Já votaram quase dois milhões de pessoas

Taxa de participação está dentro do habitual noutras eleições legislativas.

Foto
Nelson Garrido

Não é fácil estabelecer uma relação directa entre as taxas de participação eleitoral e as de abstenção apuradas depois do fecho das urnas. Neste período de 13 anos, a taxa mais baixa de votação a esta hora (de 18,7%) registou-se em 2002, num dia em que votaram 62,34% dos inscritos; e às 12h de 5 de Junho de 2011 já tinham votado, ao meio-dia, 20,1% dos inscritos, o que não impediu que nesse dia se batessem todos os recordes de abstenção em legislativas, com uma taxa de 41,9%.

Apesar de alguns politólogos, como o investigador José Adelino Maltês, frisarem que neste aspecto os portugueses não se distinguem da generalidade dos europeus, a preocupação com a abstenção, em Portugal, é uma constante. Desta vez não houve excepção.

Foto

Neste sábado, os apelos para que os portugueses fossem às urnas, apesar das previsão de chuva e dos jogos de futebol, marcaram o discurso do Presidente da República, Cavaco Silva“Entre afazeres profissionais, compromissos familiares, assistir a jogos de futebol ou outras actividades desportivas e de lazer, não deixem de incluir a deslocação à secção de voto, entre as 8h da manhã e as sete da tarde”, pediu.

É a primeira vez, em 40 anos de democracia, que há jogos da I Liga marcados para o dia das eleições legislativas, como fez notar no início de Setembro o porta-voz da Comissão Nacional de Eleições, João Almeida, que considerou a mistura “pouco sensata”. “Haverá algumas centenas de pessoas que porventura já estariam pouco motivadas para irem votar e agora vão preferir acompanhar a sua equipa”, previu.

Quanto aos jogos, a situação é a seguinte: durante o período de abertura das urnas disputam-se três jogos. O da União da Madeira com o Benfica está marcado para as 16h, o que opõe o Braga ao Arouca para as 18h, e confronto entre o Porto e o Belenenses começa pouco mais tarde, às 18h15. O jogo entre o Sporting e o Vitória de Guimarães realiza-se às 20h30.

Mas a somar ao futebol e à chuva há o factor “emigração”, como têm lembrado alguns partidos políticos e comentadores. De acordo com o Instituto Nacional de Estatística, e contando já com a estimativa de 134.624 pessoas em 2014, o total de cidadãos que saíram de Portugal desde 2011 anda perto de 500 mil. Juntando os que saíram por menos de um ano (e que entretanto possam ter regressado) ou os que partiram de forma permanente, o total é de 485.128 pessoas.  

Muitas das pessoas que emigraram encontraram dificuldades em votar devido a problemas de recenseamento, ao facto de serem poucos e de dimensão reduzida os órgãos permanentes da administração eleitoral com funções dirigidas aos eleitores no estrangeiro e, até, à circunstância de o Ministério da Administração se ter esquecido de colocar “Portugal” no destino dos envelopes disponibilizados para o envio dos votos por correspondência, o que pode fazer com que eles não cheguem a Portugal.

Os dados relativos à abstenção em eleições legislativas disponíveis no sítio da Pordata mostram que tem havido algumas oscilações, mas a tendência é para o crescimento, independentemente deste tipo de circunstâncias. Logo de 1975 para 1976 a taxa de abstenção saltou dos 8,5% para os 16,7%. Baixou nos dois actos eleitorais seguintes, mas a partir de 1983 (em que a taxa foi de 22,3%) o aumento foi quase contínuo. A excepção ocorreu em 2002, em que se verificou uma descida não significativa, de 39,0% para 38,4%, que coincidiu com a realização de eleições antecipadas, pela demissão do primeiro-ministro socialista António Guterres. Depois, foi sempre a subir, até aos quase 42% em 2011.

Sugerir correcção
Comentar