Polícia de Portugal dá 20 dias para brasileiro que foi agredido deixar o país

Depois de ficar machucado ao se envolver em uma briga em Lisboa, Ivo Silva de Souza não foi levado para um hospital e recebeu uma notificação de abandono voluntário do país por estar indocumentado.

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O músico Ivo Silva de Souza, com o rosto ferido, foi notificado pela polícia para deixar voluntariamente Portugal depois de se envolver em uma briga Arquivo pessoal
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Após se envolver em uma briga no bar Aché Cohiba, no domingo (05/01), no Bairro Alto, em Lisboa, o brasileiro Ivo Silva de Souza, 36 anos, recebeu uma “notificação para abandono voluntário do território nacional” da 3ª Esquadra da Polícia de Segurança Pública (PSP) de Portugal, para onde foi levado por volta das 2h da manhã. Pelo documento, Ivo tem até 20 dias para deixar o país.

O brasileiro, que é músico e tinha saído para comemorar seu aniversário, estava acompanhado de um amigo, o programador Ricardo Pasini, 35. Os dois, que ficaram bastante machucados na confusão, foram atendidos na rua por uma ambulância dos bombeiros. Mas, segundo Ivo, em nenhum momento, foi oferecida ajuda para levá-los até um hospital. “Fizeram um atendimento ruim, pífio”, critica.

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A Polícia de Segurança Pública deu 20 dias para o brasileiro Ivo Silva de Souza deixar Portugal voluntariamente Reprodução

O músico, que é de Niterói, região metropolitana do Rio de Janeiro, afirma que a polícia ficou mais preocupada em verificar se ele estava ilegal em Portugal do que com a integridade física dele e do amigo. “O pior de tudo foi a omissão de socorro. Nós fomos chutados, caímos de cabeça no chão, estávamos muito machucados, boca e nariz sangrando, e o policial querendo saber qual era a minha situação em Portugal. Em vez de nos levarem para o hospital, nos levaram para a delegacia, onde ficamos durante quase quatro horas. Só saímos de lá de manhã”, relata.

Segundo Ivo, que está em terras lusitanas há 10 meses, quando ele completou três meses em Portugal, em junho passado, a manifestação de interesse foi extinta pelo Governo. Por meio desse instrumento, qualquer estrangeiro que entrasse em território luso poderia requerer à Agência para a Integração, Migrações e Asilo (AIMA) a autorização de residência. À época, o Governo alegou que a manifestação de interesse era a grande responsável pelo acúmulo de cerca de 450 mil processos junto à AIMA.

Busca por ajuda

Ao tomar conhecimento da situação documental de Ivo, o policial que registrou a agressão mandou que ele procurasse a AIMA para tratar da regularização no país. “Agora, tenho 10 dias para entrar com uma ação judicial. Mas não tenho dinheiro para contratar um advogado. Estou vendo se consigo assistência jurídica gratuita. Caso contrário, bye-bye, Portugal”, afirma. Além de tocar saxofone, Ivo ganha o pão de cada dia com empresas de eventos e bares. “Eu contribuo para o país”, ressalta.

O músico, que acordou nesta segunda-feira (06/01)) com dores pelo corpo, acha que pode ter fraturado uma costela. E acredita que ele e o amigo apanharam por serem brasileiros. “Creio que houve discriminação”, frisa. Ele reconhece, porém, que, trabalhando como músico nas ruas lisboetas, nunca sofreu qualquer tipo de preconceito. “Mas esperava que um dia isso fosse acontecer”, lamenta. “Vim para Portugal com intuito de conhecer a Europa, de estudar, trabalhar, mas, realmente, aqui não é o meu país”, assinala.

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Todo machucado, depois de ser agredido, o programador Ricardo Pasjni embarca nesta terça-feira (07/01) para o Brasil e não sabe se retornará para Portugal Arquivo pessoal

Ricardo, por sua vez, procurou atendimento médico, levou pontos na boca e está com o nariz quebrado. Ele tem viagem marcada para o Brasil nesta terça-feira (07/01). O programador, que mora em Aveiro, aguarda a AIMA entregar a documentação. “Ele me falou que, talvez, nem volte mais para Portugal”, conta Ivo.

Procurada pelo PÚBLICO Brasil, a 3ª Esquadra da PSP disse que não poderia dar informações sobre o caso. No bar Aché Cohiba, até o fechamento desta reportagem, não houve retorno às tentativas de contato. O espaço continua aberto para qualquer manifestação.

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