Islamistas do Boko Haram multiplicam ataques no Nordeste da Nigéria

Centenas de civis terão sido mortos nos últimos dias numa região que está cada vez mais à mercê dos rebeldes.

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Os rapazes mais novos também não terão sido poupados pelos homens do Boko Haram Afolabi Sotunde/Reuters

Responsáveis locais e habitantes relataram na quinta-feira que centenas de pessoas foram mortas, quando homens fortemente armados e com fardamento militar destruíram completamente as aldeias de Goshe, Attagara, Agapalwa e Aganjara, no estado de Borno (nordeste), em ataques realizados na noite de terça-feira.

Segundo os chefes locais, entre 400 e 500 pessoas foram mortas, mas as autoridades não confirmaram este balanço. A ser verdadeiro, trata-se de um dos ataques mais mortíferos desde o início da insurreição islamista em 2009, que nesse ano fez mais de 2000 mortos.

“Ninguém consegue chegar àquela zona, os rebeldes ainda lá estão. Eles tomaram o controlo de toda aquela região”, declarou à AFP Peter Biye, um deputado de Borno. “Há cadáveres por todo o lado e a população que sobreviveu fugiu.”

Quarta-feira à noite uma nova matança aconteceu na periferia de Maiduguri, a capital do estado de Borno: 45 mortos, segundo indicaram dois habitantes à AFP.

Os habitantes estavam reunidos em Barderi para ouvir homens que se faziam passar por pregadores itinerantes, figuras familiares no Norte da Nigéria maioritariamente muçulmano. Foi então que homens armados apareceram “vindos sabe-se lá de aonde” e dispararam contra a multidão, relatou Mallam Bunu, um sobrevivente que contou a dedo 45 mortos.

Outro sobrevivente, Kallamu Bukar, também descreveu homens “vestidos de pregadores” aos quais se juntaram homens armados que “também dispararam contra várias casas e lojas”.

O Boko Haram também é suspeito de ter disparado contra um posto militar e de incendiar uma igreja católica e um edifício governamental em Madagali (nordeste, estado de Adamawa). Uma testemunha deu conta de dois mortos.

“Centenas de cadáveres”

No distrito de Gwoza, onde se situam as quatro aldeias atacadas na terça-feira, a situação continuava grave esta sexta-feira. “Há centenas de cadáveres a céu aberto, porque ninguém pode lá ir para os enterrar”, declarou um chefe local que não se quis identificar. Segundo ele, “meninos pequeninos foram arrancados dos braços das mães e mortos”.

O distrito de Gwoza, situado ao longo da fronteira com os Camarões, fica perto da floresta de Sambisa, onde o Exército nigeriano concentra as suas buscas para tentar encontrar as mais de 200 raparigas que foram raptadas pelo Boko Haram no dia 14 de Abril.

Das aldeias agora destruídas, a maioria dos sobreviventes fugiu para os Camarões. O chefe local fala de uma “crise humanitária”, o que é confirmado por um outro responsável da zona, Zakari Habu: “As mulheres e as pessoas mais idosas da nossa aldeia precisam de água e comida, os feridos precisam de medicamentos e todos precisam de um tecto.”

“Vingança”

As cerca de 300 habitações da aldeia de Goshe, maioritariamente muçulmana, e as suas mesquitas foram arrasadas e “pelo menos cem pessoas morreram”, disse Abba Goni, um habitante que sobreviveu ao ataque.

Em Attagara, maioritariamente cristã, casas e igrejas foram incendiadas e dezenas de pessoas foram mortas, segundo Bulus Yashi, que testemunhou o ataque. Para ele, estes actos de violência são “uma vingança” dos islamistas, depois de os habitantes da sua aldeia terem morto elementos do Boko Haram, para travar as suas ofensivas nos últimos dias. Responsáveis da aldeia dizem ter pedido a protecção do Exército após um ataque ocorrido no domingo, mas nenhum soldado chegou a Attagara.

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