamento”, disse em nota de imprensa a Associação Portuguesa da Psoríase.
250 mil doentes
O estudo foi feito com base em 564 respostas válidas a um inquérito. A maioria dos doentes inquiridos são do sexo feminino (62%), com idades entre os 18 e os 65 anos; 72,1% são trabalhadores activos. Destas respostas, 67,5% têm o diagnóstico da doença há mais de 10 anos.
A psoríase é uma doença crónica inflamatória, auto-imune e não-contagiosa, que se caracteriza pelo aparecimento de eritemas cobertos por escamas de cor esbranquiçada. Afecta entre 1% a 3% da população mundial e em Portugal estima-se que atinja 250 mil doentes.
Este ano, a Organização Mundial da Saúde caracterizou a psoríase como “uma doença sistémica, que afecta o corpo todo”. E publicou também o WHO Global Report on Psoriasis, que “enfatiza a necessidade de aumentar a investigação terapêutica e capacitar os decisores políticos com soluções práticas para melhorar a saúde e inclusão social das pessoas afectadas.
No debate desta terça-feira na Assembleia da República, também foi lançada a campanha Uma pele para a vida, que conta a história de cinco pessoas que vivem diariamente com a doença, que pretende sensibilizar as pessoas para as consequências da psoríase.
Texto editado por Andreia Sanches