Terapia pode ser tão eficaz como os medicamentos na disfunção eréctil
Estudo do SexLab da Universidade do Porto comparou os medicamentos com as terapias cognitivo-comportamentais. Quando não há uma causa orgânica para a disfunção, os resultados foram semelhantes.
“É a primeira vez que se faz um estudo onde se compara directamente a eficácia de uma psicoterapia, neste caso a terapia cognitivo-comportamental, com a eficácia da medicação no tratamento da disfunção eréctil. É um trabalho arriscado porque sabemos que a medicação é obviamente muito eficaz no tratamento do sintoma, mas sabemos também que a eficácia da medicação tende a perder-se com o tempo”, resumiu ao PÚBLICO Pedro Nobre, coordenador do estudo recentemente apresentado no congresso da European Society for Sexual Medicine.
O programa de tratamento teve uma duração de 12 semanas, com os participantes a serem divididos em dois grupos. Um deles teve acesso apenas a medicação diária e o outro a sessões em grupo ou de casal com carácter semanal (tudo gratuito).
Pedro Nobre, também director do SexLab, reforça que as conclusões de resultados semelhantes entre terapia e medicação tiveram como base homens em que a disfunção é de “etiologia psicológica” e que “esta é uma parte importante mas que está longe de ser o todo da disfunção eréctil”. De fora ficaram os casos com razões orgânicas ou com outras doenças que pudessem condicionar os resultados. Além disso, o investigador ressalva que as conclusões ainda são apenas preliminares, visto que só contam com uma amostra parcial de 15 homens, nove dos quais foram sujeitos a terapia e seis ao tratamento farmacológico mais comum, com os chamados inibidores da PDE-5, que ajudam a irrigar o pénis.
Segundo as estimativas da Sociedade Portuguesa de Andrologia, a disfunção eréctil afecta 13% dos homens em Portugal, o que corresponde a cerca de 500 mil pessoas, sobretudo com mais de 40 anos. Os portugueses estão ainda assim entre os homens com menor taxa de utilização de fármacos para este problema, apontou um estudo internacional feito em 2012 pela agência de estudos de mercado SKIM Healthcare, com patrocínio da farmacêutica Lilly. Além disso, a dificuldade em pedir ajuda a profissionais continua a persistir. República Checa (19%), Reino Unido (18%), Portugal (12%) e Coreia do Sul (9%) foram os países onde os participantes revelaram uma menor probabilidade de abordar a disfunção eréctil com os profissionais de saúde. Do lado oposto surge o México, com 38%, os Estados Unidos com 32% e o Canadá com 31%.
Procuram-se voluntários no Porto
De momento, ao todo já há 23 homens recrutados para o estudo da Universidade do Porto, mas o SexLab gostaria de chegar aos 90 com este projecto que recebeu um financiamento de mais de 79 mil euros da Fundação para a Ciência e a Tecnologia. Para isso, procura interessados na zona do Porto (sexlab.fcceup@gmail.com), que tenham entre 18 e 50 anos, com dificuldades de erecção sem causa médica associada e numa relação heterossexual há pelo menos seis meses. De futuro, a ideia é alargar o estudo para outras orientações sexuais.
“O mais importante nos resultados foi que, mesmo com uma amostra pequena, os efeitos foram estatisticamente significativos quer na medicação, o que já se esperava, quer na psicoterapia cognitivo-comportamental”, sublinhou Pedro Nobre. O coordenador do projecto acrescentou que a medicação foi tomada diariamente nas 12 semanas do estudo para evitar diferenças entre os participantes uma vez que os homens só costumam tomar a medicação quando têm a perspectiva de que vão ter actividade sexual. Todos os participantes tinham uma disfunção moderada a severa e, no final, quase todos passaram para uma fase em que já não teriam sequer condições reunidas para o diagnóstico.
O director do SexLab explicou que, apesar dos resultados semelhantes entre terapia e medicamentos, a grande vantagem está nos efeitos a longo prazo da primeira. A terapia procurou, através de sessões em grupo dos homens com disfunção eréctil e de sessões só com o casal, trabalhar mitos. “O grande objectivo das terapias é sobretudo mudar a forma como nós interpretamos os acontecimentos, sobretudo os acontecimentos negativos, e mudar a forma como as pessoas vivem e pensam a sua sexualidade e a sexualidade em geral", disse Pedro Nobre. "Uma das áreas que se trabalha é a das crenças e dos mitos, porque os homens com disfunção eréctil têm ideias sobre a sexualidade que são muito inflexíveis, rígidas e irrealistas e que colocam muita pressão sobre si próprios."
O investigador afirmou ainda que a técnica é usada desde a década de 1950/1960 para tratar outros casos como depressão, comportamentos aditivos ou distúrbios alimentares. No caso específico das sessões em casal são dados exercícios que os dois podem fazer entre sessões e que visam alterar rotinas e dinâmicas. As entrevistas e inquéritos feitos no âmbito do estudo permitiram apurar que não foi só a erecção que melhorou, mas também o desejo, a satisfação e o funcionamento sexuais dos homens participantes. “Neste processo de reestruturação cognitiva as pessoas começam a questionar a sua forma de pensar e a perceber que para se ser sexualmente feliz não é necessário estar sempre pronto ou ter uma erecção completa”, reforçou Pedro Nobre.