Escolas artísticas têm as melhores médias no 6.º ano do ensino público

Colégios, que representam 16% do universo de escolas onde houve pelo menos 50 exames no 2.º ciclo, ocupam 87 dos 100 primeiros lugares.

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Daniel Rocha/Arquivo

A Escola Artística do Conservatório de Música Calouste Gulbenkian, em Braga, é a que tem a melhor média de exames de Português e de Matemática do 6.º ano entre todas as escolas públicas do país (3,92 valores). Repete, assim, o feito do ano passado. A directora diz que ali se trabalha para ter crianças felizes e bastante ocupadas com actividades várias. “Quanto mais ocupadas as pessoas estão, mais tempo e elasticidade intelectual têm para fazer tudo”, defende Ana Maria Caldeira.

O 2.º melhor resultado no 6.º ano, ensino público, está noutra escola artística: a do Conservatório de Música do Porto, com 3,77 de média — recorde-se que no ensino básico a escala de notas só vai até cinco valores, ao passo que no secundário vai até 20, e que só há dois exames obrigatórios no 6.º ano, que marca o final do 2.º ciclo, precisamente a Português e Matemática.

Veja a lista completa dos rankings

Entre os dez desempenhos mais altos das escolas públicas está ainda mais uma do ensino artístico: a Escola de Música do Conservatório Nacional, em Lisboa, com 3,61. Esta foi há poucas semanas notícia por lançar um apelo “em desespero absoluto” aos encarregados de educação, pedindo-lhes donativos para pagar contas correntes.

Nesta análise comparativa são consideradas as 1028 escolas onde em 2015 se realizaram pelo menos 50 provas finais de Português e de Matemática, no 6.º ano, por alunos internos (aqueles que frequentam a escola ao longo de todo o ano). Destas, 863 são escolas públicas (84%) e apenas 165 privadas (16%). Mas 87 das 100 melhores médias do país estão em escolas privadas.

Para chegar à primeira pública é preciso descer até à posição n.º 35 — e a Gulbenkian de Braga, como se viu, é a pública com resultados mais altos. Porquê? “Trabalhamos para o sucesso existencial dos alunos” é a resposta de Ana Maria Caldeira. Lembra que há anos que ali se conseguem boas notas nos exames nacionais (e não só no 2.º ciclo; no 9.º ano são a 6.ª pública e no secundário também costumavam destacar-se nos rankings, até que, há uns anos, os alunos do ensino artístico passaram a ser considerados alunos externos quando se apresentam a exame, pelo que os conservatórios desapareceram das listas ordenadas de médias que só têm em conta os alunos internos).

Prossegue a directora de Braga: para além das matérias do currículo normal, os alunos de uma escola de música “têm as classes de conjunto, as aulas individuais de instrumento, o coro, a orquestra, as actividades extracurriculares, o desporto escolar, a dança clássica, que a maioria frequenta, participação em concertos... desde pequeninos que passam aqui muito tempo e têm tanto para fazer que isso os torna muito organizados”.

“Muitas vezes, estamos muito preocupados com o sucesso académico, o que leva os alunos a pensar que, na escola, só têm que estudar muito para terem boas notas nos testes”, diz. “Mas a escola tem de ser um local que faz o aluno sentir-se feliz e realizado.” Acredita que, com tudo o que a sua escola oferece, isso acontece. “Penso que muitas escolas privadas, que estão em posições melhores, vivem muito a angústia dos exames... essa não é a nossa prioridade.”

Ajuda aos bons resultados que metade dos pais dos alunos tenha formação superior, que venha de meios sócio-económicos mais favorecidos, reconhece a directora. Mas lembra que também lida com crianças de meios mais humildes — meninos que descobrem o seu talento para a música nas bandas filarmónicas das suas terras, que fazem os testes para o conservatório e entram, mas trazem uma formação de base mais frágil. “Para esses, tem de haver reforço de apoio, seja nas disciplinas [de formação geral], seja na formação musical. Alguns não sabem, por exemplo, ler partituras, apesar de saberem tocar um instrumento muito bem. Esses meninos têm médias de exames um pouco mais baixas, que também fazem baixar a média da escola”, diz. “Mas acabam por conseguir.”

Privados brilham
Num ano em que os alunos se saíram, em geral, melhor nos exames do 6.º ano do ensino básico, são poucas as escolas do país que não chegam à média positiva: apenas 10% das públicas e não mais do que duas escolas privadas. Mas, tal como nos anos anteriores, nenhum estabelecimento estatal alcança o “top 5” do ranking.

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Encabeçam a lista o Colégio Nossa Senhora do Rosário e o Grande Colégio Universal, ambos no Porto, a Academia de Música de Santa Cecília, em Lisboa, o Colégio dos Plátanos, em Sintra, e o Colégio de Nossa Senhora da Conceição, em Guimarães.

Todos estes estabelecimentos têm uma média global de exames (a Português e a Matemática) de 4,24 valores ou mais — bem acima da média nacional, de 2,95. Uma nota: o Nossa Senhora Rosário, no Porto, distingue-se em todos os anos de escolaridade onde há exames: está em 1.º no ranking do secundário, com a melhor média do país; tem a 10.ª melhor média no 9.º ano; no 6.º volta a ter a melhor média de todas e no 4.º ano está em 31.º.

No fim da tabela do 6.º, com as cinco piores médias do país, há duas repetentes: a Escola Básica de Apelação, em Loures, e a Escola Básica Pintor Almada Negreiros, em Lisboa, já estavam no ano passado entre as cinco que tinham piores médias (este ano não conseguiram ir além dos 1,89 e 1,91, respectivamente).

As outras três das “cinco menos” são a Básica do Miradouro de Alfazina, Monte da Caparica, Almada (1,83), a Básica Integrada de Água de Pau, em Lagoa, Açores (1,92) e a Básica de Alcabideche, Cascais (1,9).

Como se fazem os rankings do PÚBLICO?

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