À entrada dos jardins da Villa Hériot, na ilha da Giudecca, uma peça em X, de forma minimal, feita em mármore de Estremoz, mostra a primeira das suas potencialidades: um suporte para bicicletas, com um modelo da marca italiana Alpina acoplado – e não lhe falta, inclusivamente, o buraco por onde passa a corrente de segurança. Mais à frente, duas crianças brincam em volta de outras peças iguais, mas em mármore de cores diferentes – a criação da arquitecta sueca Mia Hägg é destinada ao espaço público, e mostra que ela acredita que o uso da bicicleta constitui uma forma mais ecológica de viver.

Mia Hägg é uma dos cinco arquitectos/ateliers convidados pela ExperimentaDesign e pela Assimagra – Associação Portuguesa dos Industriais de Mármores, Granitos e Ramos Afins para integrar o primeiro núcleo do projecto Resistance, que teve a primeira apresentação pública na tarde desta quarta-feira, em Veneza, logo a seguir ao programa de inauguração do Pavilhão de Portugal.

Os outros autores são Álvaro Siza, a britânica Amanda Levete (autora do projecto do Museu da EDP, em Lisboa), o indiano Bijoy Jain e o atelier Elemental, de Alejandro Aravena. O comissário da 15.ª Bienal de Veneza conseguiu um pequeno intervalo na preparação da bienal que tem inauguração oficial no sábado para se deslocar à Giudecca, onde falou muito a correr do projecto – ainda na fase de desenho experimental em folhas A4 – em que o seu estúdio está a trabalhar para criar um equipamento lúdico de ressonâncias ancestrais.

Também presentes, Levete e Siza, acompanhados por Guta Moura Guedes, directora da Experimenta, e por dirigentes da Assimagra, guiaram o primeiro-ministro António Costa na visita às peças já construídas e às outras ainda em conceito. Entre as primeiras, está o banco de jardim que Siza já desenhou há vários anos – “fi-lo para o Banco Borges & Irmão, em Vila do Conde”, disse o arquitecto ao PÚBLICO –, e que lhe permitiu reafirmar que “o mármore de Estremoz é o melhor do mundo”. Tanto a chaise longue de Siza como as combinações “metamórficas” de Levete apelaram também à atenção das crianças que as experimentaram repetidamente sob o sol de Veneza. “Isto significa que as peças funcionam”, comentou Siza.

Todas estas obras – incluindo a Lore, de Bijoy Jain, ainda em criação – estavam também documentadas, nas suas diferentes fases de concepção, numa exposição de desenhos, fotografias e vídeos instalada no interior da Villa Hériot.

Um segundo grupo de arquitectos – que incluirá Souto de Moura e Carrilho da Graça, entre outros – foi já convidado pela ExperimentaDesign e pela Assimagra a desenhar um novo conjunto de peças que mostrem as potencialidades – de resistência e de criação – dos mármores e calcários de Portugal. A apresentação será feita na Feira de Arte de Basileia, no próximo ano.

O PÚBLICO viajou a convite da Experimenta Design e da Assimagra