Anacoreta Correia desafia Nuno Melo a assumir se está disponível para liderar CDS
Dirigente do CDS recusa tabu de não se falar na sucessão de Paulo Portas.
Em declarações ao PÚBLICO, Filipe Anacoreta Correia sustenta que o vice-presidente não pode ser incoerente e avançar para uma candidatura à liderança do partido ao mesmo tempo que fica em Bruxelas, depois de ter criticado José Ribeiro e Castro por presidir ao CDS (2005-2007) e ser eurodeputado em simultâneo. “Seria bom que fosse coerente com a crítica e mostrasse disponibilidade para ser candidato a deputado à Assembleia da República”, afirmou o democrata-cristão, numa altura em que estão a ser definidas as listas da coligação PSD/CDS.
Filipe Anacoreta Correia recusa aceitar o tabu de não se falar na sucessão de Paulo Portas. “É uma coisa natural, sobretudo numa liderança tão longa. Faz parte da vida dos partidos. E a disponibilidade até vem de pessoas identificadas com a actual direcção”, defende, considerando que isso é independente dos resultados das próximas legislativas. “Dizem que se o partido perder as eleições, Paulo Portas pode ficar. Eu digo o contrário: Mesmo que o partido ganhe as eleições ele deve sair”, afirmou.
O assunto também não é tabu para Assunção Cristas, que já abriu a porta a ser candidata à sucessão de Portas. No CDS há a percepção de que a ministra é, porventura, a que, entre os possíveis candidatos ligados à actual direcção, faz melhor a ponte com o MAR, que é minoritário nos órgãos do partido. Sem querer assumir um apoio directo já, Filipe Anacoreta Correia não esconde que Assunção Cristas “é uma boa candidata”, embora admita que “não é consensual” no CDS. E Nuno Melo? “Ele deveria dar um sinal ao partido, mostrando a sua disponibilidade para ir para ser candidato a deputado. É indiscutível que tem muito para dar ao partido”, afirmou o rosto do MAR.
O PÚBLICO não conseguiu contactar o vice-presidente do partido, mas Nuno Melo tem afirmado que vai cumprir o seu mandato (o segundo) de eurodeputado até ao fim.
O posicionamento de Assunção Cristas, que tem uma menor ligação às bases do partido, irritou os centristas e está a gerar uma guerra surda no CDS. Este sábado, João Almeida, secretário de Estado da Administração Interna, e uma das figuras que está na grelha de partida na corrida à liderança, fez ouvir a sua voz sobre o assunto. Em entrevista ao Diário de Notícias, João Almeida sublinhou que “a sucessão [a Portas] não está aberta”. Uma resposta às declarações da ministra que disse recentemente ao Expresso não aceitar o tabu em torno da sucessão do actual líder.
Tal como no PSD, no CDS a versão oficial sobre o presidente (há 15 anos à frente do partido) é que Portas sucede a Portas, mesmo em caso de derrota nas legislativas. Mas no terreno os possíveis candidatos já se posicionam. Uns com menor ligação às bases como é o caso de Assunção Cristas, outros contam com a muita popularidade no partido como é o caso de Nuno Melo. Outros há ainda que são mais discretos como Pedro Mota Soares, ministro da Solidariedade e da Segurança Social, e Adolfo Mesquita Nunes, secretário de Estado do Turismo. Um nome que, ao que o PÚBLICO apurou, poderá vir a ter ainda mais projecção no partido. Pode voltar a ser candidato a deputado por Lisboa em lugar elegível e manter-se no Parlamento. Mas, nas próximas eleições para a Câmara de Lisboa, Mesquita Nunes poderá regressar como autarca.