Quem será o próximo Portas?

Até agora, tudo indica que os nomes mais fortes para liderar o CDS-PP, depois da saída de Paulo Portas, serão o eurodeputado Nuno Melo e os ex-ministros Assunção Cristas e Pedro Mota Soares. Mas há outros candidatos possíveis e outros nomes fortes que terão uma palavra neste processo.

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Assunção Cristas Pedro Cunha/Arquivo
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Nuno Melo Bruno Simões Castanheira
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Pedro Mota Soares Rita Baleia
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Diogo Feio Pedro Maia
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Filipe Anacoreta Correia Daniel Rocha
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João Almeida Rui Gaudêncio
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Está aberta a sucessão de Paulo Portas como líder do CDS Miguel Manso

Assunção Cristas, a menina dos olhos de Portas

Quando chegou a ministra da Agricultura, não passou despercebida. Entre outros motivos, porque aprovou um despacho para dispensar os funcionários do seu ministério de usar gravata. A ex-ministra é seguramente um dos rostos mais bem posicionados para suceder a Paulo Portas na liderança do CDS.

A própria nunca fechou a porta a essa possibilidade e, além disso, é a menina dos olhos de Portas. Foi ele quem a convidou para o partido, depois de ver o seu desempenho num Prós e Contras, na altura do referendo sobre a despenalização do aborto em Portugal, em 2007. Assunção Cristas foi lá defender o não.

A própria conta o episódio numa entrevista a Anabela Mota Ribeiro, no PÚBLICO, em 2010: “O Dr. Portas viu e mandou-me um sms a dar os parabéns (eu nunca tinha falado com ele, ele arranjou o meu contacto). Quando voltou ao CDS telefonou-me. A mim, à Isabel Galriça Neto, a um conjunto de pessoas. A convidar, a provocar, a vir para a política.” Assunção Cristas disse então a Paulo Portas: “Não sei se gosto, não sei se isto faz sentido, não sei se isto é para mim, mas vamos experimentar.” Experimentou.

Torna-se militante do CDS em 2007, Paulo Portas escolhe-a para integrar as listas de candidatos a deputados na Assembleia da República, é eleita em 2009 e reeleita em 2011. O percurso de Assunção Cristas começou, porém, aos 27 anos, no gabinete da ministra da Justiça Celeste Cardona, a assessorar a centrista que fez parte do Executivo de coligação PDS-CDS chefiado por Durão Barroso.

Nasceu em 1974 em Luanda, Angola, licenciou-se na Faculdade de Direito da Universidade de Lisboa, onde deu aulas, tem um doutoramento em Direito Privado pela Universidade Nova. É casada, tem quatro filhos e é católica praticante. Não é contra o casamento entre pessoas do mesmo sexo.

Numa das sessões “Conversa sobre Deus”, uma iniciativa promovida pela Rádio Renascença, que decorreu na Capela do Rato, em Lisboa, disse, a propósito das dificuldades que a vida na política pode ter: “Inspirei-me em Jesus que nunca teve medo de se meter com gente pouco recomendável.”

Nuno Melo, o centrista que tinha “saudades” de Portas

O vice-presidente do CDS-PP é considerado o dirigente mais popular a seguir a Paulo Portas. É, também por essa razão, um candidato forte à liderança do CDS-PP, embora nunca tenha assumido a disponibilidade, ou o interesse, já demonstrados, por exemplo, pela ex-ministra Assunção Cristas.

O eurodeputado, que conheceu um grande protagonismo na comissão parlamentar de inquérito ao BPN, nascido em 1966 e natural de Joane, em Vila Nova de Famalicão, foi líder parlamentar na altura em que José Ribeiro e Castro presidia ao partido, entre 2005 e 2007. Foi, aliás, durante esse período, que disse uma frase que fez correr alguma tinta nos jornais: falou da falta que Paulo Portas fazia na liderança do partido. Foi num jantar de Natal, em 2006. Nuno Melo era então líder parlamentar. E, no estilo incisivo que lhe é atribuído por muitos, disse alto e bom som, naquela ceia, diante de todos, que o partido tinha “saudades” de Paulo Portas, que abandonara a liderança em 2005 depois da derrota nas eleições legislativas.

Este episódio marcaria o início da disputa pela liderança no CDS-PP. José Ribeiro e Castro acabaria por sair do Caldas em 2007 e Paulo Portas reconquistaria o poder, depois de se ter afastado por um período de dois anos.

Formado em Direito, Nuno Melo já foi, entre muitos outros cargos que desempenhou, presidente do Grupo Parlamentar do CDS-PP, deputado e ainda vice-presidente na Assembleia da República. Foi eleito pela primeira vez eurodeputado pelo CDS em 2009 e reeleito em 2014 pela coligação PSD/CDS.

Pedro Mota Soares, o ministro da vespa

Chama-se Luís Pedro Russo da Mota Soares e nasceu, tal como a ex-ministra Assunção Cristas, em 1974. E, tal como todos os eventuais candidatos à liderança do partido, também é licenciado em Direito. Fez ainda uma pós-graduação em Direito do Trabalho. Foi ministro da Solidariedade, Emprego e Segurança Social no anterior Governo de coligação PSD-CDS/PP, apareceu em todas as reportagens feitas na altura como o ministro que andava de vespa.

Foi o ministro da polémica redução de funcionários da Segurança Social, alguns dos quais o actual primeiro-ministro socialista pretende reintegrar a partir de 4 de Janeiro. Mota Soares já foi presidente e vice-presidente do grupo parlamentar do CDS, deputado à Assembleia da República em várias legislaturas, vice-presidente e secretário-geral do partido, presidente da Juventude Popular e vice-presidente dos Jovens Conservadores Europeus.

