Portugal em quadradinhos

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Azulejo de arestas Viúva Lamego
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Azulejo Moçarabe Viúva Lamego
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Azulejo Moçarabe vidrado branco Viúva Lamego
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"Landscape Rock" dos designers do Pedrita Studio, para o Rock in Rio, Lisboa. Os azulejos aplicados são da Cortiço & Netos
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Azulejo tradicional (14x14cm) escolhido para projecto de Siza Vieira no Pavilhão de Portugal, na Expo
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Pavilhão de Portugal, na Expo, projecto de Siza Vieira com azulejo tradicional, cor Verde Expo (14x14cm)
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Azulejo Viúva Lamego
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"Turbilhão", a intervenção das arquitectas Catarina e Rita Almada Negreiros no Interface Sul-Sudeste do Terreiro do Paço, Lisboa
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Na loja da Cortiço & Netos há algumas das mais de 900 variedades de azulejo
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Em 30 m2, a Cortiço & Netos reúne exemplares descontinuados das linhas industriais portuguesas desde os anos 60
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o espólio da loja Cortiço & Netos, na Mouraria, é fruto da recolha que o seu fundador, Joaquim José Cortiço , fez entre 1979 e 2013
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Cortiço & Netos
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Azulejo é palavra que entra no vocabulário de qualquer roteiro turístico do nosso país e é visto como uma das mais originais produções portuguesas. Está connosco há seis séculos e, apesar de breves períodos de aparente ausência, promete continuar. Embora a palavra azulejo pareça uma associação à pintura azul cobalto, a origem do termo está no árabe, azzelij, que significa pequena pedra polida, usado para designar o mosaico bizantino. O azulejo é constituído por duas partes; pela sua massa de barro que lhe dá a forma, geralmente quadrada, e a superfície vidrada que lhe dá cor e brilho.

À excepção de casos experimentais, a produção nacional só se iniciou a partir de finais do século XVI, altura em que ceramistas flamengos se fixam em Lisboa, trazendo consigo a técnica da faiança herdada dos italianos, conhecida como a Majólica. Foi esta técnica que permitiu a pintura sobre uma superfície branca esmaltada. Até então, as técnicas utilizadas nos azulejos (todos importados de Espanha) condicionavam os desenhos a processos de evitar a fusão das cores durante a aplicação e, sobretudo, a cozedura. A aplicação de esmaltes coloridos directamente sobre a chacota (primeira das duas cozeduras da peça, ainda sem o vidrado) obrigava a criar barreiras para separar as manchas de cor, utilizando-se as técnicas da corda-seca (abertura de sulcos na peça, preenchidos por uma linha de matéria gorda) e a de aresta (pequenos muros de contenção que se erguem pela pressão de um molde). A técnica da Majólica usa o revestimento a esmalte branco para receber e fixar as manchas de cor, e veio possibilitar a liberdade dos motivos pintados sobre uma superfície lisa.

O azulejo, desde sempre associado à arquitectura, como revestimento, exerceu um papel transformador do carácter fechado dos espaços interiores, desmaterializando superfícies e remontando geometricamente o espaço pelo efeito das linhas oblíquas dos padrões abstractos. Nas composições figurativas conseguiu dilatar o campo visual pela introdução da perspectiva. Harmonizou fachadas, em que as cercaduras e a repetição de módulos fazem parte do todo da composição. Em termos funcionais, são evidentes as suas propriedades como revestimento isolante, de fácil limpeza e manutenção. Acresce ainda o facto de se ter substituído o barro vermelho pelo branco, contribuindo para uma maior resistência dada pelo enriquecimento em calcário. Mas é a cintilação do seu vidrado, que permite os jogos de reflexos e imprime as variantes de luminosidade às fachadas, que fazem do azulejo um material único, especialmente aquele que é produzido por técnicas próximas das de fabrico artesanal, em que as irregularidades e a translucidez acentuam o seu efeito plástico.

É o caso dos azulejos da fábrica Viúva Lamego. O arquiteto Álvaro Siza Vieira usou-os numa das fachadas exteriores do Pavilhão de Portugal (Expo, Lisboa), e conseguiu um efeito em termos cromáticos e de brilho muito próximos dos da água do rio Trancão, ali ao lado. Outra proximidade temática com a água é dada pelas irmãs arquitectas Catarina e Rita Almada Negreiros no interior do Interface Sul Sudeste do Terreiro do Paço, em Lisboa; o tecto é ladrilhado seguindo a reprodução por pixéis (cada azulejo corresponde a uma unidade de imagem) de desenhos de ondas concêntricas, tornando-se num espelho de água invertido.

Há uma pequena loja na Mouraria que não é mais do que um mostruário do azulejo português industrial, ou até é bem mais do que isso. Em apenas 30 m2 a Cortiço & Netos expõe, de um modo verdadeiramente assumido, algumas das mais de 900 variedades de azulejo que Joaquim José Cortiço (o fundador desta empresa) conseguiu recolher desde 1979 até 2013 e que os seus netos agora se encarregaram de divulgar. A colecção reúne exemplares descontinuados das linhas industriais portuguesas desde os anos 60. E aqui, o azulejo que outrora horrorizava as nossas paisagens nas moradias de emigrantes, mostra-se vibrante e ganha estatuto de peça histórica. Algum deste espólio serviu já de matéria-prima para a intervenção “Landscape Rock”; um muro forrado pelos designers do Pedrita Studio no Rock in Rio, Lisboa.

O azulejo português destaca-se mundialmente pelo maior desenvolvimento que teve ao nível formal e funcional, traduzindo sempre a evolução dos séculos e fazendo, por isso, parte da nossa história.

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