O desemprego que veio para ficar
Para milhares de portugueses a recuperação da economia não quer dizer absolutamente nada.
“Em sua opinião, nos próximos 12 meses, o desemprego no país, irá: 1. Aumentar muito; 2. Aumentar um pouco; 3. Ficar na mesma; 4. Diminuir pouco; 5. Diminuir muito; 6. Não sabe.” Muitos portugueses a quem foi feita esta pergunta nas últimas semanas mostraram-se bastante optimistas e optaram pela opção 5. Esta é uma das perguntas que o Instituto Nacional de Estatística (INE) faz mensalmente para construir o índice de confiança dos consumidores. E a confiança voltou a subir em Março, sobretudo porque as famílias estão bastante mais optimistas em relação à evolução da variável desemprego.
As estatísticas do INE mostram que os consumidores estão mais optimistas em relação à situação económica do país, do seu próprio agregado familiar, projectando ainda um aumento do consumo, nomeadamente de bens duradouros. E, como tal, é natural que essas mesmas famílias projectem para o futuro uma quebra do desemprego, uma evolução, aliás, normal para uma economia que está em recuperação, ou seja, se a economia está a crescer, o desemprego deveria estar a cair. No entanto, os números do próprio INE contrariam esta tese ou esta percepção.
Depois de vários meses em queda, o desemprego parou de cair na recta final do ano passado e nos primeiros meses de 2015 mostra inclusive uma tendência de subida, tendo a taxa de Fevereiro aumentado para 14,1%. A estabilização que se assiste na taxa de desemprego em valores acima dos dois dígitos é preocupante numa altura em que a economia começa a dar sinais de alguma retoma. Muito provavelmente será a constatação daquilo que instituições como a OCDE e o Banco de Portugal têm antecipando, ou seja, a subida em flecha do desemprego estrutural em Portugal.
O desemprego estrutural é aquele que vai ficar, mesmo depois da inversão do ciclo económico. Um fenómeno que provavelmente levará muitos anos a debelar. São pessoas que estão sem trabalho e não têm perspectiva de regressar ao mercado. Têm qualificações (normalmente baixas) que já não são procuradas pelas empresas, estão em concorrência com jovens 20 anos mais novos e, como explicava esta segunda-feira o presidente do IEFP em entrevista ao PÚBLICO, é bastante moroso o processo de reconversão profissional de quem tem 40 e muitos ou 50 anos e está arredado do mercado.
Provavelmente a antecipar estes números, o primeiro-ministro, em meados deste mês, alertava em Valongo para o caso de pessoas, sobretudo da área da construção civil e das obras públicas, “que continuarão a não ter oportunidades de emprego”. Não basta lamentar. E não se trata de um problema deste ou daquele governo. Seja através de uma reconversão profissional mais agressiva, seja através de uma reafectação de verbas comunitárias, ou de um maior apoio ao auto-emprego ou ao acesso de soluções de microcrédito, este é um problema que tem de ser enfrentado de frente. Não é justo que para mais de 10% da população activa a recuperação da economia seja apenas um número que não quer dizer absolutamente nada.