Desfez-se o “mistério” Obiang. Afinal, o dirigente plenipotenciário da Guiné Equatorial já não vem a Portugal em visita, pelo menos para já. Talvez mais tarde, talvez à sua frente venha uma comissão para preparar a sua chegada. Ou talvez tudo isto não passe de uma manobra de diversão. O convite para a malograda visita partiu do diplomata moçambicano Murade Murargy, secretário executivo da CPLP, admitiu o próprio ao PÚBLICO. Mas a que pretexto? Visitar a sede da organização, que por “acaso” fica em Lisboa? Mas Murargy não endereçou, que se saiba, qualquer convite do género a nenhum dos outros chefes de Estado da CPLP, então porquê Obiang? Porque já não vinha a Portugal há muitos anos (esteve cá em 2008) e tinha saudades? Porque, sendo “muito religioso” (afiança Murargy) tenciona fervorosamente visitar Fátima? Porque, havendo agora o III Fórum da União dos Exportadores da comunidade daria jeito uma visitinha? O mais curioso é que não só o autor do convite disse desconhecer a agenda da visita como nenhum responsável do Estado português foi dela previamente avisado ou sequer a subscreveu. Ou seja: um Presidente de um país que integra (ainda que de forma polémica) a CPLP chegaria a Portugal sem qualquer convite das entidades oficiais. Nada disto batia certo e a visita foi cancelada a pretexto de que Obiang, reeleito em Abril por uns temíveis 98%, não pode sair do país porque está a formar governo. Risível a desculpa, quão estranho o convite. A verdade é que Obiang, ditador a caminho de uns 44 anos de mandato ininterrupto na Presidência, sempre dependeu de convites para se aproximar do que lhe interessa. Já em 2004 foi como convidado-surpresa de São Tomé que ele surgiu numa reunião da CPLP. Depois, sucessivos “convites” garantiram-lhe o estatuto de membro. Que na Guiné Equatorial nada ou quase nada tenha mudado, pouco importa. Não é disso que se alimenta a desvergonha dos interesses em jogo.