Táxis, Uber ou um taxuber?
Há quem a coloque na categoria da economia de partilha ou no chamado "turismo digital". A Uber é uma aplicação usada nos telemóveis e faz um encontro entre a oferta e a procura, entre quem precisa de transporte e quem está disponível para usar o seu automóvel para fazer essa viagem. Naturalmente que, ao entrar no sector dos serviços de transporte, a Uber chocou de frente com os táxis que reclamam que os serviços da empresa de São Francisco vieram distorcer a concorrência, precisamente o argumento oposto ao que é usado pelos defensores da Uber. A convivência entre uns e outros não tem sido pacífica, e o facto de vários países estarem a encontrar soluções diferentes para problemas idênticos só espelha a complexidade do tema.
Os tradicionais táxis talvez tenham razão quando dizem que a Uber está a contornar a lei ao recorrer às operadoras com licença de transporte de turistas e de aluguer de automóveis. Os taxistas reclamam pagar taxas em excesso, dizem que a Uber não tem seguro de transporte de passageiros, que os seus motoristas não têm protecção laboral e formação profissional, que a empresa norte-americana paga menos impostos, tudo factores que distorcem a concorrência.
Mas quando olhamos para o sucesso da Uber é difícil não concluir que alguma coisa vai mal no mundo dos táxis. O profissionalismo, a comodidade, a previsibilidade do percurso e dos preços, a cortesia, a simpatia, a prática bastante salutar de o cliente poder avaliar a qualidade do serviço prestado, o facto de o cliente não ter de se preocupar em andar com dinheiro na carteira, são tudo qualidades que os clientes enaltecem nos serviços da Uber.
Não existe uma solução fácil para que os táxis e empresas como a Uber possam ter uma convivência tranquila, mas ela terá de passar necessariamente por se preencher algum do vazio legal em que opera a Uber e por permitir que o mercado funcione de forma concorrencial, de modo que os táxis também possam melhorar a qualidade dos seus serviços, numa convergência sã que poderá resultar numa espécie taxuber.
Condenável tem sido a atitude de alguns taxistas que têm procurado, pela via da violência e da intimidação, travar a Uber. “Condenamos vivamente estas atitudes, mas, de alguma forma, até as entendemos porque a revolta é muito grande (…)”, diz o presidente da ANTRAL. Não senhor presidente, isto não é coisa para se entender, é coisa para se envergonhar.