Israel, a Palestina e a ousadia sueca
Estado ou não-Estado, a Palestina enfrenta os mesmos demónios de sempre, os seus e os alheios.
A 29 de Novembro de 2012, quando a Palestina conseguiu nas Nações Unidas, por via do voto, um estatuto idêntico ao que até aí só fora atribuído ao Vaticano, o de “Estado observador”, o secretário-geral da ONU, Ban Ki-moon, fez difundir oficiosamente estas palavras: “Acredito que os palestinianos têm o legítimo direito a terem um Estado independente. Acredito que Israel tem o direito a viver em paz e segurança com os seus vizinhos. Não há alternativa às negociações, para atingir estes fins.” A estas palavras de inegável boa vontade, gastas de tanto repetidas, tem a realidade respondido com um reacender permanente do conflito israelo-palestiniano. Ou seja: nas bocas a paz, nas ruas o ódio. Esta eternização do que muitos (não todos) têm querido resolver ao longo de décadas, sem sucesso e com previsíveis revezes, não tem saída fácil. Ideia que Avigdor Lieberman, ministro dos Negócios Estrangeiros de Israel, veio realçar, agora que a Suécia – num passo inédito na União Europeia – reconheceu o Estado da Palestina como “independente”. Disse Lieberman, criticando a decisão sueca como “miserável”, que a Suécia devia entender que “as relações no Médio Oriente são mais complicadas do que a montagem dos móveis Ikea”. Esqueceu-se de dizer que o Ikea não deita fogo aos móveis que vende, nem deixa o medo afugentar os compradores. Israel e a Palestina, pelo contrário, vivem mergulhados numa permanente desconfiança que a curtos espaços explode em conflitos sangrentos. Claro que reconhecimentos por “simpatia” não resolvem o essencial. Mas não deixa de ser demonstrativo da hipocrisia geral que se reconheça o estatuto de “Estado observador” na ONU a algo a que não se reconhece o estatuto de Estado noutras instâncias. Será a Palestina um clube, uma agremiação, uma dependência? Um “Estado-em-construção”, como polidamente se diz? Ou um Estado em destruição contínua, por culpa própria e alheia, sem palavras brandas que o salvem?