Governo apadrinha novos centros de investigação para “resgatar” a ciência no interior
Intenção de criar uma estrutura com perfil internacional em cada uma das universidades do interior é formalizada esta sexta-feira, na Covilhã. Estratégia consta do programa eleitoral da Coligação PSD-CDS.
Esta estratégia corresponde a uma nova orientação em matéria de ciência por parte do Governo – que apadrinha a iniciativa com a presença dos ministros da Educação e Ciência, Nuno Crato, e do Desenvolvimento Regional, Miguel Poiares Maduro. A ideia consta mesmo do programa eleitoral da coligação Portugal à Frente, onde se defende que a forma de reduzir as assimetrias regionais é o estabelecimento “de um programa para a criação de Centros de I&D&I [investigação, desenvolvimento e inovação] de excelência nas regiões do interior de baixa densidade populacional, alinhados com a RIS3 [Estratégia Regional de Especialização Inteligente] da respectiva região, com forte ligação ao tecido empresarial”.
Cada instituição de ensino superior assina um memorando com a respectiva Comissão de Coordenação e Desenvolvimento Regional (Norte, Centro e Alentejo), com as quais foi também definida a selecção das áreas de acção destas estruturas. Assim, a UTAD vai especializa-se na vinha e no vinho, capitalizando o facto de estar sediada no Douro. A UBI vai criar um centro de competências em computação em nuvem e saúde, dando seguimento a uma colaboração já existente com o Centro de Processamento de Dados (datacenter) da Covilhã. No caso da UE, foram definidos os sectores da agricultura, água e energia como prioritários, beneficiando da relação com a barragem do Alqueva.
“O que há de novo aqui é que estamos a dar um investimento inicial muito forte para criar massa crítica onde ela não existe”, valoriza o ministro-adjunto e do Desenvolvimento Regional, Miguel Poiares Maduro. Os três centros têm financiamento garantido, no âmbito do Portugal 2020, para um período que pode ir até seis anos. Numa primeira fase, cada estrutura recebe um financiamento de 150 mil euros. Até 15 de Setembro, cada universidade (em articulação com as CCDR e a Fundação para a Ciência e Tecnologia) deverá indicar um grupo de três especialistas internacionais, que serão responsáveis por delinear as respectivas estratégias e seleccionar o quadro de investigadores e o director de cada centro, que se pretende seja um investigador reconhecido na área.
A partir daí, cada centro poderá captar fundos comunitários através dos programas operacionais regionais, mediante convites que serão endereçados por cada CCDR. Os orçamentos previstos por cada uma destas estruturas variam entre os 1,5 e dois milhões de euros anuais. “A intenção é que, no final deste período, os centros passem a conseguir financiar-se competitivamente em concursos e projectos internacionais”, explica Poiares Maduro.
O lançamento desta nova estratégia para a ciência surge depois de um ano marcado pelas críticas ao desinvestimento do Governo no sector, sobretudo a partir da primeira fase da avaliação dos centros de investigação pela Fundação para a Ciência e Tecnologia (FCT). Este processo excluiu cerca de metade dos laboratórios científicos e atingiu com especial severidade as estruturas do interior do país. Um caso paradigmático é o de Évora. A avaliação da FCT classificou com “Bom” (o que implicava um financiamento mínimo) o Instituto de Ciências Agrárias e Ambientais Mediterrânicas e a área agro-alimentar é agora escolhida como central para o novo centro de excelência.
A reitora da UE, Ana Costa Freitas, recusa, porém, que este seja um mecanismo de “compensação” das instituições do interior. “A lógica aqui é diferente. Esta parece-me, sim, a primeira medida real para reestruturação da rede de ensino superior. Reconhece-se que estas universidades são fundamentais para o desenvolvimento regional e do país e para isso tem de ser reconhecida internacionalmente”, valoriza.
Fontainhas Fernandes, reitor da UTAD, também recusa a ideia de “compensação”, ainda que defenda que a lógica seguida pelo Governo nesta iniciativa serve como contraponto ao principal erro da avaliação da FCT: “Agora é finalmente tida em conta a realidade específica destas universidades. A análise do sistema científico não pode ser feita apenas com base rácios de investigadores e indicadores de artigos.”