Claudio Ranieri: a dimensão física em cima da organização defensiva
O perfil do treinador mais surpreendente da actual edição da Premier League, traçado por três dos seus antigos jogadores.
A condição física e a exigência absoluta no treino. A pressão sobre o adversário após a perda da bola e a qualidade no momento da organização defensiva. Estes são alguns dos pontos fortes de Claudio Ranieri, o treinador do momento em Inglaterra e também na Europa, que continua a assistir entusiasmada ao conto de fadas protagonizado pelo Leicester City, líder improvável da Premier League a sete jornadas do fim. É uma espécie de perfil do italiano traçado por três jogadores que lhe passaram pelas mãos.
Já muito se escreveu sobre o papel preponderante que jogadores como Jamie Vardy, Riyad Mahrez, Daniel Drinkwater, Robert Huth ou Kasper Schmeichel desempenham na equipa sensação da Liga inglesa. E também já se fizeram elogios rasgados à organização do Leicester, uma equipa sólida a defender, bem preparada fisicamente e muito sagaz no momento da transição ofensiva. Mas como é trabalhar com Claudio Ranieri? Quais os aspectos que o treinador mais privilegia no seu modelo de jogo?
As respostas são dadas por antigos jogadores do Chelsea, durante o período 2000-04, quando em Stamford Bridge reinava o italiano. “A condição física é importante, porque ele quer ter a certeza de que os jogadores se exibem a bom nível e estão concentrados até ao fim”, aponta o holandês Mario Melchiot, que fez 165 jogos pelos londrinos. “Ele detesta jogadores que se cansam e cometem erros infantis.”
O compatriota do lateral direito, o guarda-redes Ed de Goey, corrobora essa leitura: “É o típico treinador italiano, que gosta de trabalho físico e de sessões de trabalho longas. Muitas coisas têm que ver com potência muscular e isso vê-se na forma como o Leicester está a jogar: eles correm imenso e isso ajuda-os a conseguir bons resultados.”
Essa é apenas uma dimensões do trabalho que Ranieri tem desenvolvido nesta época. Outra delas, igualmente determinante, é a forma minuciosa como estuda os adversários — e neste particular o trabalho de Adam Sadler é essencial (ver entrevista ao lado). “Ele adapta-se muito bem aos rivais. Conhece as suas forças e fraquezas, esse é um dos seus pontos fortes”, observa Ed de Goey, recordando que as conversas com o plantel costumavam ser longas porque o inglês de Ranieri não era especialmente famoso.
De então para cá, o italiano já terá melhorado um pouco o domínio da língua, uma ferramenta relevante para passar a mensagem com eficácia. E defender continua a ser um aspecto a que dá total primazia. “Ele sabe pressionar o adversário como ninguém e ensina-nos a defender em bloco como nunca antes defendemos. Tem de haver entreajuda, caso contrário ele tira-te da equipa”, assinala Melchiot.
Por muito próxima que tenha sido a relação dos jogadores com o antigo técnico, nenhum deles era capaz de prever uma ascensão meteórica como a que está a ser protagonizada em Leicester. Geremi, médio camaronês que realizou 109 jogos pelo Chelsea, aplaude o percurso do outsider e destaca que muitas barreiras têm vindo a ser ultrapassadas. “No início, toda a gente dizia que o Leicester ia cansar-se, que ia começar a perder, mas tem um treinador experiente que sabe que há história para fazer. Não vai entrar em pânico nesta altura, sabe como gerir a equipa.”
E se essa gestão, nos tempos do Chelsea, tinha em conta a amplitude e a qualidade do plantel — o que permitia uma rotação regular, até para manter em alta os índices de motivação —, neste caso a equação é outra. O alerta parte de Ed de Goye: “O trabalho árduo é sempre a chave para o sucesso, mas teremos de ver até onde conseguem ir. Poderá depender das lesões e dos castigos, porque se alguma coisa acontecer a Mahrez e a Vardy, vão perder muita qualidade.” com Reuters