Prioridade de Sarkozy com Os Republicanos é discutir o islão
Barões do partido de centro-direita francês põem em causa estratégia do líder.
“É uma má ideia dizer que o tema mais importante para este partido é o islão e a República”, afirmou Nathalie Kosciusko-Morizet, uma das duas vice-presidentes da ainda UMP, numa entrevista à televisão BFM. “A religião ocupa espaço a mais no debate público. Há demasiada tendência para ligar a nossa identidade à questão religiosa”, alertou.
A 28 e 29 de Maio, os militantes do maior partido de centro-direita francês, a UMP, vão expressar a sua opinião sobre o novo nome do partido escolhido por Sarkozy. Espera-se que seja aprovado e, no dia 30, realiza-se um congresso de refundação do partido, já chamado Os Republicanos. Está marcada para 4 de Junho a jornada de reflexão sobre o islão, anunciada para um dia diferente do do congresso, para “não poluir” os debates.
Sarkozy encarregou dois deputados, entre os quais Henri Guaino, o homem que lhe escrevia os discursos quando ocupava o Palácio do Eliseu, de preparar a lista de temas e de pessoas a prestar testemunho. Devem comparecer deputados e autarcas, e membros do Conselho Francês do Culto Muçulmano e da União das Organizações Islâmicas de França. Mas o debate, que abordará necessariamente a imigração e a religião, deve realizar-se a portas fechadas, diz o Le Monde. As conclusões e propostas concretas serão enviadas à comissão política do partido.
No entanto, esta preocupação com o islão, assumida como prioritária pela liderança de Sarkozy – que aspira a candidatar-se de novo à presidência da República em 2017 –, não faz a unanimidade no partido Os Republicanos. Nathalie Kosciusko-Morizet, que não põe de parte a hipótese de se apresentar às primárias do partido no próximo ano, preferiria ver um ataque frontal aos problemas económicos: “A questão das identidades é importante, mas os temas económicos, a possibilidade de singrar na vida, de encontrar um emprego, alimentar a sua família, também são importantes.”
E Alain Juppé, o potencial adversário mais forte de Sarkozy, mostra-se conciliador enquanto o ex-Presidente da República aposta na clivagem. Não está contra a jornada de reflexão de 4 de Junho, “pois hoje em dia não há problemas com os católicos, nem com os judeus, e pode haver com os muçulmanos”, disse numa visita a Estrasburgo. “Mas a religião muçulmana tem o seu lugar num contexto de laicidade”, apressou-se a dizer.
Enquanto Sarkozy se diz disposto a abandonar o conceito de integração de várias religiões, e culturas, na sociedade francesa, Juppé diz-se contra isto: “Sou contra a assimilação que pretenda tornar-nos todos iguais, pois todos somos diferentes. Negar essas diferenças é absurdo. É preciso respeitá-las. São compatíveis com a República se partilharmos valores comuns”. O debate no centro-direita francês promete continuar muito animado.