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Venda de 5% da CP Carga a trabalhadores abre caminho a reforço da MSC

Venda de capital está "para breve", mas há pouco interesse em ser accionista da empresa. “A MSC se quiser que fique com os 5%”, diz a Comissão de Trabalhadores.

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Venda dos 5% aos trabalhadores acontecerá "dentro de semanas" Patrícia Martins

Depois de ter formalizado a compra de 95% da CP Carga na passada quarta-feira, a MSC deverá reforçar a sua posição até um valor muito próximo dos 100%, porque a maioria dos trabalhadores da empresa não deverá fazer uso do seu direito a comprar os 5% que lhes estão destinados, de acordo com a lei-quadro das reprivatizações.

Fonte oficial da CP disse ao PÚBLICO que a operação de venda do lote de 5% que ainda está nas mãos do Estado deverá ocorrer “em breve, dentro de dias, no máximo semanas”. Os trabalhadores poderão adquirir essas acções com um desconto de 5% sobre o valor pago pela MSC, através de uma operação de oferta pública de venda (OPV).

No entanto, a OPV, dirigida exclusivamente a trabalhadores da CP Carga, deverá ter uma recepção residual por parte dos funcionários da empresa. Raul Vasques, da Comissão de Trabalhadores da CP Carga, defende que “nenhum trabalhador está interessado nos 5%, porque querem é que seja 100% do Estado”.

Em declarações ao PÚBLICO, este dirigente diz que “a Comissão de Trabalhadores não vai participar nisso [compra de acções] porque está contra a privatização”, alegando que o presidente da CP, Manuel Queiró não tinha legitimidade para assinar a venda da CP Carga. Isto porque, diz, que a administração terminou o mandato em Dezembro e encontra-se em funções de gestão corrente. “A MSC, se quiser, que fique com os 5%”, concluiu.

A CP Carga conta com pouco mais de 500 trabalhadores, dos quais cerca de 50 são quadros superiores e chefias intermédias. E será eventualmente entre estes que poderá haver alguns interessados.

“A maioria dos trabalhadores, até pela sua cultura e pela cultura da empresa, não sabe muito bem o que são acções e não percebem o significado de poderem ser donos da empresa”, disse ao PÚBLICO um quadro da CP Carga, que pediu o anonimato. “Eu considero vir a comprar porque o valor que as acções têm hoje pode ser muito superior daqui a dez anos se este for um projecto vencedor”, disse, admitindo, no entanto, que a maioria dos trabalhadores, incluindo as chefias, não está interessado em comprar.

Um outro quadro, contactado pelo PÚBLICO, diz que não irá subscrever sua parte das acções e acha mesmo que os poucos que forem comprá-las o farão para agradar aos novos patrões.

José Manuel Oliveira, da Federação dos Sindicatos Ferroviários, diz que os 5% do capital acabam, nestas situações, por ir parar sempre às mãos da empresa. “Em todo o caso não temos visto nenhum entusiasmo, nem ninguém nos tem consultado com esse tipo de preocupações. Admito que um ou outro trabalhador se possa sentir dono da empresa na qual está a trabalhar, mas nós não nos metemos nisso”.

O presidente da MSC, Carlos Vasconcelos, questionado pelo PÚBLICO sobre se pretende vir a fazer uma oferta sobre as acções que forem compradas por trabalhadores no âmbito da OPV, diz que não pensou ainda nisso, garantindo apenas que honrará a obrigatoriedade de comprar as acções que não forem vendidas no lote dos 5%.

"Capitalismo popular" sem expressão
Além da CP Carga, falta também fechar o dossiê da TAP, onde haverá também a venda de 5% das acções da transportadora aérea aos trabalhadores. No entanto, este processo encontra-se parado, enquanto decorrem negociações entre o Governo socialista e os novos accionistas privados, Humberto Pedrosa e David Neeleman.

O anterior governo alienou 61% aos privados, mas agora o executivo liderado por António Costa quer que o Estado fique com a maioria do capital, ou seja, no mínimo, 50,1%. Assim, sendo os privados terão de encolher a sua posição para 44,9%, pelo menos numa fase inicial, podendo depois subirem mais um pouco a participação se os 5% para os trabalhadores não forem totalmente subscritos (ou se quiserem vender posteriormente).

Nos últimos anos, e apesar de o executivo PSD/CDS ter avançado com várias operações de privatização, como a da REN, CTT ou o da Fidelidade, os trabalhadores das empresas visadas mostraram-se pouco interessados, ou com pouca capacidade financeira, para ficarem com acções (ao contrário do que sucedeu nas duas décadas anteriores).

Nova estratégia na CP Carga
O presidente da Carlos Vasconcelos adiantou que dentro de poucas semanas será feita uma apresentação pública do projecto da MSC, que incluirá a atribuição de um novo nome para a CP Carga e a divulgação de como espera chegar a ser o maior operador ferroviário de mercadorias da Península Ibérica. Um objectivo ambicioso tendo em conta que a congénere espanhola Renfe Mercancias facturou 250 milhões de euros em 2014, contra os 64 milhões da CP Carga.

No universo da MSC, Portugal é o primeiro país onde a multinacional suíça, especializada no transporte marítimo de carga contentorizada, terá uma operação ferroviária.

Um terço da carga transportada pela empresa pública agora privatizada são contentores, grande parte deles com origem e destino em Sines transferidos de ou para navios da própria MSC. Desta forma a antiga cliente passa a ser agora a responsável pela operação da sua própria carga, sendo este segmento (carga contentorizada) aquele que mais deverá crescer com a nova gestão. Com Luís Villalobos

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