Histórias com fados para três noites de Verão, idealizadas por Aldina Duarte para os palcos do São Luiz

Camané e Ricardo Araújo Pereira, Celeste Rodrigues e Júlio Resende, Ricardo Ribeiro e Fábia Rebordão: um ciclo que começa nesta quinta-feira, 19 de Junho.

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Camané que estará em palco com Ricardo Araújo Pereira e Carlos Vaz Marques Nuno Ferreira Santos

O nome não é novo, mas foi reutilizado a preceito. Fados e Tudo foi o título de um lote de dez conversas de meia hora cada, que Aldina Duarte fez há dois anos com várias figuras do mundo das artes e que, gravadas em vídeo, fazem parte do arquivo do Museu do Fado. Lá estão Camané (o primeiro a ser entrevistado, como fadista “transversal”) mas também Rita Blanco, Olga Roriz, Pedro Mexia, ou Ana Sousa Dias, que foi a primeira pessoa a entrevistar Aldina e a quem esta quis “devolver” o feito. A conversa andava em torno de saber se gostavam ou não de fado e porquê mas estendia-se para lá disso, ia até à explicação do processo criativa de cada um dos entrevistados. Como as conversas foram um êxito no site do museu, Aldina imaginou nova vida para a ideia:

“Pensei: então e se eu tentasse pôr no palco duas ou três expressões artísticas diferentes para contarem a mesma história? A questão não era fundir, não queria nada disso, mas queria um espectáculo contínuo, que partisse sempre do fado mas fosse relacionar-se com outras expressões artísticas de modo a servir a mesma história e a mesma ideia”.

E pôs-se a arranjar histórias. Mas pensadas para determinadas pessoas. Bastava que uma delas não pudesse participar e a história teria logo que ser mudada, teria que ser diferente. “Personalizar, personalizar: e assim foi.” Mas criadas três histórias, ela achou que, sendo um ciclo (que supostamente poderá continuar em anos futuros), devia haver uma ligação entre todas. E conseguiu “fazer exactamente o que queria”. E o título Fados e Tudo, herdado das conversas gravadas, acabou por ser inteiramente justificado.

Humor Livre, quinta-feira na sala principal, às 21h, reúne em palco Camané, Ricardo Araújo Pereira e Carlos Vaz Marques. “O grande cunho do Camané é cantar a tristeza, o lado mais obscuro e lunar da vida e do ser humano. É a marca dele. Mas como é um artista tão genial, também tem no reportório pontos de luz muito fortes.” Por isso ela procurou recolher desse reportório um alinhamento “essencialmente irónico, sarcástico, brincalhão, alegre”, achando que seria “muito interessante assistir ao Camané a contar só esse lado da vida.” Sem que isso se tornasse “grotesco ou bizarro”. E um humorista que pudesse ter a profundidade que os fados têm? “Tinham que ser duas pessoas com uma grande inteligência artística e com talentos muito equivalentes, porque isto é o género de ideia que pode mesmo resvalar facilmente.” Escolheu, por isso, Ricardo Araújo Pereira. E, para conduzir a conversa, Carlos Vaz Marques. Se um deles não pudesse, Aldina achava que teria de mudar tudo. Mas estarão os três em palco.

Na sexta-feira o centro do espectáculo é Celeste Rodrigues. “É uma pessoa muito talentosa, tem um gosto de repertório intocável e uma longevidade extraordinária. Ela representa aquilo que eu chamo desde sempre a justiça fadista: qualquer bom fadista verá o seu trabalho vir à luz, mais cedo ou mais tarde. Isso aconteceu com todos. Com a Argentina Santos, por exemplo. E a Celeste, irmã de um génio como a Amália (com uma dimensão merecida, está fora de questão discutir isso), tinha que ver o talento dela vir à luz.” Na sala grande, às 21h, com ela presente (e participante) serão projectados dois filmes. “Quis criar uma sessão de cinema à antiga, com duas projecções”, diz Aldina. “Abre com o vídeo do Bruno de Almeida, feito para celebrar os 90 anos da Celeste Rodrigues, onde ela canta o Fado celeste com toda a nova geração a assistir. E depois o documentário Fado Celeste, do Diogo Varela Silva. No fim, subimos para o Jardim de Inverno para ouvir Amália por Júlio Resende, ao piano. É um bocadinho uma brincadeira: desta vez é Amália que está na sala do café-concerto. Achámos bonito.”

A última sessão deste ciclo, sábado, às 21h, na sala principal, chama-se Seus Amores Suas Paixões e une os fadistas Ricardo Ribeiro e Fábia Rebordão ao Lisboa String Trio, com Bernardo Couto (guitarra portuguesa), José Peixoto (viola) e Carlos Barretto (no contrabaixo). É uma história de separação, cantada em fados. “É um casal que vai ouvir um concerto e que percebe que a sua relação chegou ao fim, que não há mais caminho para fazerem juntos. E depois vão contar essa separação, alternadamente, cantando fados.” Fados escolhidos por Aldina Duarte, uns do repertório de ambos e outros não. “E consegui uma coisa extraordinária. A história encerra-se com ele a cantar um fadão que ele nunca quis cantar por pudor mas que eu sempre insisti para que cantasse: o Meu amor, meu amor, da Amália.” No desenrolar da história não há falas, só fados. “Para que não se perca o fio à meada, eles cantam cinco fados cada um, alternadamente.”

 

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