O jogo começa com o golo da Polónia. Um lançamento longo do lateral direito Piszckzec, a procurar as costas de Cédric, que deixou a bola chegar a Grosicki rendeu o golo polaco, com o extremo a ganhar o corredor e cruzar rasteiro e tenso para Lewandowski finalizar de primeira.

A exploração do adiantamento dos laterais lusos foi uma constante. Muito relevantes no momento ofensivo, os seus raides não eram compensados pós-perda de bola. Os médios não precaviam as subidas e as dobras dos centrais chegavam sucessivamente atrasadas. Foi principalmente pelo lado direito, de Cédric, que a Polónia alternava jogo directo com futebol apoiado (circulação apoiada rápida) e triangulações ao primeiro toque (Grosikci/Milik/Lewandowski).

A base posicional da Polónia, mais rotinada, dominou os primeiros 30 minutos. Os centrais (Glik e Pazdan) e o lateral esquerdo Jedrzejczyk não têm qualidade para uma saída de bola criteriosa, deveriam ter sido mais pressionados. Os médios portugueses ignoravam ou interpretaram incorrectamente o seu papel (zonas a ocupar ou homens a condicionar), com o trio Renato/Adrien/João Mário a trocarem de posição sem nexo, permitindo que os polacos articulassem o seu jogo. Krychowiak a ligar sectores, Maczynski a consolidar processos e Milik a criar ao centro.     

Só depois da primeira meia hora é que o “caos táctico” dos posicionamentos foi substituído por uma “alternância racional de ocupação”, com os médios a terem a mesma abordagem versátil inicial, mas agora a conseguirem pressionar alto ao centro e prevenir as subidas dos laterais, com Cédric a necessitar de mais atenção.

Foi com Adrien e Renato adiantados junto de Ronaldo (formando um 4x3x3) que Portugal conseguiu importunar o início de construção contrário e fechar os corredores. João Mário e Nani abertos nos flancos em ajuda defensiva e William (novamente pouco dado nos momentos de organização atacante) a estabilizar nas coberturas.

Só com esta postura mais temerária, novamente com Renato em destaque, é que foi possível uma gestão da posse de bola mais habilidosa. Maior número de jogadores em zonas de finalização, linhas de passe mais próximas e interligação equilibrada com a subida dos laterais. Assim nasceu o golo do empate, com Adrien a servir Renato que tabelou com Nani. Recebeu de novo, puxou para o meio e atirou forte de pé esquerdo (conta com um desvio que muda um pouco a trajectória do esférico).

No segundo tempo a selecção entra estruturada num 4x1x3x2 bem definido, que, por vezes, se transformava em 4x1x4x1, dependendo do avanço/recuo de Nani (da faixa para dentro). Com Adrien no corredor central, eram João Mário e Renato que trocavam de posição (ala ou meio), nunca desorganizando o colectivo. Com o avançar do cronómetro Moutinho entrou para o lugar de Adrien (melhoria na circulação e variação do centro de jogo) e Quaresma substituiu João Mário (para elaborar um truque de magia). Já na primeira parte do prolongamento Danilo “sentou” William no banco para refrescar a zona à frente da defesa.

Foi através dos penáltis que Portugal passou às meias. Uma “ciência exacta”, não uma “lotaria”, em que a aleatoriedade tradicional do futebol desaparece. Premeia sempre quem é mais preciso, tranquilo, confiante, certeiro. Um “universo à parte” que glorifica a qualidade e concentração. A sorte e o azar não entram. Analista de futebol