Saúde e Educação sobreviveram à troika, mas em 2012 já apresentavam quebras
Índice de Bem-Estar para Portugal mostra que as famílias portuguesas estão muito mais vulneráveis economicamente e menos satisfeitas com a vida.
O Índice de Bem-Estar (IBE) para Portugal, que o Instituto Nacional de Estatística divulga nesta terça-feira pelo segundo ano consecutivo, mostra uma evolução claramente negativa das condições materiais de vida dos portugueses para os 85,4 – na comparação com o ano-base de 2004 com o índice 100.
No período compreendido entre 2008 e 2013, aquele índice sofreu uma desvalorização de 13,1 pontos percentuais, numa redução que “reflecte o baixo crescimento da economia no período pré-crise e é particularmente sensível aos efeitos do aprofundamento da crise económica”.
Na comparação com o ano base, que é igual a 100, os portugueses viram o índice relativo à vulnerabilidade económica baixar para os 81,1 em 2012. E os dados preliminares de 2013 apontam para nova quebra para os 78,8, ou seja, menos 21,2 pontos percentuais desde o “ano 100”, ou seja, 2004. Este foi, de resto, um dos domínios do IBE que apresentou a evolução mais desfavorável. E o que é que se esconde por detrás? “Uma progressiva vulnerabilidade das famílias fortemente induzida pelo afastamento das mesmas do mercado de trabalho, pelos elevados níveis de endividamento e pela intensificação da dificuldade em pagar os compromissos assumidos com a habitação”.
Efectivamente, o domínio trabalho e remuneração agravou-se 33,2 pontos percentuais entre 2004 e 2013, em relação directa com o aumento do desemprego, sobretudo a partir de 2009. Mas o medo de perder o emprego também pesa aqui. Assim como a disparidade salarial entre homens e mulheres, que se agravou em 14,3 pontos percentuais em 2012.
Numa análise global aos recursos económicos das famílias, o INE constata que o rendimento disponível mediano por adulto cresceu 10% entre 2004 e 2009, “mas esses ganhos foram perdidos na totalidade entre 2010 e 2012, ano em que índice se situou em 95,7”.
Saúde e Educação ainda com melhorias
Em sentido contrário, o índice relativo à qualidade de vida tem vindo a melhorar, embora tenha desacelerado em 2011. Explicação? A Saúde, por exemplo, por causa de conquistas como a quebra acentuada da taxa de mortalidade por doenças do aparelho circulatório e da taxa de mortalidade infantil. Assim, a proporção da população que avalia positivamente os serviços de saúde evoluiu de 14% em 2004 para 30,6% em 2011, com uma ligeira quebra em 2012 para os 27,6%.
A conciliação vida-trabalho foi outro dos indicadores a registar melhorias que a troika tratou de desacelerar. Até 2007, a tarefa de conciliar o trabalho com as responsabilidades familiares evoluiu positivamente até 48%, tendo decrescido a partir de então. A componente do bem-estar com melhor desempenho é, porém, a Educação, que registou uma evolução positiva em 60%. Aumentaram os pedidos de registo de patentes, as publicações científicas, os doutoramentos, a proporção de pessoas com ensino superior. Os dados preliminares relativos a 2013, contudo, revelam já uma redução dessa variação para os 58,4 pontos percentuais. Trata-se do primeiro agravamento destes índice no período 2004-2013 e que não reflecte ainda eventuais consequências ditadas pelos recentes atrasos na colocação dos professores ou pelos cortes anunciados às bolsas da Fundção para a Ciência e Tecnologia.
No tocante às relações sociais e ao bem-estar subjectivo, poder-se-ia concluir que os portugueses estão de mal com a vida. Aumentou o descontentamento face à frequência de relacionamentos com familiares, amigos ou colegas de trabalho (-3,7%) e o relativo à proporção de pessoas que têm com quem partilhar questões íntimas (-0,7%). O grau de felicidade e o grau de satisfação com a vida também diminuíram, acompanhando a trajectória igualmente descendente do índice de confiança interpessoal.