Parabéns, ó Barroso!
Venha de lá essa Torre e Espada...
Desculpa tratar-te por tu mas não resisto. É verdade que não te conheço pessoalmente mas, para mim, és um herói como os jogadores da selecção a quem estamos autorizados a tratar por tu pela intimidade que com eles fomos criando diariamente na sua odisseia por terras de França.
Odisseia que não é superior à tua. Para mim, já és, com toda a justiça, uma figura mítica como um Vasco da Gama ou um Afonso de Albuquerque que povoam o nosso imaginário nacional. E só os invejosos poderão achar que estou a exagerar.
Também tu deste – quase ia escrevendo “destes” na emoção com que te escrevo... – novos mundos ao mundo enquanto levantavas bem alto o nome de Portugal por essas terras da estranja fora. Esta lança que cravaste no novo continente ao conseguires o lugar de chairman (!) e consultor no maior banco de investimento norte-americano só pode ter uma classificação: sublime!
As reacções dos invejosos de todo o mundo – sobretudo franceses ressabiados com a vitória no Stade de France dos teus companheiros no Olimpo – só vêm sublinhar o teu admirável feito ao saltar do topo da Europa para um dos topos da América. Esses miseráveis Moscovicis, Désires e outros a criticarem-te e a falarem de falta de ética devem estar a ver-se ao espelho.
Só quem não conhecesse a fibra de que és feito poderá ter ficado surpreendido com este teu acrobático salto. Eu lembro-me bem que quando estavas cá no topo nacional também soubeste dar o salto para Bruxelas, com evidente sacrifício pessoal mas em nome de uma nobre missão: defender os interesses nacionais em terras bárbaras. Com esse teu salto, homenageaste, de uma forma inesquecível, a epopeia dos portugueses que também iam a salto para França.
Depois, enquanto estiveste nesse teu exílio nunca se te ouviu um queixume, uma palavra de desagrado. Lembro-me bem que nesse teu esforço de bem servir, quando foste obrigado a ir passar umas curtas férias à Grécia, soubeste fazê-lo de forma a não onerar o orçamento da Comissão Europeia. São pequenos pormenores a que os comentadores, sempre prontos a criticar, não sabem dar valor mas que definem uma personalidade, um carácter.
Quero dizer-te que tenho acompanhado a tua brilhante carreira política sempre com o coração nas mãos e com a certeza que procuras sempre servir o teu país da melhor maneira. És aquilo que se chama um “político de mão cheia”, uma figura ímpar no panorama nacional e internacional.
A recente publicação no Reino Unido do relatório do Irak Inquiry com conclusões devastadoras quanto à forma como foi decidida a invasão do Iraque enganando tudo e todos numa sinistra cruzada contra os infiéis, infelizmente, não dá o devido valor à tua participação nessa – mais uma – odisseia da tua vida. Sim, lamentavelmente, neste relatório, na parte que respeita à histórica cimeira dos Açores em que o teu papel – como todos nós vimos – foi determinante, o teu nome nem sequer é referido!
A histórica Cimeira dos Açores em 16 de Março de 2003, para o tal Sir John Chilcot autor deste mísero relatório, só contou com a presença do senhor Blair, do presidente Bush e do primeiro-ministro Aznar. Basta este facto para se perceber a falta de fiabilidade e profundidade deste relatório. Mas – e isso é o que importa – alguém ouviu de ti uma queixa? Uma reclamação? Exigiste o teu lugar ao sol junto dos responsáveis? Não!
Soubeste – como sempre – calar o que certamente te ia na alma, mostrando, uma vez mais a tua resiliência. Veio este relatório, mais uma vez, reafirmar a inexistência de armas de destruição maciça no Iraque. É por demais evidente que esse tal Sir nunca te ouviu, numa evidente manifestação de parcialidade. Eu não me esqueço que, na altura da invasão, declaraste publicamente no nosso país que tinhas visto as provas da existência dessas armas que justificavam aos olhos da opinião pública a invasão. Enfim, esse tal de Chilcot fica bem na companhia dos Moscovicis e outros que tais.
A terminar e quanto a esta tua ida para a Goldman Sachs – um nome gravado a letras de ouro nesta difícil construção da Europa – não posso deixar de lembrar as tuas lapidares palavras: “É-se criticado por ter cão e por não ter. Se se fica na vida política é porque se vive à conta do Estado, se se vai para a vida privada é porque se está a aproveitar a experiência adquirida na política”. Brilhante e arrasador, como sempre. Ou ainda, nas palavras de Morais Sarmento, um comentador insuspeito: "Ele vai desempenhar um lugar para o qual nunca um português foi nem é provável que seja tão brevemente convidado. Não é um lugar de representação, um alto-comissário para os refugiados”.
Sim, tu não és um palhaço pobre a tratar das misérias dos desgraçados que ainda sofrem as consequências da invasão do Iraque. Como tu próprio disseste: “Podia ter aceitado ocupações mais tranquilas, mas gosto de posições de desafio”. Ah, ganda Durão Barroso, és tu e a Goldman Sachs!
Advogado, francisco@teixeiradamota.pt