Pterossauro do Brasil tinha crista que parecia a vela de um barco

Esqueletos de meia centena de répteis extintos, pertencentes a uma espécie nova para a ciência, foram descobertos no estado brasileiro do Paraná.

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O novo dinossauro representado em três fases distintas do crescimento Maurílio Oliveira/Museu Nacional da UFRJ
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Centenas de ossos do novo pterossauro: "cra" assinala os crânios e "man" as mandíbulas DR

Os novos pterossauros, que podiam atingir uma envergadura de asas de até 2,35 metros, habitavam nas margens de um lago existente num oásis numa grande região deserta durante o período do Cretácico. Viviam em colónias barulhentas com outros animais da mesma espécie, de todas as idades.

“Isto permitiu dar-nos um vislumbre da variação anatómica desta espécie, desde os jovens até aos velhos”, sublinha Alexander Kellner, paleontólogo do Museu Nacional da Universidade Federal do Rio de Janeiro e um dos autores da descoberta.

Muitos pterossauros, principalmente os que apareceram tardiamente, exibiam na cabeça cristas elaboradas e, por vezes, grandes. Ora a cabeça do Caiuajara dobruskii estava encimada por uma enorme crista triangular que parecia uma “vela óssea”, conta Alexander Kellner. “Tinha um aspecto bizarro.”

Não há nenhuma indicação de que a crista existisse apenas nos machos ou nas fêmeas, mas parece ter-se tornado ainda maior em relação ao resto do corpo à medida que o pterossauro crescia. “O tamanho da crista era pequena nos animais jovens e muito grande nos velhos”, acrescenta o paleontólogo brasileiro.

Os pterossauros foram os primeiros vertebrados voadores da Terra, uma vez que as aves e os morcegos só apareceram muito mais tarde. Surgiram há cerca de 220 milhões, na mesma altura dos dinossauros, e despareceram há 65 milhões de anos, quando um meteorito atingiu a Terra e extinguiu muitas formas de vida, incluindo também os dinossauros.

Num artigo científico publicado esta semana na revista PLOS ONE, assinado à cabeça por Paulo Manzig, da Universidade do Contestado, no estado de Santa Catarina, a equipa brasileira descreveu 47 esqueletos do Caiuajara dobruskii e disse que identificou outros dez esqueletos que não foram descritos neste trabalho. Os ossos foram encontrados nas redondezas do município do Cruzeiro do Oeste, no estado do Paraná.

O Caiuajara dobruskii, que viveu há cerca de 80 a 90 milhões de anos, não tinha dentes, alimentando-se provavelmente de frutas, explica Alexander Kellner. Os esqueletos dos juvenis indicam que estes animais podiam voar desde muito novos.

O conhecimento dos pterossauros é bastante fragmentado, uma vez que, sendo animais voadores, os seus ossos frágeis não fossilizavam bem. O número elevado de indivíduos de Caiuajara dobruskii agora descobertos no Brasil e a variedade de idades permitiram que este pterossauro seja o mais bem estudado até ao momento.

Em Junho, cientistas chineses tinham anunciado a descoberta de nada menos do que 40 indivíduos adultos de outra espécie de pterossauro também acabada de identificar, bem como de cinco ovos de pterossauro – o que é realmente muito raro – maravilhosamente preservados a três dimensões, e não espalmados como os quatro ovos isolados de pterossauros que até então se conheciam em todo o mundo.

No Cruzeiro do Oeste não se encontraram ovos de pterossauro. “Ainda não. Mas podemos sempre sonhar, não é?”, diz Alexander Kellner.

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