Se a TAP for pública não pode ser a “Air Alfacinha”, defende Rui Moreira
Fim da rota Milão/Malpensa e o anúncio da nova linha Lisboa-Vigo são os dois casos mais problemáticos para o presidente da Câmara do Porto
Depois de ter escrito, no Facebook, há apenas dois dias, que o fim das rotas da TAP entre o Aeroporto Francisco Sá Carneiro e a as cidades de Barcelona, Bruxelas, Milão e Roma “não nos preocupam”, o presidente da Câmara do Porto, Rui Moreira, veio dizer que, afinal, não é bem assim. O autarca reitera que não está, de facto, preocupado se a TAP se mantiver privada, porque “o mercado resolverá” o fim destas rotas, mas defende que a posição deve ser outra se a companhia aérea voltar, como pretende o Governo, para a esfera pública. “Se permanecer pública tem de prestar serviço público e desta vez, por uma vez, exigiremos que a TAP não seja a Air Alfacinha mas a Air Portugal”, disse, esta quinta-feira, em conferência de imprensa. Há mais críticas, mas também há quem veja nas mudanças uma “oportunidade”.
Acabado de regressar da Fitur – Feira Internacional de Turismo de Madrid, Rui Moreira chamou os jornalistas para deixar um alerta ao Governo. “Devemos centrar a discussão política na questão do que vai acontecer à TAP. É diferente se ela for privada ou pública”, defendeu. Porque se for pública, disse, há outro aspecto a ter em conta: “Aí temos a questão do interesse público e então teremos de perguntar se o interesse público no caso da TAP se resume apenas a Lisboa ou se todo o país vai ser contemplado”. Rui Moreira faz a pergunta, mas já tem a resposta pronta: “Se tivermos que ficar com a TAP, com todo o ónus que é para nós contribuintes ficar com a TAP, ao menos que sirva o país todo”, disse.
Em Dezembro, o autarca afirmara que a companhia aérea se preparava para abandonar os voos intercontinentais a partir do Porto, avisando que, se assim fosse, “o Porto abandonará a TAP”, procurando outras bases de ligação que não Lisboa. Já este ano, o presidente da TAP, Fernando Pinto, esteve no Porto, reunido com o autarca, e garantiu-lhe que os voos intercontinentais iriam continuar. Na mesma altura, Moreira foi informado que a TAP iria reduzir a operação de médio curso, mas segundo disse esta quinta-feira aos jornalistas, Milão e Bruxelas não foram hipóteses apresentadas no encontro.
E, neste momento, das quatro rotas que a TAP irá deixar de operar a Norte, Milão/Malpensa é aquela que mais concentra as atenções do autarca, já que é também a única que deixará, efectivamente de ser servida a partir do Porto – a Ryanair serve todas as outras, e também Milão mas através de Bergamo, e a Vueling serve Bruxelas e Barcelona. Por isso mesmo, Rui Moreira garantiu que já teve, na Fitur, “uma reunião com um operador no sentido de manter a rota Milão/Malpensa” que é, defendeu “a mais importante” de resolver. Moreira não quis dizer qual foi o operador que abordou, mas a Ryanair, que tem uma base em Milão, será a hipótese mais viável para essa ligação.
Insistindo que o mercado será a solução para o Aeroporto Francisco Sá Carneiro manter a oferta de rotas, o autarca afirmou não ter dúvidas sobre a intenção da TAP, enquanto empresa privada, de ter “apenas um hub, que é Lisboa”. A confirmação é o anúncio de que a companhia vai arrancar, em Julho, com a ligação Lisboa-Vigo. “Ao montar uma ligação Vigo-Lisboa o que a TAP está a dizer é que quer que os passageiros da Galiza em viagem para África ou para a América Latina o façam através de Lisboa, evitando o Aeroporto Francisco Sá Carneiro. É uma decisão estratégica de um operador privado e, sendo privado, temos de encontrar formas de resolver o problema através do mercado. Mas, se o Governo não quer privatizar a TAP, então volta a ser uma questão de interesse público”, argumentou.
O único ponto positivo que Rui Moreira encontrou no encontro com os responsáveis da TAP foi a garantia de manutenção dos voos de longo curso para o Brasil (S. Paulo e Rio de Janeiro) e os Estados Unidos da América (Newark). “Esses não são tão fáceis de resolver com o mercado, porque dependem de acordos de Estado”, justificou.
As críticas de Moreira foram acompanhadas pelo autarca da Maia, Bragança Fernandes, que, citado pela Lusa, acusou a TAP de estar “a desvalorizar o aeroporto internacional do Porto, uma infra-estrutura que custou 400 milhões de euros e que vai ser tomado pelas companhias aéreas low cost". O social-democrata apelidou a suspensão anunciada dos voos como “um absurdo” e disse mesmo que já pediu uma reunião com o ministro do Planeamento e das Infraestruturas, Pedro Marques, para discutir esta e outras questões. "As pessoas acham que pagam pouco [pelos bilhetes] nas low cost, mas o erário público está a pagar muito dinheiro, porque atrás das tarifas baratas há financiamento do Governo", frisou.
Por seu lado, a APHORT – Associação Portuguesa de Hotelaria, Restauração e Turismo que, em comunicado, garante não partilhar “do discurso pessimista” dos autarcas e outras entidades e que as mudanças anunciadas devem ser encaradas como “uma oportunidade para a região Norte”. A associação defende que se as rotas suspensas eram, de facto “deficitárias”, como argumenta a TAP, então a empresa deverá ter “a capacidade […] de encontrar rotas ‘positivas’ e benéficas para a região”.
Além disso, argumenta ainda, o turismo da região não está “refém” da TAP, pelo que o abandono de algumas rotas pela companhia deve ser “encarado como uma oportunidade e um desafio para que outras companhias aéreas se expandam ainda mais”. A APHORT vê ainda como um “benefício óbvio” o anunciado aumento de ligações aéreas da TAP entre Porto e Lisboa.