Disponibilidade de Cristas para substituir Portas irrita centristas
CDS não gostou dos sinais da ministra para avançar para a liderança. "O partido não pode ser condicionado", assume um deputado.
A sucessão de Paulo Portas como líder do CDS (está no cargo há 17 anos, com uma interrupção de dois anos, entre 2005 e 2007) é quase tabu no partido. Poucos falam abertamente sobre o assunto, mas dão sinal de incómodo quando alguém tenta quebrar essa regra silenciosa. Foi o caso da vice-presidente Assunção Cristas, que disse esta semana, ao jornal digital Observador, estar ao serviço do partido para o que for necessário. E “se for necessário para isso [liderança] também estarei”, afirmou a ministra da Agricultura.
Muitos centristas não gostaram. Hélder Amaral, vice-presidente da bancada, foi um dos que reagiu publicamente com mais violência. “O partido não pode ser condicionado. Quando o doutor Paulo Portas quiser sair, sairá. Nesse momento, o partido tem de estar livre e estou certo de que haverá um leque de candidatos”, afirmou o deputado, que é considerado um homem de dentro do partido.
Mais moderado é Filipe Lobo D’Ávila, deputado e porta-voz do partido. A disponibilidade de Assunção Cristas “é bem-vinda, mas é extemporânea”, reagiu. O antigo líder do CDS, José Ribeiro e Castro, não quis comentar a posição assumida pela minista, mas não deixa de lamentar o que considerou ser um debate antecipado sobre a sucessão. “Quando nos círculos mais próximos dos líderes tanto no CDS como no PSD se fala na sucessão, isso significa o cenário da derrota. Isso anda nos corredores há bastantes meses e acho triste”, afirmou o deputado.
O CDS – muito impulsionado pelo seu actual líder - quer alimentar a ideia de que o partido foi capaz de gerar quadros com valor e com capacidade para substituir Portas. Na linha do ‘portismo’, que domina o partido há anos, há pelo menos outros dois nomes fortes para candidatos a líder: Pedro Mota Soares e Nuno Melo.
O eurodeputado é muito popular no partido e visto como aquele que é capaz de conquistar a liderança sem sobressaltos. Mas há quem o aconselhe a não avançar na próxima disputa para evitar tornar-se num líder de transição. Para essa fase há quem veja mais o perfil de Assunção Cristas. É considerada a “protegida” de Paulo Portas e quase a “preferida” para lhe suceder.
Num ponto quase todos estão de acordo: a ministra tem muito boa imprensa, mas falta-lhe a ligação às estruturas do CDS. “Falta-lhe partido”, comenta um centrista. Essa ligação às bases do CDS sobeja tanto a Nuno Melo como ao ministro Pedro Mota Soares. Este foi presidente da Juventude Popular, foi secretário-geral, foi líder parlamentar e tornou-se num dirigente em quem Portas confiou, tanto para as negociações com o PSD para a coligação de Governo em 2011, como para a coordenação da aliança com os sociais-democratas para as próximas legislativas.
Neste trabalho partidário, Mota Soares tem-se resguardado na sombra. Visto como ideologicamente mais próximo de Paulo Portas, o ministro é apontado como um forte candidato à liderança. Mas tem um handicap: o desgaste de ser ministro de uma pasta tão difícil como a da Segurança Social.
Há ainda um outro nome que muitos vêem como forte: João Almeida, actual secretário de Estado da Administração Interna. Liderou a Juventude Popular, foi secretário-geral do partido, deputado e o rosto da contestação do CDS ao ministro Vítor Gaspar. Tem agora uma pasta que para o CDS é crucial: a da comunicação.
“O João tem partido e tem tropas com ele”, observa uma fonte partidária. Resta saber se avançará na próxima disputa pela liderança do partido, que pode ser já em Outubro. No CDS acredita-se que o próximo líder sairá do ‘portismo’, mas a linha do Filipe Anacoreta Correia também poderá ter uma palavra a dizer. E resta a incógnita em torno de José Ribeiro e Castro, o líder que sucedeu a Portas após a derrota da coligação PSD/CDS em 2005.