Falta transparência, sobram suspeitas
Os 17 anos que Blatter leva na presidência da FIFA foram férteis em casos polémicos e geraram muitas suspeitas.
Foi um início conturbado, a dar o mote para o que se seguiria. Com Blatter, a FIFA esteve sempre imersa em casos pouco claros. A agência AFP seleccionou “os principais escândalos” dos 17 anos de presidência, começando pelos casos Mastercard e ISL: no final de 2006, o então director de marketing da FIFA, Jérôme Valcke, foi destituído por negociar um contrato com a Visa, violando um acordo que dava preferência à Mastercard. A FIFA seria multada, mas seis meses mais tarde Valcke estava de regresso – foi nomeado secretário-geral do organismo que tutela o futebol mundial, cargo que ainda ocupa. O caso ISL, que era a sociedade através da qual a FIFA geria os direitos de transmissão e marketing do Campeonato do Mundo até à sua falência, em 2001, está relacionado com subornos que teriam sido pagos a Havelange e Ricardo Teixeira, então presidente da federação brasileira, na negociação de contratos exclusivos de direitos televisivos. Mas o caso seria encerrado devido a lacunas na legislação e todos foram ilibados.
Dessa vez não aconteceu, mas em 2012 rolaram mesmo cabeças. No caso, a de Mohamed Bin Hammam, que era líder da confederação asiática e pretendia concorrer contra Blatter nas eleições de 2011. O empresário do Qatar seria alvo de um procedimento da comissão de ética da FIFA, assim como o presidente da confederação da América do Norte, Central e Caraíbas, Jack Warner, e ambos foram suspensos. Bin Hammam retirar-se-ia da corrida presidencial e seria depois irradiado de actividades relacionadas com o futebol. Já Warner optou por demitir-se à luz das acusações de utilização da sua posição para obter lucros pessoais.
Mas o caso mais emblemático do reinado de Blatter na FIFA é o processo de atribuição dos Mundiais 2018 e 2022 à Rússia e Qatar, respectivamente, em Novembro de 2010. A decisão foi controversa e as acusações de compra de votos não se fizeram esperar. Dois elementos do comité executivo da FIFA, o taitiano Reynald Temarii e o nigeriano Amos Adamu, seriam suspensos por violar o código de ética por suspeitas de corrupção.
O processo de atribuição dos mundiais levou à abertura de um inquérito pela comissão de ética da FIFA, liderado pelo ex-procurador de Nova Iorque, Michael Garcia. Este responsável pugnaria pela publicação integral do relatório produzido pela comissão, mas sem sucesso – e acabaria por demitir-se em Dezembro de 2014, em protesto, denunciando pressões disciplinares de Blatter e de responsáveis do comité executivo da FIFA pelo apelo público à publicação integral do relatório. Blatter diria dias depois que o relatório Garcia seria publicado no futuro, mas “de uma forma apropriada”.
A acção ontem levada a cabo pelas autoridades suíças esteve, em parte, relacionada com este caso: o Ministério Público suíço apreendeu documentos electrónicos na sede da FIFA no enquadramento de suspeitas de “branqueamento de capitais e gestão danosa”.
O mais recente capítulo da odisseia Blatter na FIFA escreveu-se nos EUA, com o Departamento de Justiça a entrar em cena, com acusações para 14 actuais ou antigos dirigentes da FIFA, dos quais sete foram detidos em Zurique (onde se encontravam para participar no congresso e eleições do organismo que tutela o futebol mundial) pela polícia suíça. Segundo as autoridades helvéticas, estes sete elementos são suspeitos de terem vindo a receber subornos desde a década 1990, relacionados com atribuição de mundiais, direitos de marketing e televisão, mas também fraude electrónica, extorsão e lavagem de dinheiro.