Fortes bombardeamentos em Mossul, à espera da ofensiva contra o Daesh

ONU avisa que a operação para reconquistar a maior cidade já conquistada pelos radicais pode provocar 1 milhão de deslocados.

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Forças curdas em treinos para a batalha de Mossul Ari Jalal/Reuters

Ao início deste sábado, o presidente da região autónoma do Curdistão iraquiano, Massoud Barzani, afirmava ser “tempo de começar a libertação de Mossul”. Perto das 22h (meia-noite em Bagdad, o analista Charles Lister escreveu na sua página de Twitter: “Operação Mossul vs. ISIS começa… Artilharia pesada dirigida pelos EUA a atingir agora alvos no Leste e Ocidente da cidade. Segue-se um enorme desafio”.

Lister é um dos investigadores do Middle East Institute, especialista em terrorismo e revoltas na região, escreve com muita frequência sobre a Síria, o Iraque e Daesh (o autoproclamado Estado Islâmico, ou Estado Islâmico do Iraque e de al-Shams, ISIS em inglês). Mossul é a segunda maior cidade do Iraque e o último grande bastião dos radicais no país.

Pouco antes de Lister, foi o jornalista curdo iraquiano Barzan Sadiq a descrever também no Twitter que havia “artilharia a disparar contra posições do ISIS no Leste de Mossul e bombardeamentos fortes de aviões da coligação no interior” da cidade.

Sabia-se que esta operação podia estar iminente, até houve notícias nos últimos dias de uma rebelião interna do Daesh em Mossul: segundo a Reuters, os líderes jihadistas executaram 58 suspeitos de participarem numa conspiração para ajudar a derrotar o grupo e a devolver o controlo da cidade às forças governamentais iraquianas.

Entre os alegados conspiradores, garante a agência de notícias, estava um colaborador próximo do líder do Daesh, Abu Baqr al-Baghdadi. A Reuters não publica o nome deste homem, nem de qualquer dos envolvidos na conspiração, para “evitar riscos acrescidos de segurança para as suas famílias”.

“Estes eram membros do Daesh que se viraram contra o grupo em Mossul”, diz Sabah al-Numani, porta-voz dos Serviço de Contraterrorismo de Bagdad. “É um sinal claro de que a organização terrorista está a perder apoios, não só da população mas dos seus próprios membros.”

Capital do Norte

Com uma população de mais de dois milhões de habitantes antes de ser tomada pelo Daesh, em Junho de 2014, Mossul é um prémio gigantesco para o grupo. Considerada a capital do Norte iraquiano, tinha uma importante produção de petróleo, é um centro universitário e comercial. Tem pelo menos cinco vezes a dimensão de qualquer outra cidade que o Daesh já controlou.

A sua proximidade ao Curdistão iraquiano tornou Mossul especialmente importante para os curdos e para a sua segurança. “Todos os preparativos para a batalha estão feitos”, assegurava Barzani no comunicado da manhã de sábado. Espera-se que as forças curdas do Iraque, especialmente bem preparadas em comparação com o Exército e a polícia leais a Bagdad, tenham um papel fundamental nesta batalha.

As Nações Unidas avisam que esta ofensiva pode desencadear uma crise humanitária de grandes proporções, estimando que os combates podem obrigar um milhão de pessoas a fugir.

Cidade símbolo na Síria

O Daesh está sob pressão dos dois lados da fronteira que pôs em causa, ao partir da Síria para tomar vastas zonas do Iraque. Num e noutro país, há um conjunto de forças internacionais que se preparam, há muito, para tentar expulsar o grupo de Mossul e de Raqqa, a cidade síria que declararam capital do seu califado.

Horas antes das primeiras notícias sobre o que poderá ter sido o arranque da ofensiva para tomar Mossul, forças árabes da oposição síria apoiadas pela aviação e infantaria turca avançavam na direcção de outra cidade muito simbólica para os jihadistas, Dabiq, no Norte da Síria, muito perto da fronteira com a Turquia.

Os líderes dos radicais acreditam que é neste lugar que vai acontecer uma batalha apocalíptica entre o islão e a cristandade – o grupo até chamouu Dabiq à sua revista de propaganda e recrutamento em inglês. “Estamos prontos para a batalha e vamos tomar Dabiq não importa o preço”, disse, à Associated Press, Abdul Razzaq Freiji, um comandante rebelde sírio que está na Turquia.

 

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