Estar preparado para o exame não é o mesmo que saber
No percurso de um aluno de Letras & Humanidades — insiro-me nesse leque de estudantes —, os exames são omnipresentes. Há professores que consideram o momento das provas como o propósito de todo o seu trabalho como docentes. Também os há que não têm esta visão.
A minha “preparação para os exames” (conceito algo esquisito) variou consoante as perspectivas de cada professor em relação ao exame. Por sorte, coube-me aprender com docentes que tinham uma relação saudável com este acontecimento avaliativo e que, apesar de não descurarem a sua “preparação”, tinham projectos pedagógicos que em muito extrapolavam os exames nacionais. Estes ensinaram-me que perceber as matérias de três anos de estudo era essencial para estar “preparado para o exame”. No entanto, estar apenas “preparado para o exame” não significa compreender e entender as matérias de três anos de estudo. Ou seja, um aluno que entenda História será possivelmente bem-sucedido na prova nacional dessa disciplina, ao passo que estar apenas preparado para o exame de História não significa perceber História, ou sequer conseguir fazer História.
As provas sempre foram para mim um acontecimento marcante, de expectativa, romanesco até: relembro o rapazinho de dez anos, comparando com os exames de Harry Potter o nervoso miudinho, o aparato e a solenidade que a ocasião nos transmitia a todos. Era uma sensação de independência e de fantástico — extraordinária.
Ora, romanesco está a ser o meu estudo. Disse-me alguém que a melhor preparação para um exame era, nos dias antes, dormir e comer bem. Seguindo este conselho, fui até ao campo para estudar Português. O meu método consiste em ler as obras assinaladas, de modo a entrar no ritmo próprio de cada autor (nas aulas já as dissecámos, por temáticas, questões, etc.) e estudar o funcionamento da língua, de modo a penetrar na lógica da gramática, ou dos recursos estilísticos, por exemplo. Pretendo criar uma relação, uma identificação, com o que estudo, de modo a torná-lo realmente meu — a integrá-lo em mim.
É importante especificar os objectivos dos alunos intervenientes na discussão sobre o exame: os discentes de Ciências ou Economia, mesmo que tencionem ingressar numa universidade portuguesa, deparam-se com médias de entrada para os seus cursos significativamente mais altas que as médias dos cursos de Humanidades — e é na relação das médias que o exame tem mais influência e causa mais dissabores.
No fundo, enfim, a prova pode ser encarada como momento de aprendizagem — uma experiência. E o meu objectivo não será tanto estar “preparado para o exame”, mas sim estar consciente das aprendizagens que fiz ao longo destes três anos, ser capaz de fruir delas e de as utilizar fora dos contextos de avaliação formal.
Aluno do 12.º ano, Escola Secundária de Camões, Lisboa