É um político que vem, aliás, do aparelho, que iniciou o seu percurso numa juventude partidária – nada semelhante, por exemplo, ao caminho percorrido por Assunção Cristas. É considerado pelos centristas como um bom negociador. Paulo Portas escolheu-o, aliás, para estar nas negociações com o PSD, com vista à formação de uma coligação, em resultado das legislativas de 2011.

Este ano, depois das últimas eleições, também fez parte da equipa que andou em conversações com o actual primeiro-ministro António Costa, com o objectivo de encontrar uma solução de Governo. Neste caso, porém, as negociações à direita saíram goradas, acabando antes por ser firmado um acordo entre o PS e a esquerda. Mota Soares já exerceu advocacia e é co-autor de alguns livros na área do Direito. 

Diogo Feio ou Nuno Magalhães?

Diogo Feio é outro dos nomes apontados como candidato à liderança, corporizando uma espécie de terceira via entre dois fortes sucessores. Mas não é o único: o líder parlamentar Nuno Magalhães é outra das hipóteses neste campo. Nuno Magalhães tem, de resto, sido elogiado por Paulo Portas pelo desempenho que tem tido no cargo. E também lhe reconheceram mérito e um tom moderado, quando foi preciso afinar posições entre as bancadas do PSD e do CDS-PP.

Nuno Magalhães, que tem sido eleito por Setúbal para o Parlamento e o rosto do CDS nesta região, já foi secretário de Estado da Administração Interna nos governos de Durão Barroso e, depois, de Pedro Santana Lopes. Também fez parte da equipa que, em 2011, negociou o programa de Governo com o PSD.

O vice-presidente do CDS-PP, Diogo Feio, também é visto pelos centristas como moderado, mais próximo de Assunção Cristas e mais distante de Nuno Melo. Nasceu em 1970 e também é licenciado em Direito, pela Universidade Católica. É ainda mestre pela Faculdade de Direito da Universidade de Coimbra em Ciências Jurídico-Económicas e agora está a fazer uma tese de doutoramento sobre a União Económica e Monetária orientada por Marcelo Rebelo de Sousa.

Este ano, a três dias das eleições legislativas, o centrista Diogo Feio escrevia um artigo para o Observador sobre a proposta económica, na qual colaborou, da coligação Portugal à Frente (PSD e CDS-PP). E para falar dela recorreu a conhecidas personagens da banda-desenhada: elogiou as medidas defendidas pelo Tio Patinhas e criticou o “caminho destas ‘magas patalógicas’ que só traz radicalismo, perigo e incertezas”. De um lado, elogios ao programa da direita; do outro, críticas ao dos socialistas.

Já foi deputado, presidente e vice-presidente do grupo parlamentar do CDS-PP, presidente do Conselho Nacional de Jurisdição do partido. Eleito em 2009, também exerceu funções como eurodeputado. Actualmente é advogado na Sérvulo & Associados, mas já passou pela “José Pedro Aguiar Branco e Associados”.

João Almeida, o candidato que já deixou de ser

João Almeida, que foi secretário de Estado da Administração Interna no anterior Executivo de direita, já se auto-excluiu da corrida para suceder a Paulo Portas à frente do partido. De qualquer forma, nunca avançaria contra Pedro Mota Soares. Esta terça-feira, no Facebook, o antigo porta-voz do partido escreveu claramente que não será candidato, embora admita escrever uma moção de estratégia que possa ser subscrita por outros militantes. Esse cenário vai depender do regulamento que vier a ser aprovado a 8 de Janeiro, mas foi defendido pelo próprio na reunião de segunda-feira da comissão política nacional.

É, também como Mota Soares, alguém que vem do aparelho, que passou pela Juventude Popular, da qual foi mesmo presidente. Acabaria, depois, por chegar a porta-voz, a vice-presidente e a secretário-geral do partido, a vice-presidente da bancada parlamentar. Foi deputado à Assembleia da República em várias legislaturas e deputado municipal em São João da Madeira (de onde é natural). Durante o seu percurso, foi também adjunto da vereadora Maria José Nogueira Pinto, na Câmara Municipal de Lisboa.

É visto dentro do partido como estando próximo, no que toca a questões económicas, da ala mais liberal. João Almeida foi também, durante parte do anterior Governo, um forte crítico do desempenho do ex-ministro das Finanças Vítor Gaspar, embora não tenha sido o único centrista a manifestar incómodo com as políticas seguidas – muitas das preocupações prendiam-se com a forma como estava a ser feita a consolidação orçamental.

A partir de certa altura foram mesmo noticiadas trocas de palavras azedas entre o ex-ministro e João Almeida nas reuniões de bancada. O então porta-voz do CDS chegou também a dar conta da sua insatisfação nas redes sociais. João Almeida nasceu em 1976, é igualmente licenciado em Direito, um curso que começou na Universidade Católica e terminou na Universidade Lusófona. Já foi presidente do clube de futebol “Os Belenenses”.

Anacoreta Correia ou Ribeiro e Castro?

Os rostos da oposição interna a Paulo Portas dificilmente terão apoios para vencer o partido, mas não é de excluir que um deles avance na corrida à liderança. Filipe Anacoreta Correia, líder da corrente interna Movimento Alternativa e Responsabilidade, considera ser nesta altura "prematuro" posicionar-se como candidato, e elogiou mesmo a decisã de Paulo Portas de sair da liderança neste momento.

Já o anterior líder do partido, José Ribeiro e Castro, criticou o timing de Portas, mas nada disse sobre a eventualidade de se candidatar. Ribeiro e Castro ficou fora das listas de candidatos a deputados nas últimas eleições, deixando o Parlamento. Em posição inversa está Anacoreta Correia, que chegará a S. Bento caso Portas renuncie ao mandato de deputado.

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