A Europa de Leste contra Guterres

Este seria o ano da Europa de Leste. Se considerarmos o antigo "bloco de Leste", há oito candidatos.

Deverá confirmar-se hoje uma das grandes suspeitas sobre a corrida ao cargo de secretário-geral da ONU. Depois de cinco meses de escrutínio público e quatro eleições informais no conselho de segurança, uma candidata de última hora prepara-se para entrar em cena: o dark horse é Kristalina Georgieva, comissária da União Europeia para o orçamento e recursos humanos.

O nome tem um significado duplo: se entrar, é o nono candidato vindo da Europa de Leste (e na tradição da rotatividade na ONU, este seria o ano da região) e é uma mulher (e este é o ano em que há uma enorme pressão para pôr fim à hegemonia masculina na liderança da organização).

A Europa de Leste nunca teve um secretário-geral das Nações Unidas e a ONU nunca teve uma mulher na cadeira do topo. A Rússia, que tem poder de veto, já fez saber que quer um secretário-geral do Leste. Um dos dois votos contra que António Guterres teve na última votação poderá ter sido da Rússia. O outro é com certeza da Nova Zelândia, que tem uma candidata na corrida e, neste momento, um lugar não-permanente no conselho de segurança onde decorrem as votações.

Comparados com Guterres, os oito candidatos vindos do Leste têm tido resultados mais fracos: na última votação, a croata Vesna Pusic ficou em último; o motenegrino Igor Luksic em 11.º; a moldava Natalia Gherman em 10.º; o esloveno Danilo Turk em 6.º, a búlgara Irina Bukova em 5.º, o macedónio Srgjam Kerim em 4.º, o sérvio Vuk Jeremic em 3.º e o eslovaco Miroslav Lajcak em 2.º. Três são mulheres. Mas as mulheres do Leste não parecem ter hipóteses realistas. Uma já desistiu e as outras duas têm vindo a perder apoios a cada novo escrutínio.

É neste contexto que surge Georgieva, a nova rival de Guterres. Vem da Bulgária (parte da definição mais estrita de Europa de Leste), é conservadora de direita, e faz parte do núcleo duro do presidente da Comissão Europeia. Nos bastidores, fala-se do lobby que o próprio Juncker estará a fazer junto da Alemanha e da Rússia a favor da sua comissária.

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